Produtos apreendidos pela Receita Federal do Paraná, que antes eram destruídos pela instituição, estão virando itens de utilidade pública por todo o estado.
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Vinho, cerveja, vodka e licor são matéria-prima para produção de álcool de limpeza. Cigarros contrabandeados têm servido para a produção de adubo para pesquisas. E sementes de soja, que seriam jogadas fora por não terem certificação no país, estão virando alimento para animais e biodiesel.
Os projetos são frutos de pesquisas desenvolvidas por universidades estaduais. Desde 2008, a Unicentro de Guarapuava, região centro-sul do estado, transforma bebidas alcoólicas apreendidas pela Receita Federal em álcool para higienização e limpeza.
Por ano, nove delegacias do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso enviam ao campus cerca de 90 toneladas do produto, que se transforma em seis toneladas de álcool em gel e cinco de álcool de limpeza.
“A Receita não tinha uma destinação correta para esse produto, que era descartado em aterros, contaminava o lençol freático e deixava resíduos de vidro”, conta o professor Maico Taras da Cunha, que coordena o projeto que envolve estudantes dos cursos de química, administração e farmácia.
O álcool gel abastece os principais órgãos públicos da cidade, além de entidades sociais, e é usado para higienização das mãos, prevenindo contra a contaminação pela gripe, por exemplo.
Os resíduos das embalagens de bebidas, como vidros, latas e papelão, também são reaproveitados na reciclagem pela Associação Municipal de Catadores de Guarapuava.
Outro projeto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, nos campos gerais, transforma cigarros apreendidos em adubo para plantações.
Ainda não se chegou ao ponto de distribuição do material, mas o estudo já serviu de base para teses de mestrado, doutorado e graduação, como aponta Sandro Xavier de Campos, orientador do programa de química.
“A ideia é fazer parcerias para distribuir o adubo para empresas de reflorestamento, por exemplo”, diz ele.
Para atingir o ponto de adubagem, o tabaco do cigarro pode ser misturado com diversos tipos de materiais, como restos de alimentos, e passa pela compostagem para filtragem de produtos tóxicos.
Para atingir o ponto de adubagem, o tabaco do cigarro pode ser misturado com diversos tipos de materiais, como restos de alimentos, e passa pela compostagem para filtragem de produtos tóxicos.
“Fizemos um teste com várias carreiras de alface, e esse adubo foi o segundo que mais fez crescer as plantas. Mantemos uma análise criteriosa do produto para saber se não há resíduos de metal pesado, por exemplo, mas, até então, está tudo dentro das regras estabelecidas pelo Ministério da Agricultura”, descreve o professor.
Já do oeste do Paraná vem o reaproveitamento de sementes de soja que são apreendidas por falta de certificação no país de origem ou de destino. O grão vai para o laboratório de energia renovável da Unioeste, onde é processado, transformado em farelo e distribuído a produtores rurais para alimentar a criação.
Em troca, agricultores fazem doações de materiais ao laboratório ou ainda de carne e leite para pacientes do hospital universitário.
Como aponta o pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da instituição, Reginaldo Ferreira Santos, do processamento ainda sobra um óleo, que é transformado em biocombustível.
Esse material serve especialmente para alimentar o motor que aquece a piscina da universidade. No local, alunos do curso de fisioterapia atendem pacientes do SUS.
“Algo que seria destruído é transformado em alimento, devolvido na forma de equipamento para o laboratório ou carne ou leite para o hospital universitário. Além disso, a universidade, ao invés de comprar o diesel, utiliza o biodiesel, que é renovável e reduz custos”, aponta.
A Unioeste ainda aproveita motores, que servem para testar a qualidade de combustíveis produzidos pelo centro, e carcaças de carros apreendidos pela Receita.
“Podemos utilizar esses veículos para invenções. Se a pesquisa não der certo, não tem problema, mas comprar um veículo novo para fazer isso não dá certo. A gente vai adquirindo mais conhecimento e dando um fim lucrativo e possível para veículos que seriam destruídos”, diz Santos.
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