A questão que ficou para sabermos antes de decidirmos é quando a desesperança nos dará mais opções
13 de junho de 2019 | 05h47
Uma semana antes do dia da última eleição presidencial, foi publicado na imprensa um estranho documento. Sem nenhuma razão aparente ou deduzível, o então juiz Sergio Moro liberou um trecho do depoimento que fazia à Justiça o ex-ministro do Lula, Antonio Palocci. O documento não continha nenhuma delação nova que justificasse sua liberação extemporânea, ou causasse mais estragos ao PT do que o bombardeio do Palocci já tinha causado.
A publicação do trecho escolhido pelo Moro e a aproximação da data da eleição podem ter sido coincidência, sim. Ou:
Foi distração do Moro, que só se deu conta da coincidência quando começou a ouvir os foguetes da vitória do Bolsonaro.
Foi distração do Moro. Ou você acredita que foram as novas revelações do Palocci, requentadas pelo Moro, que deram a vitória ao
Bolsonaro? Reajuste seu discernimento.
Foi distração de todo o mundo. Combinada.
Foi combinada. O Mourão ofereceu o ministério da Justiça ao Moro, que pediu tempo para pensar e em seguida tirou do bolso uma lista de exigências, começando por St. Pelegrino na geladeira.
No fim, a questão que ficou para sabermos antes de decidirmos é quando a desesperança nos dará mais opções. Quando será chegada a hora do herói, e ele não seja outro engano como o Bolsonaro. Não se sabe até onde sobreviverá o Moro como opção numa crise que começa a se autodevorar. Ou ele já perdeu a condição de exceção que tinha, pelo menos até ontem?
Sério, agora. Quem foi que disse “triste é o país que precisa de heróis”? Bertolt Brecht, se não me falha o Google. “Heróis”, no nosso caso, seriam pessoas medianamente honestas que elegessem pessoas medianamente capazes de dirigir um país medianamente possível, é pedir muito? Moro representou não uma esperança grandiloquente mas essa possibilidade meio desconsolada. O problema com o Moro é que o país precisava de um mocinho de cinema e ele tem cara de bom moço.
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