Elisabetta Povoledo, The New York Times – Life/Style
08 de setembro de 2020 | 05h00
ROMA – Primeiramente, dois turistas alemães fizeram um mergulho sem qualquer autorização no Canal Grande de Veneza, embaixo da Ponte de Rialto. Depois, um turista americano quebrou um dedo do pé de uma estátua de gesso da irmã de Napoleão enquanto posava para uma foto em um museu do norte da Itália.
Depois disso, uma turista francesa foi pega em flagrante usando uma caneta preta para imortalizar sua estada em Florença na famosa Ponte Vecchio. Agora, as autoridades italianas estão procurando uma jovem que tirou uma selfie de pé em cima das termas recém-reabertas em Pompeia, um frágil sítio arqueológico.
“Foi aberta uma investigação”, informou Massimo Osanna, diretor do sítio de Pompeia que está deixando o cargo, acrescentando que os promotores de uma cidade vizinha estão cuidando do caso. A pandemia do coronavírus massacrou a indústria do turismo da Itália, este ano – o que significou um golpe considerável na economia do país – mas os italianos afirmam que isto não deveria dar aos turistas um passe livre para destruir os tesouros culturais do país.
“Há a questão da vigilância, mas também a do despreparo dos visitantes”, dizia um editorial publicado na terça-feira no jornal de Roma, La Repubblica. “O que aconteceu em Pompeia mostra que o caminho para a educação dos que visitam os museus está ainda repleto de dificuldades e de eventos imprevistos”, acenando ao sem número de episódios de vandalismo e de danos causados a tesouros culturais por turistas visitantes.
Tentativas anteriores de conter este comportamento nem sempre foram bem-sucedidas. Na Câmara, os deputados introduziram no mês passado uma lei que endurece as penas dos condenados por destruir o patrimônio artístico da Itália. O ministro da Cultura, Dario Franceschini, tenta obter a aprovação de uma lei a este respeito desde 2016, mas não consegue a aprovação de ambas as Câmaras do Parlamento. “Aqui não é o Velho Oeste; existem leis contra os danos à herança cultural”, disse um porta-voz de Franceschini, Mattia Morandi, na terça-feira.
Mas o ministro afirmou que espera que penas mais rigorosas constituam um desestímulo maior para as pessoas “que quem sabe queiram gravar os seus nomes no Coliseu ou tirar mosaicos de Pompeia”, sem falar que eles estão destruindo algo de valor incalculável, acrescentou.
“Precisamos de esforços mais concentrados na educação dos turistas para fazer com que respeitem o nosso patrimônio, para fazê-los compreender onde estão”, disse Osanna, que no próximo mês deixará Pompeia para assumir um cargo no Ministério da Cultura encarregado de supervisionar os museus estatais da Itália. Pompeia é muito grande e difícil de monitorar, acrescentou.
“Mesmo que se aumente o pessoal da segurança em centenas de guardas, haverá sempre algum lugar que pode ser acessado sem um controle direto”, prosseguiu. Em vez de limitar o acesso ao sítio, Osanna acredita que seria melhor informar os visitantes de que estão pisando em um terreno frágil que pertence a toda a humanidade, “e que qualquer dano ao sítio é um dano ao patrimônio mundial”.
No caso da estátua, cujos dedos dos pés foram danificados em julho, as autoridades estão atrás do homem que usava o logotipo de visitante do museu. Os promotores analisarão o sistema de reservas de Pompeia para tentar ligar um nome à fotografia que apanhou o turista tirando a selfie além dos limites permitidos. O incidente ocorreu no dia 24 de julho, mas só se tornou notícia na Itália no fim de semana passado, depois de ter sido postado em várias contas de redes sociais.
A pessoa que tirou a foto, Antonio Irlando, disse que achou que talvez a mulher não soubesse que estava quebrando as normas, porque o cordão que deveria bloquear os degraus de tijolos até o telhado havia sido retirado e deixado em um canto. Irlando, arquiteto e presidente de uma associação local que monitora locais em Pompeia, falou em uma entrevista que depois de fazer a foto, tentou alcançar a mulher, mas ela tinha ido embora no momento em que ele chegou às termas.
Então, ele viu outra família subindo os degraus sem saber que estava pisando em território proibido. “Avisei as pessoas de que não era seguro’”, ele disse. “Quem sabe quantos já subiram sem que ninguém prestasse atenção”. Irlando contou que o seu banco de dados está repleto de fotografias “totalmente absurdas” de turistas que mostravam um mau comportamento em Pompeia, como caminhar ao longo dos antigos muros protegidos da cidade, ou apoiando-se em afrescos criados há cerca de 2 mil anos. “É um vício atávico”, ele disse. “Se você quiser outras fotos de pessoas que vandalizaram o sítio, me informe”.
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