quinta-feira, 6 de junho de 2024

Lula diz só perder para Dom Pedro 2º e Getúlio Vargas em experiência de 'viver problemas', FSP

RECIFE e ARROIO DO MEIO (RS)

O presidente Lula (PT) disse, nesta quinta-feira (6), que apenas duas pessoas tiveram mais experiência que ele no Brasil: Dom Pedro 2º, imperador do Brasil de 1840 a 1889, e Getúlio Vargas, presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e de 1951 a 1954.

"Possivelmente, muita gente me olha e fala: 'o Lula nem diploma universitário tem'. Só tem três pessoas que têm mais experiência que eu neste país. Três pessoas. D. Pedro [2º], que governou durante quase 70 anos até a Proclamação da República. O Getúlio Vargas, que fez a Revolução de 30, ficou até 1945 e depois foi eleito em 1954. Depois dos dois, só eu. Ninguém tem a quantidade de experiência que eu tenho, de viver problemas neste país", afirmou Lula.

Lula e ministros visitam área devastada do bairro Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul - Anselmo Cunha/Folhapress

No discurso, Lula usou inicialmente a expressão "três pessoas", mas a continuação da frase indica que se referia a apenas duas além dele.

O presidente também errou o ano em que Getúlio Vargas foi eleito—ele ganhou, pelo voto popular, em 1950 e assumiu em janeiro de 1951. O ex-presidente se suicidou em 24 de agosto de 1954 no quarto presidencial na então sede do Poder Executivo, o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Em relação a D. Pedro 2º, na prática ele governou por quase 50 anos (antes houve o período regencial até que o príncipe tivesse idade para ser coroado).

A frase de Lula foi proferida durante discurso em Arroio do Meio (a 120 km de Porto Alegre), no Vale do Taquari, região devastada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

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No local, Lula anunciou novas medidas econômicas de apoio ao estado, como o pagamento de duas parcelas do salário mínimo para trabalhadores. Como contrapartida, as empresas devem se comprometer a não demitir os funcionários que receberão o valor.

O governador Eduardo Leite (PSDB) não participou do evento, que contou com a participação de ministros do governo, como Paulo Pimenta, a Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.

 

André Roncaglia- Tire as construções da minha praia, FSP

 Há pouco mais de um ano, chuvas torrenciais e deslizamentos de terra deixaram 64 mortos e milhares de desabrigados na Vila do Sahy, em São Sebastião, no litoral paulista. A desigualdade de riqueza se traduziu em focalização da tragédia nos mais pobres, desproporcionalmente vulneráveis às intempéries climáticas causadas pelo consumo desenfreado dos ricos.

O Senado agora deseja liberar a selvageria do mercado imobiliário sobre nossas praias. A Comissão de Constituição e Justiça aprovou, na semana passada, uma proposta de emenda à Constituição que busca transferir a jurisdição das áreas de Marinha da União para estados, municípios e proprietários privados.

A "PEC das Praias" cria um problema inexistente no Brasil. Ao descentralizar-se a propriedade do terreno de Marinha, abrem-se as portas para um contubérnio legislativo subnacional —além do risco a comunidades locais e ao ecossistema ao longo dos 8.500 quilômetros da costa brasileira.

Um dos argumentos em defesa da proposta é que, ao fazer o cercamento do espaço público de Marinha, potencializa-se a preservação das áreas, agora sob controle atomizado de quem realmente tem interesse econômico na área.

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Muro cerca terreno na praia de Maracaípe, no litoral sul de Pernambuco - Reprodução/Ibama

O argumento é primitivo. O conluio entre a aristocracia e o poder público locais torna real a ameaça a áreas de preservação ambiental. O exemplo do Rio Grande do Sul deveria ser suficiente para bloquear tamanho despautério. A jurisdição federal dificulta a captura regulatória por poderes locais e deveria ser mantida.

A proposta é mais uma tentativa de impor ao Brasil um transplante mal-ajambrado da realidade norte-americana. Diferentemente do Brasil, onde a União é proprietária de tudo o que está abaixo da superfície e de toda a extensão costeira, nos EUA a ocupação do litoral se deu de forma descentralizada, à mercê dos lucros imobiliários e da concentração de riqueza promovida pelo neoliberalismo pós-1980.

Reportagem de Michael Waters para a revista The Atlantic, em setembro de 2023, mostrou a bagunça que é o sistema norte-americano. Grande parte das propriedades que margeiam a costa está em mãos privadas: cerca de 60% em Nova York e na Flórida. No norte do país, a situação fica pior: nos estados de Maine e Massachusetts, menos de 12% da costa marítima é de livre acesso. A maior demanda por terrenos à beira-mar elevou os preços e foi dificultando o acesso às áreas públicas de praias parcialmente privadas.

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A pressão pela privatização de áreas costeiras ganha vulto mundo afora. Austrália, Itália, Espanha e Porto Rico, para citar alguns países, enfrentam processos similares.

A causa dessa invasão das praias é a extrema concentração de riqueza, que não dá mostras de arrefecer. Levantamento recente mostrou que, em 2023, os 22,8 milhões de pessoas mais ricas do mundo somaram uma riqueza conjunta de US$ 86,6 trilhões.

Tamanho poder econômico se traduz em poder político, por meio de lobby para desregulamentar mercados, em particular o imobiliário, destino de investimento preferido pelos indivíduos mais ricos.

Como mostrou a Folha9 dos 81 senadores têm imóveis ou terras nessa faixa em questão. A ideia de criar uma "Cancún brasileira" é o retrato de elites econômicas predatórias, incapazes de usar sua riqueza para gerar inovações tecnológicas e soluções para os desafios do século 21.

Mesmo que ocorra um recuo tático por parte do Congresso —devido à reação negativa da opinião pública—, deve-se manter a vigilância contra essa intentona privatista.

Tornar o espaço público das praias uma mercadoria levará à exclusão da população de uma recreação acessível e do contato com a nossa natureza, cada vez mais ameaçada.

Ouçamos o brado do grupo BaianaSystem, na canção "Lucro (Descomprimindo)": "Tire as construções da minha praia, não consigo respirar!".


Mistério ronda o famoso Café Girondino,São Paulo Antiga - FSP

 Douglas Nascimento

SÃO PAULO (SP)

A manhã da última segunda-feira, 3 de junho, despertou diferente no chamado centro histórico de São Paulo. A razão é que um dos mais famosos e tradicionais estabelecimentos comerciais da região, o Café Girondino, não abriu as portas como faz diariamente desde sua inauguração em 1998.

Café Girondino
Estabelecimento tradicional do centro histórico de São Paulo, Café Girondino não abre desde segunda-feira, 3 de junho, deixando espaço para especulações. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Conhecido pelos seus cafés, arroz doce delicioso e também por outras bebidas e pratos saborosos o Girondino fechou suas portas cercado de muito mistério. Isso devido ao fato que desde segunda-feira ninguém consegue contatar a loja ou seus proprietários sobre o que de fato aconteceu por ali, se as atividades se encerraram após 26 anos ou trata-se de algo temporário.

O site oficial do estabelecimento não funciona mais, bem como nenhum dos telefones disponíveis para contato. Outra forma de interagir com o Girondino seria através do perfil pela rede social Instagram, contudo por lá me surpreendi ao ver que as referências à loja matriz foram suprimidas, ficando apenas como endereço a pequena cafeteria instalada dentro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) localizada não muito distante dali, na rua Álvares Penteado.

Café Girondino
Interior do Café Girondino, com as cadeiras empilhadas sobre as mesas e nenhum funcionário no espaço. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Ávido por saber o que realmente acontece, fui até a loja do CCBB tomar um café e buscar informações a respeito. Conversando com a atendente a mesma tratou de responder que trata-se de uma reforma, mas ao ser indagada sobre um contato oficial com os proprietários ficou sem resposta e disse que não estava autorizada a falar a respeito. O mesmo se deu com a funcionária no balcão, que preparava algumas caixas para entrega, ela por sua vez não soube explicar o motivo da loja principal não abrir desde segunda-feira.

Ao retornar ao Café Girondino para observar se alguém chegava no local e para fotografar a fachada fui abordado por uma funcionária de loja próxima, que me chamou para uma conversa. Segundo Roseli (ela não quis fornecer o seu sobrenome) ela esteve no estabelecimento no último dia 31 de maio e notou que diversos itens do cardápio estavam faltando e um ar de que algo estava para acontecer no local, mas não suspeitou que poderia ser o fechamento.

Caso algum responsável pelo Café Girondino queira se pronunciar esta coluna segue à disposição.

Veja mais fotos do Café Girondino:

EVENTUAL FECHAMENTO PODE SER REVÉS PARA A RECUPERAÇÃO DO CENTRO

Enquanto o mistério sobre o fechamento definitivo ou temporário do Café Girondino não se resolve uma coisa é certa. O eventual encerramento das atividades será mais um duro golpe na vida comercial do centro histórico de São Paulo que está cada vez mais vazio.

Caminhar pela rua São Bento é uma tristeza sem tamanho com inúmeras portas comerciais fechadas, especialmente em seu trecho entre a praça do Patriarca e a rua José Bonifácio, onde quase a totalidade das lojas estão com as portas fechadas.

ruas desertas
Uma das ruas mais tradicionais e movimentadas no centro, a São Bento, tem trecho praticamente deserto entre as ruas Direita e José Bonifácio - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

A segurança na região melhorou bastante nos últimos meses e pode ser confirmada nas ruas, com ostensiva presença de policiais militares em todas as esquinas e muitos guardas civis. Contudo é notório e visível que falta por parte da prefeitura paulistana uma política que reaproxime as pessoas do centro histórico.

INSPIRADO EM CAFÉ DO SÉCULO 19

Apesar de estar em um ponto-chave do centro paulistano o atual Café Girondino não tem relação histórica com o primeiro estabelecimento com este nome, surgido na praça da Sé em 1875.

Contudo desde que foi inaugurado procurou emular, com sucesso, a tradição do primeiro. Em uma esquina relativamente privilegiada da cidade o Girondino tem a premissa de permitir bebericar um café ou mesmo almoçar com a vista de um dos pontos turísticos mais bonitos de São Paulo, o Mosteiro de São Bento.

centro histórico de são paulo
O primeiro Café Girondino, na esquina da rua 15 de novembro com a praça da Sé, em fotografia de 1910. Ao fundo a igreja de São Pedro dos Clérigos, demolida em 1911. - Divulgação