Nesta quarta (10), o UOL publicou uma notícia relativa aos direitos sobre a música "Parabéns a (ou será 'à'?) Você", que, diferentemente do que muita gente pensa, não é brasileira. Mas isso é outra história. O que interessa neste momento diz respeito ao bendito "a" que antecede "você". Coloca-se ou não se coloca o pobre acento grave no coitadinho do "a"?
O monumental Ferreira Gullar diz que a crase não foi feita para humilhar ninguém. E não foi mesmo, sobretudo quando se pensa que a essência desse fato da nossa língua é perfeitamente compreensível.
Vamos aos fatos. De início, é bom lembrar que "crase", palavra de origem grega, significa "fusão", "mistura". No caso da gramática, "crase" vem a ser a fusão de duas vogais iguais. No caso do português moderno, "crase" vem a ser a fusão da preposição "a" com um segundo "a", que em 99% dos casos é o artigo definido feminino "a".
Em "...depois do ataque terrorista à redação do Charlie Hebdo..." (de "Somos Todos Lula", de Elio Gaspari ), por exemplo, o "à" que vem antes de "redação" resulta da fusão (fusão = crase) da preposição "a", regida por "ataque" (ataque a alguém ou a alguma coisa), com o artigo "a", determinante do substantivo feminino "redação". O resultado de "a" + "a" é "à".
Vale a pena citar o velho "truque" da troca do vocábulo feminino por um masculino DA MESMA CLASSE GRAMATICAL e do mesmo tipo. No caso visto, pode-se trocar "redação" por "escritório", por exemplo. O que surge? Vamos lá: "...depois do ataque terrorista ao escritório do Charlie Hebdo...". Como se vê, o "à" se transformou em "ao". Ora, se a forma "ao" resulta de "a" + "o" (o "a" é o "a" de ataque a alguém ou a alguma coisa; o "o" é o artigo "o" de "o escritório"), a forma "à" resulta de "a" + "a" (o primeiro "a" continua sendo o "a" de ataque a alguém ou a alguma coisa; o segundo "a" é o artigo "a" de "a redação").
Posto isso, voltemos ao inocente "Parabéns a você", que se escreve com "a" mesmo (como estava no UOL) e não com "à", que não se justificaria de jeito nenhum. E por que não se justificaria? Por uma razão muito simples: a palavra "você" por acaso é feminina? Por acaso pede artigo feminino? Alguém já disse ou escreveu a uma mulher algo como "Gosto muito da você", "Só penso na você" ou "Estou apaixonado pela você"? Certamente não, então...
Então o bendito "a" que vem antes de "você" não pode receber o acento grave (ou acento indicador de crase), por uma razão mais do que simples, elementar, matemática: porque não há crase, ou seja, não há fusão, não há "a" + "a". Há apenas um "a", que não se funde com coisa alguma. Simples, não?
Algum falso defensor dos fracos e oprimidos poderá dizer que o indevido acento grave no "a" em "Parabéns a você" não tornaria a frase incompreensível. Pois é aí que mora o perigo. O que importa é entender o princípio, o fundamento, para ser capaz de aplicá-lo na hora de escrever e/ou ler um texto escrito na língua padrão, situação em que esse acento pode fazer muita diferença.
Ou será que algum deslumbrado acha que as construções "...a eterna desventura de viver à espera de viver ao lado teu" e "...a eterna desventura de viver a espera de viver ao lado teu" significam a mesma coisa? Xô, populismo! É isso.
O monumental Ferreira Gullar diz que a crase não foi feita para humilhar ninguém. E não foi mesmo, sobretudo quando se pensa que a essência desse fato da nossa língua é perfeitamente compreensível.
Vamos aos fatos. De início, é bom lembrar que "crase", palavra de origem grega, significa "fusão", "mistura". No caso da gramática, "crase" vem a ser a fusão de duas vogais iguais. No caso do português moderno, "crase" vem a ser a fusão da preposição "a" com um segundo "a", que em 99% dos casos é o artigo definido feminino "a".
Em "...depois do ataque terrorista à redação do Charlie Hebdo..." (de "Somos Todos Lula", de Elio Gaspari ), por exemplo, o "à" que vem antes de "redação" resulta da fusão (fusão = crase) da preposição "a", regida por "ataque" (ataque a alguém ou a alguma coisa), com o artigo "a", determinante do substantivo feminino "redação". O resultado de "a" + "a" é "à".
Vale a pena citar o velho "truque" da troca do vocábulo feminino por um masculino DA MESMA CLASSE GRAMATICAL e do mesmo tipo. No caso visto, pode-se trocar "redação" por "escritório", por exemplo. O que surge? Vamos lá: "...depois do ataque terrorista ao escritório do Charlie Hebdo...". Como se vê, o "à" se transformou em "ao". Ora, se a forma "ao" resulta de "a" + "o" (o "a" é o "a" de ataque a alguém ou a alguma coisa; o "o" é o artigo "o" de "o escritório"), a forma "à" resulta de "a" + "a" (o primeiro "a" continua sendo o "a" de ataque a alguém ou a alguma coisa; o segundo "a" é o artigo "a" de "a redação").
Posto isso, voltemos ao inocente "Parabéns a você", que se escreve com "a" mesmo (como estava no UOL) e não com "à", que não se justificaria de jeito nenhum. E por que não se justificaria? Por uma razão muito simples: a palavra "você" por acaso é feminina? Por acaso pede artigo feminino? Alguém já disse ou escreveu a uma mulher algo como "Gosto muito da você", "Só penso na você" ou "Estou apaixonado pela você"? Certamente não, então...
Então o bendito "a" que vem antes de "você" não pode receber o acento grave (ou acento indicador de crase), por uma razão mais do que simples, elementar, matemática: porque não há crase, ou seja, não há fusão, não há "a" + "a". Há apenas um "a", que não se funde com coisa alguma. Simples, não?
Algum falso defensor dos fracos e oprimidos poderá dizer que o indevido acento grave no "a" em "Parabéns a você" não tornaria a frase incompreensível. Pois é aí que mora o perigo. O que importa é entender o princípio, o fundamento, para ser capaz de aplicá-lo na hora de escrever e/ou ler um texto escrito na língua padrão, situação em que esse acento pode fazer muita diferença.
Ou será que algum deslumbrado acha que as construções "...a eterna desventura de viver à espera de viver ao lado teu" e "...a eterna desventura de viver a espera de viver ao lado teu" significam a mesma coisa? Xô, populismo! É isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário