Por mais que Mario Frias tenha sido colocado na Secretaria Especial de Cultura para não fazer nada e desmoralizar a pasta, ele tinha de servir para alguma coisa. Deram-lhe então uma cutucada, para que começasse a aparecer. Primeiro, recebeu o filho presidencial 04 para uma reunião sobre esportes eletrônicos. Mas nas redes sociais não houve a esperada "polêmica", palavra que hoje quer dizer sucesso.
Aí veio o vídeo da campanha patriótica para celebrar o Sete de Setembro. Uma tosqueira só, da qual, passada uma semana, ninguém mais falará. Não importa, porque cumpriu o papel de agitar as milícias virtuais. O humorista Marcelo Adnet —que fez uma paródia da peça publicitária— foi atacado não só pelo secretário como por batalhões de robôs e até pela Secom. É o governo trabalhando.
A última frase lida no teleprompter por Mario Frias, no entanto, é um ato falho. Diz ele: "A nossa história precisa ser contada". Na Ilustrada de sábado (5), Inácio Araújo, ao analisar a propaganda, já começou a contá-la: "Esse elogio da história como monumento é um elogio da volta ao passado —o da ditadura". No futuro, bastará comparar as palavras do crítico com as imagens da Secom para saber quem estava com a razão.
A pós-verdade, o mundo paralelo, as teorias conspiratórias, a realidade falsificada têm pernas curtas —como a mentira. Tendo o Brasil atual como assunto, não param de sair livros de sociologia, reportagens, perfis, ensaios, depoimentos, diários. E toda uma leva de obras de ficção está sendo elaborada.
Sobre seu romance "Solução de Dois Estados", a sair em outubro, o escritor Michel Laub tuitou: "Qualquer ficcionista no Brasil de hoje tem duas opções: fugir do tema da barbárie política —o que já é um comentário a respeito— ou enfrentá-lo tentando não repetir o óbvio".
O que é o ex-ator Mario Frias, senão um arrivista de Balzac?
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