A Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo divulgou nesta quinta (25) nota com críticas à criação da Cátedra Otavio Frias Filho, anunciada pela Folha e pelo Instituto de Estudos Avançados da USP na última sexta (19), quando o jornal completou 100 anos de vida.
A cátedra tem como objetivo o desenvolvimento de estudos sobre jornalismo, democracia e diversidade e foi criada nos moldes de outras iniciativas do gênero. A associação dos professores descreveu-a como resultado de uma aproximação excessiva da universidade com o setor privado, e uma ameaça à autonomia da USP.
Em nota enviada à Folha, o diretor do IEA, Guilherme Ary Plonski, afirmou que o objetivo das cátedras do instituto é estudar temas complexos, "que necessitam de abordagens interdisciplinares e equipes de pesquisa com formações distintas e experiências variadas". O IEA tem atualmente cinco cátedras em operação.
"A Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade cria uma plataforma ideal para fomentar novas ideias acerca da convergência entre essas três questões, que moldarão o futuro da sociedade", disse.
"Da mesma forma que em outras cátedras, a orientação e as decisões estratégicas cabem ao comitê de governança compartilhada, que é presidido pelo diretor do Instituto", acrescentou.
A Adusp fez críticas aos professores indicados como coordenadores da cátedra, André Chaves de Melo e Silva e Claudio Julio Tognolli, e à ausência de outros membros da Escola de Comunicação e Artes e do seu departamento de jornalismo nas discussões sobre a iniciativa.
A entidade critica André por ter desenvolvido parceria com a Associação Brasileira de Agronegócio da Região de Ribeirão Preto, que mantém um prêmio anual de jornalismo para reconhecer reportagens publicadas sobre o setor, inclusive por estudantes de jornalismo.
O professor inclui entre os títulos do seu currículo acadêmico as premiações de alunos da sua turma que foram finalistas ou ganharam o prêmio da associação. Para justificar o crédito, Chaves afirma ter orientado os estudantes na produção das reportagens.
“Temos como meta fundamental a criação de um centro de pesquisa e disseminação do conhecimento sobre o papel da comunicação para a manutenção e o fortalecimento da democracia, o que inclui os direitos das minorias e contra os diferentes tipos de discriminação", disse o professor em nota à Folha.
"Esperamos que, no médio prazo, a cátedra se torne referência nos estudos sobre a temática", acrescentou. "Como um dos idealizadores desta iniciativa, esperamos congregar pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, do Brasil e do exterior, na compreensão deste complexo fenômeno contemporâneo.”
A Adusp também menciona controvérsias recentes que envolveram Tognolli, nomeado coordenador-adjunto da cátedra, incluindo acusações de assédio a alunas e práticas jornalísticas eticamente questionáveis.
Em 2017, Tognolli divulgou na internet imagem de uma tomografia da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que tinha sofrido um acidente vascular cerebral e estava internada quando o exame foi divulgado.
Em 2018, Tognolli publicou no Twitter o telefone celular do juiz federal Rogério Favreto, que assinou ordem de soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele estava preso em Curitiba. A ordem foi logo revertida, mas a divulgação do telefone tornou o juiz alvo de ataques.
"A Comissão Anti-Machismo da ECA me investigou e nada encontrou contra minha pessoa", disse Tognolli. Em 2016, uma comissão do departamento de jornalismo analisou o caso de uma aluna que o acusou publicamente de assédio sexual, mas ela não chegou a formalizar a denúncia à comissão.
Tognolli disse que havia "hiper-relevância" na divulgação da tomografia de Marisa e que fez um acordo com Favreto na Justiça, "em que ambas as partes lucraram". Segundo ele, "setores da universidade" o tratam como "ultradireitista" por ter publicado um livro sobre o cantor Lobão e outro com o ex-deputado estadual Romeu Tuma Júnior.
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