sexta-feira, 21 de junho de 2019

Mercado da construção funcionou como cartel, com corrupção servindo de modelo de negócios 68 21.jun.2019 às 2h00 Ouvir o texto Diminuir fonte Aumentar fonte Nesta segunda-feira (17), a Odebrecht pediu recuperação judicial de 21 empresas, incluindo sua holding. Deixou na praça um calote de R$ 98,5 bilhões, que pagará com desconto quando puder. Imediatamente pipocaram “análises” nas redes sociais sobre como a Operação Lava Jato quebrou as construtoras brasileiras, deixando atrás de si um rastro de desemprego e obras paradas. O raciocínio não podia ser mais equivocado economicamente e enviesado politicamente. A Lava Jato cometeu erros e o engajamento do juiz Sérgio Moro no trabalho da promotoria, revelado pelo site The Intercept, é certamente o mais grave deles. Mas a crise das construtoras não pode entrar nessa conta. O mercado de construção civil brasileiro funcionava como um cartel, que afastava concorrentes internacionais. O “clube” das empreiteiras, cujo expoente era a Odebrecht, dividia as obras do país entre si, desrespeitando as regras das licitações. 1 21 Operação Lava Jato, 5 anos Minha Folha VOLTAR Facebook Whatsapp Twitter Messenger Pinterest Linkedin E-mail Copiar link https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/1627005270686489-operacao-lava-jato-5-anos#foto-1627005270839709 Loading Como se não bastasse pagava propina a funcionários públicos e políticos para obter aditivos aos contratos com pesados sobrepreços. Na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, o custo estimado de US$ 2,4 bilhões saltou para US$ 18,5 bilhões - quase oito vezes mais. Diante dessas cifras, fica evidente que a corrupção era a base do modelo de negócio dessas empresas. Tinham know how para a execução dos projetos, porém sua competitividade era - para dizer o mínimo - questionável. É verdade que as descobertas feitas pela Operação Lava Jato impactaram a credibilidade das empresas, reduzindo o número de obras que conseguiam obter. Mas culpar a investigação pela crise que se instalou é o mesmo que responsabilizar o médico pela descoberta da doença. Pergunto aos críticos: o que eles queriam que tivesse sido feito? Que os desvios de dinheiro público continuassem em nome da preservação dos lucros dessas empresas? Se quiserem achar culpados, apontem para os vilões certos. Foram os executivos da Odebrecht e os políticos corruptos os responsáveis pela perda de milhares de empregos. Raquel Landim Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.


A 'vibe' do mercado está propensa a mudar, mas a velha ciclotimia não foi revogada

Celso Ming, O Estado de S.Paulo
20 de junho de 2019 | 20h00
Anote os seguintes fatos:
  •  A Bolsa brasileira, que acumula alta de 14% neste ano e de 39% em 12 meses, fechou a última quarta-feira no seu recorde nominal (sem levar em conta a inflação), acima dos 100 mil pontos.
  • Em apenas cinco semanas, a cotação do dólar no câmbio interno caiu 6,2% e pode recuar ainda mais.
  • O Copom reconhece que a inflação corre abaixo da meta, mas avisa que só espera pela aprovação da reforma da Previdência para examinar a redução dos juros básicos (Selic).
  • Aumenta a probabilidade de que a reforma da Previdência seja aprovada.
  • Está em queda a principal medida de risco da economia brasileira, tal como percebido pelo mercado internacional, o CDS5 (Credit Default Swap), que é o adicional sobre os juros cobrado pelo investidor para ficar com títulos do Tesouro do Brasil de cinco anos. Atingiu os 157 pontos ao ano na última quinta-feira, o nível mais baixo desde março (148 pontos). 
  • O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) comunicou na quarta-feira que prepara nova redução dos juros (Fed funds) nos Estados Unidos, que hoje estão nos 2,25% ao ano. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, anunciou que deverá lançar estímulos para reanimar a atividade econômica. O Banco do Japão (BoJ, banco central) também anunciou disposição para novo afrouxamento da sua política de juros, “caso necessário”.
  • No próximo fim de semana, na reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), está previsto encontro entre os presidentes Donald Trump (Estados Unidos) e Xi Jinping (China). A aposta é a de que algum entendimento sairá. Se sair, outra fonte de tensão, a da guerra comercial, poderá ser afastada. 

Apesar dos graves problemas nas contas públicas (questão fiscal) brasileiras; apesar da prostração da atividade econômica; e apesar dos 13,4 milhões de desempregados, há alguma melhora na percepção sobre o comportamento da economia brasileira.
Sobra dinheiro no mundo e os sinais que vêm dos grandes bancos centrais, como se viu acima, é de que haverá mais cortes dos juros para tentar puxar para cima a atividade econômica global. Juros em queda no mundo rico empurrarão os investidores para a renda variável, especialmente para as ações, o que deverá beneficiar países em desenvolvimento, como o Brasil.
Se prevalecesse o climão ruim que ainda permeia muitas análises, a Bolsa brasileira não teria chegado aonde chegou. Seu movimento conta com redução dos juros também por aqui, apesar do pão-durismo do Copom. E o investidor brasileiro, que já se ressente com o baixo retorno das aplicações em renda fixa, parece mais propenso a arriscar mais em ações.
Como fica a economia brasileira nesse emaranhado que tende a melhorar as condições da economia? Não há como negar, tudo por aqui se equilibra precariamente. O investimento na atividade econômica não dá sinais de reação; o consumidor, que já enfrenta desemprego alto e quebra de renda, continua endividado e parece mais propenso a se manter na retranca.
E há o jogo político, muito confuso, sujeito a produzir surpresas, sabe-se lá em que direção. O presidente Bolsonaro ainda não conseguiu consolidar um modelo de atuação que substitua o desgastado presidencialismo de coalizão. O Congresso já aumentou e parece disposto a aumentar ainda mais seu protagonismo e a impor uma agenda econômica distinta da agenda do governo.
A conclusão é de que a vibe do mercado está propensa a mudar. Mas a velha ciclotimia não foi revogada. Assim também como pode mudar para melhor, pode mudar para pior.
Bolsa
Mercado financeiro acompanha discussões sobre queda de juros no Brasil e nos EUA.  Foto: Renato S.Cerqueira/Futura Press
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