EM TEMPO
Velhices, longevidade, superação
PAULO MARKUN
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Na última reunião de ministros das Finanças do G20, em Fukuoka, no Japão, nos dias 8 e 9 de junho, um tema rondou as conversas: o envelhecimento global. Não foi o assunto principal, mas, pela primeira vez, essa questão chegou à mesa dos poderosos. Ao final, o documento do encontro dá uma no cravo e outra na ferradura, ao identificar o processo como um misto de riscos e oportunidades. Os ministros do G20, uma mescla de países em vários estágios de desenvolvimento que representam 85% do Produto Interno Bruto global, sugeriram que mais mulheres e idosos sejam incluídos na força de trabalho e recomendou a seus governos que promovam “indústrias favoráveis aos idosos”e reformas nos sistemas fiscais e bancários que levem em conta o prolongamento da vida de boa parte das populações.
Foram identificados oito pontos de ação:
Foram identificados oito pontos de ação:
Usar dados e evidências para aferir as políticas e identificar o que mais é preciso fazer;
Promover aprendizado digital e financeiro;
Apoiar o planejamento financeiro para a vida;
Criar produtos e serviços adequados para os idosos;
Proteger os consumidores e garantir sua educação financeira;
Evitar que os idosos sejam vítimas de fraudes e abusos financeiros;
Encorajar o engajamento dos stakeholders para a inclusão financeira dos idosos;
Olhar para a necessidade de grupos mais vulneráveis e mal atendidos.
Promover aprendizado digital e financeiro;
Apoiar o planejamento financeiro para a vida;
Criar produtos e serviços adequados para os idosos;
Proteger os consumidores e garantir sua educação financeira;
Evitar que os idosos sejam vítimas de fraudes e abusos financeiros;
Encorajar o engajamento dos stakeholders para a inclusão financeira dos idosos;
Olhar para a necessidade de grupos mais vulneráveis e mal atendidos.
Haruhiko Kuroda, de 74 anos, presidente do Banco Central do Japão, disse aos repórteres que cobriram o encontro: “A maioria dos países do G20 já experimentou ou experimentará o envelhecimento. Precisamos discutir problemas que surgem com o envelhecimento da sociedade e como lidar com eles.”
A caminho dos 70 anos – completará em 8 de maio do ano que vem – Angel Gurria, secretário- geral da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, chamou a atenção para o fato de que entre as populações dos 20 países, o envelhecimento é ainda maior que na média mundial e que é simplesmente impossível deter esse processo. Além de defender um espaço maior para mulheres e idosos no mercado de trabalho, Gurria quer que os jovens pensem em seu futuro financeiro.
O fato da reunião ter ocorrido no Japão deve ter facilitado a inserção do tema na agenda. Dados oficiais recentemente publicados atestam que ali vivem 34,6 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, ou 27,3% da população – a maior proporção entre os países avançados. Apesar de ser a terceira maior economia do mundo, há um grande número de idosos vivendo na pobreza, em função da diminuição dos empregos que no passado eram quase vitalícios e do aumento da idade de aposentadoria, que passará a 65 anos para os homens em 2025 e em 2030 para as mulheres ( já há estudos para elevar esse limite até 68 anos). O problema se agrava pela taxa de natalidade decrescente. Segundo um levantamento do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, divulgado no final do ano passado, os bebês de 2018 ficaram abaixo do milhão pelo terceiro ano consecutivo – 921.000 ou 25.000 a menos que no ano passado. É o menor número desde que o país começou a contabilizar esses dados em 1899 .
Um relatório oficial do Financial Services Agency (FSA) divulgado há pouco afirma que o sistema público de aposentadoria é incapaz de sustentar o pensões não o padrão de vida das pessoas em uma sociedade que está envelhecendo rapidamente. Um casal que viva até os 95 anos precisará de pelo menos 20 milhões de ienes, quase 713 mil reais a mais do que suas pensões. O relatório recomenda que as pessoas assumam mais riscos que no passado para planejar seu futuro financeiro. Um casal com um homem de 65 anos ou mais e uma mulher de 60 anos ou mais terá de enfrentar um déficit mensal de 50 mil ienes – ou 1782 reais – se depender apenas da aposentadoria oficial.
O relatório foi muito mal recebido pelo parlamento. Num debate em plenário, Yukio Edano, 55 anos, do Partido Democrático Constitucional, a maior agremiação oposicionista, contestou o primeiro-ministro Shinzo Abe, de 64 anos e disse que seu governo só olha para a estabilidade do sistema, sem apresentar alternativas: “O que está irritando muita gente é que o senhor está simplesmente enfatizando a estabilidade (do sistema) e não enfrentando a ansiedade deles de frente”.
A deputada Renho, vice-líder do PDC, de 52 anos, foi mais fundo: “O que o senhor chama de um ‘sistema que é seguro para os próximos 100 anos’ é uma mentira? O público está furioso, imaginando o que o senhor quis dizer ao afirmar que os casais devem ter uma reserva de 20 milhões de ienes.”
Na mesma reunião, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Taro Aso, de 78 anos, complicou ainda mais a situação do governo. Rico herdeiro de uma família política de elite, Aso disse que nunca se preocupou em se sustentar ao envelhecer e nem sabia se estava recebendo uma pensão. Afirmou também que tinha lido apenas a primeira parte do relatório da FSA. Yuichiro Tamaki, 50 anos, líder do Partido Democrático para o Povo não perdeu a chance de replicar: “Retardar, esconder ou mesmo falsificar informações apenas porque uma eleição está próxima não ajuda você a ganhar a confiança do governo, nem do sistema de pensões.” O primeiro-ministro acabou por encaixar os golpes. Classificou o relatório de impreciso, reconheceu que o texto pode ter causado mal entendidos, mas reafirmou sua confiança na ideia de que a reforma da previdência feita em 2004 assegura a sustentabilidade do sistema de pensões.
O assunto é um espinho na garganta de Shinzo Abe desde 2007, quando seu partido, o Liberal Democrático, foi derrotado nas eleições parlamentares para o Senado, em grande parte por causa da indignação dos eleitores com as pensões. Dois meses depois, Abe renunciou ao cargo.
Algumas semanas antes desse bate-boca no parlamento, Abe reunira em seu gabinete o Conselho de Investimentos para o Futuro para discutir, pela primeira vez, a promoção do emprego de idosos e o recrutamento de profissionais em meio de carreira. Ao final, anunciou um projeto de lei ainda em preparação, que pretende garantir os empregos até os 70 anos.
Nesta sexta-feira, 21 de junho, num encontro organizado pela agência de notícias Reuters, em Nova Iorque, Shinzo Abe tentou mostrar despreocupação com o envelhecimento e a diminuição da população japonesa, dizendo que não são problema, mas um incentivo para aumentar a produtividade por meio de inovações como robôs, sensores sem fio e inteligência artificial.
Nos próximos dias 28 e 29 deste mês de junho, em Osaka, na 14a reunião de cúpula do G20, os presidentes e líderes dos países terão a oportunidade de ir além das declarações genéricas e inócuas registradas por seus ministros das Finanças. A pauta certamente incluirá os embates entre Rússia e Estados Unidos e as consequências do Brexit para a União Europeia, a regulação da economia digital e as mudanças climáticas, mas o Japão já fez a lição de casa e colocou o envelhecimento na agenda.
A caminho dos 70 anos – completará em 8 de maio do ano que vem – Angel Gurria, secretário- geral da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, chamou a atenção para o fato de que entre as populações dos 20 países, o envelhecimento é ainda maior que na média mundial e que é simplesmente impossível deter esse processo. Além de defender um espaço maior para mulheres e idosos no mercado de trabalho, Gurria quer que os jovens pensem em seu futuro financeiro.
O fato da reunião ter ocorrido no Japão deve ter facilitado a inserção do tema na agenda. Dados oficiais recentemente publicados atestam que ali vivem 34,6 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, ou 27,3% da população – a maior proporção entre os países avançados. Apesar de ser a terceira maior economia do mundo, há um grande número de idosos vivendo na pobreza, em função da diminuição dos empregos que no passado eram quase vitalícios e do aumento da idade de aposentadoria, que passará a 65 anos para os homens em 2025 e em 2030 para as mulheres ( já há estudos para elevar esse limite até 68 anos). O problema se agrava pela taxa de natalidade decrescente. Segundo um levantamento do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, divulgado no final do ano passado, os bebês de 2018 ficaram abaixo do milhão pelo terceiro ano consecutivo – 921.000 ou 25.000 a menos que no ano passado. É o menor número desde que o país começou a contabilizar esses dados em 1899 .
Um relatório oficial do Financial Services Agency (FSA) divulgado há pouco afirma que o sistema público de aposentadoria é incapaz de sustentar o pensões não o padrão de vida das pessoas em uma sociedade que está envelhecendo rapidamente. Um casal que viva até os 95 anos precisará de pelo menos 20 milhões de ienes, quase 713 mil reais a mais do que suas pensões. O relatório recomenda que as pessoas assumam mais riscos que no passado para planejar seu futuro financeiro. Um casal com um homem de 65 anos ou mais e uma mulher de 60 anos ou mais terá de enfrentar um déficit mensal de 50 mil ienes – ou 1782 reais – se depender apenas da aposentadoria oficial.
O relatório foi muito mal recebido pelo parlamento. Num debate em plenário, Yukio Edano, 55 anos, do Partido Democrático Constitucional, a maior agremiação oposicionista, contestou o primeiro-ministro Shinzo Abe, de 64 anos e disse que seu governo só olha para a estabilidade do sistema, sem apresentar alternativas: “O que está irritando muita gente é que o senhor está simplesmente enfatizando a estabilidade (do sistema) e não enfrentando a ansiedade deles de frente”.
A deputada Renho, vice-líder do PDC, de 52 anos, foi mais fundo: “O que o senhor chama de um ‘sistema que é seguro para os próximos 100 anos’ é uma mentira? O público está furioso, imaginando o que o senhor quis dizer ao afirmar que os casais devem ter uma reserva de 20 milhões de ienes.”
Na mesma reunião, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Taro Aso, de 78 anos, complicou ainda mais a situação do governo. Rico herdeiro de uma família política de elite, Aso disse que nunca se preocupou em se sustentar ao envelhecer e nem sabia se estava recebendo uma pensão. Afirmou também que tinha lido apenas a primeira parte do relatório da FSA. Yuichiro Tamaki, 50 anos, líder do Partido Democrático para o Povo não perdeu a chance de replicar: “Retardar, esconder ou mesmo falsificar informações apenas porque uma eleição está próxima não ajuda você a ganhar a confiança do governo, nem do sistema de pensões.” O primeiro-ministro acabou por encaixar os golpes. Classificou o relatório de impreciso, reconheceu que o texto pode ter causado mal entendidos, mas reafirmou sua confiança na ideia de que a reforma da previdência feita em 2004 assegura a sustentabilidade do sistema de pensões.
O assunto é um espinho na garganta de Shinzo Abe desde 2007, quando seu partido, o Liberal Democrático, foi derrotado nas eleições parlamentares para o Senado, em grande parte por causa da indignação dos eleitores com as pensões. Dois meses depois, Abe renunciou ao cargo.
Algumas semanas antes desse bate-boca no parlamento, Abe reunira em seu gabinete o Conselho de Investimentos para o Futuro para discutir, pela primeira vez, a promoção do emprego de idosos e o recrutamento de profissionais em meio de carreira. Ao final, anunciou um projeto de lei ainda em preparação, que pretende garantir os empregos até os 70 anos.
Nesta sexta-feira, 21 de junho, num encontro organizado pela agência de notícias Reuters, em Nova Iorque, Shinzo Abe tentou mostrar despreocupação com o envelhecimento e a diminuição da população japonesa, dizendo que não são problema, mas um incentivo para aumentar a produtividade por meio de inovações como robôs, sensores sem fio e inteligência artificial.
Nos próximos dias 28 e 29 deste mês de junho, em Osaka, na 14a reunião de cúpula do G20, os presidentes e líderes dos países terão a oportunidade de ir além das declarações genéricas e inócuas registradas por seus ministros das Finanças. A pauta certamente incluirá os embates entre Rússia e Estados Unidos e as consequências do Brexit para a União Europeia, a regulação da economia digital e as mudanças climáticas, mas o Japão já fez a lição de casa e colocou o envelhecimento na agenda.
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