A indústria ferroviária aposta que o lançamento de um bilionário programa de financiamento para a compra e a modernização de locomotivas e vagões vai impulsionar o setor, que atualmente trabalha com ociosidade de 60%.
O Retrem será lançado às 10h30 desta sexta-feira (28), na Fiesp, em São Paulo, e terá R$ 1 bilhão em financiamentos por ano voltados às operadoras de transporte urbano de passageiros sobre trilhos para a compra de trens novos produzidos pela indústria nacional.
O programa vai usar recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com taxas de juros anuais a partir de 5,5%.
A avaliação da indústria é que 2019 já está perdido e que o programa é uma oportunidade para salvar o setor em 2020. Após os pedidos serem confirmados, a indústria pode levar até um ano e meio para fazer a entrega, no caso de novas composições.
Um trem com quatro carros de passageiros e ar-condicionado não custa menos de R$ 15 milhões, mas pode passar de R$ 17 milhões conforme forem acrescentados opcionais.
O programa também é alvo de questionamentos por envolver dinheiro público a juros baixos para a compra de maquinário produzido no país, o que significa a criação de uma espécie de reserva de mercado para a indústria.
"Avaliamos que é um projeto em que todos ganham, indústria, operadores e passageiros. A indústria precisa potencializar essa produção que está estagnada e dar empregos, enquanto as operadoras vão trabalhar com equipamento moderno, que consome menos energia, por exemplo. Já o passageiro ganha por ver ser reduzido o intervalo entre os trens e viajar num trem mais moderno, com mais conforto", disse João Gouveia Ferrão Neto, vice-presidente da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos).
Segundo ele, comprar da indústria nacional é importante por facilitar a assistência técnica e por evitar o hedge (proteção contra grandes oscilações na cotação do euro e do dólar) necessário em aquisições de fabricantes estrangeiros.
"Os fabricantes nacionais têm uma larga vantagem nesse sentido e não deixam nada a desejar em comparação aos de fora", disse.
O Brasil tem hoje 1.105 quilômetros de trilhos urbanos, que transportam diariamente 10,9 milhões de passageiros.
Presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), Vicente Abate disse que o fato de o governo federal ter incluído a modernização de trens antigos no programa -e não só a compra de novos- fará com que a indústria consiga entregar projetos às operadores de transporte com mais rapidez.
"Em projetos já concebidos, o prazo é em média de um ano e meio para entregar, o que significa que estamos no limite para conseguir entregar ainda em 2020, se fechados agora. Com a modernização entrando no processo a gente pode movimentar mais cedo. São trens já existentes, que terão motores trocados para melhorar consumo de energia ou a instalação de ar condicionado, por exemplo. Isso movimenta a fábrica mais rapidamente."
CRISE
De acordo com ele, a indústria ferroviária tem apenas um pedido de 135 carros para a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e um contrato para o Chile.
No ano passado, foram produzidos 312 carros de passageiros, ainda assim distante do recorde do setor -473, em 2016.
O total de vagões produzidos deve cair dos 2.566 de 2018 para 1.500, enquanto o número de locomotivas fabricadas será de 40, o mais baixo desde as 22 de 2009. No ano passado, foram 64.
Esse cenário faz a indústria ter ociosidade de 60% em relação à média dos últimos dez anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário