Testar, testar, testar. É assim que fazemos com os alunos. É assim que fizemos para certificar epidemiologistas. É assim que deveríamos fazer para descobrir tratamentos contra a Covid-19 e para coordenar a reabertura.
Temos dois tipos de testes. Os que buscam evidências do vírus no nosso corpo, como o RT-PCR. E testes que checam nossa resposta imune contra ele, como os testes rápidos e sorológicos. Ambos ainda têm muito o que melhorar, já que vamos conviver com o coronavírus por bastante tempo.
O RT-PCR é o teste mais importante. Ele informa o estado corrente da epidemia, já que só dá positivo enquanto temos o vírus no corpo e mostra quem está em condições de transmitir. Mas ainda é caro. No Brasil, custa por volta de R$ 300, além de depender de ingredientes em falta —o que certamente tem contribuído para nosso desempenho ruim.
Não saímos de algumas dezenas de milhares de testes. Deveríamos fazer centenas de milhares.
Por isso tecnologias como um novo teste desse tipo que usa saliva e custa dezenas de reais são animadoras. Usar saliva dispensa o bastão com algodão, que anda em falta, que vai no fundo do nariz. Com o preço menor, torna viável testar muitas pessoas. E testar uma mesma pessoa várias vezes. Como alunos semanalmente. Por enquanto, esse novo teste começa a ser adotado nos EUA. Sua popularização seria ótima para uma reabertura informada. Com RT-PCRs mais práticos e baratos, poderíamos monitorasr escolas e ambientes de trabalho com muito mais confiança, sem precisar monitorar hospitais enchendo.
Já o teste de resposta imune mostra quem pegou o vírus e se curou. Ele mede os anticorpos que nosso corpo faz contra o vírus, mas essa resposta imune leva tempo. O IgM é um anticorpo inicial, leva de 10 a 15 dias para aparecer após o contato com o vírus. Depois desaparece. O outro anticorpo que mais medimos é o IgG, que leva de 15 a 20 dias para aparecer no sangue e pode continuar presente por anos.
Os testes ainda falham em detectar pessoas que se curaram, os falsos negativos; ou detectam pessoas que tiveram outros coronavírus —do tipo que causa resfriado— mas não o da Covid-19, os falsos positivos. E testes rápidos negligenciam um outro tipo de anticorpo, o IgA, que produzimos e liberamos principalmente nas mucosas, como no pulmão, e tem um papel importante contra vírus respiratórios.
Pacientes que se curam da Covid sem muitos sintomas podem não produzir muitos IgM e IgG no sangue, mas podem fazer bastante IgA. O que indica que o IgA pode ser importante para controlar o vírus no pulmão e que podemos estar perdendo uma parcela importante de curados que testes tradicionais não medem.
Testes mais baratos e mais sensíveis seriam fundamentais para respondermos perguntas importantes que sobraram. Nossa imunidade protege contra infecções futuras? Reinfecção é comum? E a segunda infecção é menos ou mais perigosa? Com mais RT-PCRs poderíamos saber quem volta a ter o vírus presente no corpo meses depois de se curar. Quantas pessoas já pegaram o coronavírus? Testes imunológicos mais sensíveis dariam um número mais próximo do real.
Estamos tratando melhor doentes e saindo da temporada de vírus respiratórios, o inverno. Tudo indica que o Brasil caminha por uma reabertura mais do que necessária pelos próximos meses. Precisamos retomar aulas e trabalhos presenciais e precisamos saber nossa real situação para sair de casa com mais tranquilidade.
O caminho ainda é testar, testar e testar.
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