Até parece que o presidente Jair Bolsonaro recebeu de seus antecessores um país tranquilo, próspero e equilibrado, com a população desfrutando do pleno emprego e os investidores competindo para botar seu dinheiro aqui. Um país tão bem resolvido que o presidente pode dar-se ao luxo de, entre vários disparates diários, concentrar-se numa medida que, por mais rejeitada, ele adora trazer de volta com variações.
É a questão das armas. O jornal O Estado de S. Paulo fez, nesta quarta (26), um levantamento dos decretos de Bolsonaro sobre o assunto. No dia 15 de janeiro, quase que ainda de faixa presidencial, e como se a nação não pensasse em outra coisa, Bolsonaro “flexibilizou” —facilitou— a aquisição de armas de fogo pelos cidadãos, desde que as mantivessem em casa ou em seu comércio.
No dia 7 de maio, insatisfeito, revogou o decreto e soltou outro, garantindo a 19 categorias andarem armadas nas ruas por, segundo ele, se sentirem em risco —caminhoneiros, advogados, políticos, jornalistas, passeadores de cachorro. Abriu também a possibilidade de o cidadão comum adquirir um fuzil e de entrar armado em aviões. No dia 22 de maio, diante da grita, restringiu o porte do fuzil e o de armas em aviões, mas manteve o das 19 categorias, além de permitir que atiradores esportivos —inclusive vizinhos de milicianos nos condomínios da Barra— comprassem milhares de balas por ano.
No dia 18 último, tendo o Senado derrubado os decretos por inconstitucionais, Bolsonaro, prevendo novas derrotas, revogou-os, mas, nesta terça (25), reeditou-os fatiados, esperando que alguns passem, e na quarta (26), outro.
Cada decreto mobiliza um pelotão de homens-hora —assessores, ministros, constitucionalistas, juízes, congressistas— que poderiam estar tratando de assuntos mais urgentes. E tudo isso, como dizem os fãs de Bolsonaro, com “o nosso dinheiro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário