quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

PAULO TEIXEIRA E CAROLINA MANTILLA Pelo debate justo na questão do plástico, FSP (muito importante)

 Paulo Teixeira

Diretor-superintendente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico)

Carolina Mantilla

Diretora de sustentabilidade e reciclagem para plásticos da Dow (América Latina)

Dados corretos e informações fidedignas são pressupostos do debate legítimo de ideias, essencial em todas as sociedades. As conclusões e conceitos imprecisos expostos no artigo “Um tsunami de plásticos e a luz no fim do túnel”, publicado nesta Folha no última dia 4 de fevereiro, nos motivam a esclarecer alguns pontos e, assim, abrir canal para o espaço do diálogo.

O artigo citado se apoia no relatório “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização”, do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), que aponta o Brasil como o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo (11,3 milhões de toneladas), além de sublinhar que apenas 1,28% (145 mil toneladas) do total é reciclado no país.

Já na ocasião da publicação deste relatório, a Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) havia alertado sobre ausência de transparência e simplificações na metodologia, fundamentada em base de dados do Banco Mundial, especificamente do estudo “What a Waste 2.0”. Portanto, as conclusões de geração de lixo plástico e índice de reciclagem estão equivocadas.

Com base em dados do IBGE, incluídos no Perfil 2019 da Abiplast, a produção física de transformados plásticos foi de 7,6 milhões de toneladas no Brasil. Na questão da reciclagem, o mais recente estudo da consultoria MaxiQuim e do Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast), referente àquele ano, aponta que a reciclagem mecânica chegou a 24% do volume gerado de resíduo pós-consumo —um crescimento de 8,5% em comparação ao ano anterior.

Afora os números incorretos, o texto também apresenta conclusões questionáveis para um tema de alta complexidade. As leis de proibição do plástico descartável, por exemplo, são apontadas como um possível caminho. A reciclagem, diz o artigo, não é uma solução mágica, pois gera resíduos no processo de transformação, além de consumo de energia e de substâncias químicas.

Proibir o uso de plástico não impede a geração de resíduos, tampouco a redução, pois há uma substituição desses resíduos por outros materiais. A própria ONU Meio Ambiente sugere que o banimento está longe de ser a melhor solução para os plásticos de uso único, pois dificultam a conscientização sobre o descarte correto. Já o processo de reciclagem mantém em uso um produto que foi retirado da natureza, em sinergia com o conceito de economia circular.

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A economia circular, sim, é um caminho inevitável. Não somente para o plástico, não somente para o Brasil, mas para todo o modo de produção, em escala global. Conceitos como redesign, reutilização, remanufatura e reciclagem são alternativas indispensáveis para todo o sistema produtivo. Por isso, é fundamental que a economia circular seja construída por todos e em conjunto, com envolvimento de poder público, indústrias, empresas privadas, terceiro setor e consumidores.

Debater a questão do plástico envolve amplo diálogo, com construção coletiva e olhar sistêmico. Em vez de leis rígidas e visões individuais, discussões sérias e soluções compartilhadas, como aponta a própria Política Nacional de Resíduos Sólidos. No lugar de ideias definitivas, é preciso trilhar o caminho rumo à economia circular. Estamos abertos para construir juntos.


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