terça-feira, 21 de maio de 2024

Catch and kill: conheça a prática de jornais de enterrar reportagens em benefício de amigos, FSP

  ex-diretor executivo da A360, conglomerado de mídia que controla o National Enquirer e outras publicações americanas, admitiu em julgamento na cidade de Nova York, em abril, ter comprado e "enterrado" histórias com potencial de prejudicar a campanha do então candidato à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2016.


Naquele ano, Pecker pagou US$ 30 mil (cerca de R$ 150 mil, em valores corrigidos pela inflação) pelos direitos da história de um suposto filho bastardo do ex-presidente –que se provou falsa– e depois US$ 150 mil (R$ 700 mil) a Karen McDougal, uma ex-modelo da Playboy, pela história de seu suposto caso romântico com Donald Trump.

Pagar por entrevistas não é ilegal nos Estados Unidos, embora muitas publicações não o façam por razões éticas. Mas há exceções, como mostra um texto publicado na revista The Economist.

O ex-diretor executivo da A360 admitiu ter comprado e “enterrado” histórias com potencial de prejudicar a campanha de Trump, em 2016. - REUTERS

Em 1912, o New York Times desembolsou US$ 1.000 (o equivalente a R$ 154 mil em 2024) a um sobrevivente do Titanic por sua versão dos fatos acerca do naufrágio. E, em 1975, na ressaca do escândalo Watergate, a emissora CBS pagou US$ 25 mil (R$ 770 mil hoje) para entrevistar o ex-chefe de gabinete do ex-presidente Richard Nixon.

O que é incomum é que as empresas de mídia comprem histórias justamente com o propósito de impedi-las de circular, protegendo determinados indivíduos de seus efeitos negativos.

No depoimento ao tribunal em Nova York, Pecker narrou ter comprado e "enterrado" depoimentos de mulheres que diziam ter sido assediadas pelo ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, o que lhe valeu uma investigação oficial.

O executivo também disse ter persuadido o jogador de golfe Tiger Woods a aparecer na capa da revista Men’s Fitness por meio de ameaças de publicação de fotos do atleta em um encontro romântico.

Não foi um caso isolado, aparentemente. Em 2019, o magnata Jeff Bezos, dono da Amazon e do Washington Post, acusou o ex-editor do National Enquirer de tentar chantageá-lo usando fotos de um encontro extraconjugal entre o empresário e sua atual noiva, a jornalista Lauren Sanchéz. A A360 nega qualquer ilegalidade no caso.

Folha não paga por informação. O Manual da Redação diz que "o jornalista não pode oferecer valores ou favores pessoais em troca de informação" e "tampouco aceitar valores ou favores pessoais para publicar ou omitir uma notícia".

Estudo da Embrapa mostra que café cresce de forma sustentável na Amazônia. Marcelo Toledo, FSP

  

NAVEGANTES (SC)

Um estudo produzido por pesquisadores de duas unidades da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) afirma que o café produzido na região conhecida como Matas de Rondônia é sustentável e não agride a Amazônia.

Rondônia é responsável por 97% do café da região amazônica e tem produzido cafés que superam 90 pontos —são considerados especiais os que ultrapassam 80 pontos— em 15 municípios, entre eles Cacoal, Castanheiras, Primavera de Rondônia, Santa Luzia do Oeste e São Miguel do Guaporé.

Imagem mostra café robusta amazônico
Estudo da Embrapa mostra que café produzido na região conhecida como Matas de Rondônia não tem vínculo com desmatamento - Divulgação/Embrapa

Na região, os produtores plantam canéforas, variedade mais resistente ao calor que o café arábica, predominante nas lavouras de Minas Gerais, maior produtor do país, e que se adapta mais a temperaturas amenas. Há casos em que o quilo do café especial custa cerca de R$ 200.

Conforme o estudo, que utilizou imagens de satélite de alta resolução como apoio para definir em polígonos as áreas agropecuárias e as de florestas, entre 2020 e 2023 houve desmatamento zero em 7 dos 15 municípios das Matas de Rondônia e, em toda a região, foram detectados traços de retiradas de áreas florestais em menos de 1% da área total ocupada pela cafeicultura.

O mapeamento, produzido pelos pesquisadores Carlos Cesar Ronquim, Nívia Cristina Vieira Rocha (ambos vinculados à Embrapa Territorial, de Campinas) e Enrique Anastácio Alves (da Embrapa Rondônia), servirá como instrumento para determinar a área precisa ocupada com lavouras cafeeiras, sua dispersão e o que existe de uso de solo e florestas preservadas em seu entorno.

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De toda a área, 56% é formada por florestas e mais de 40% equivalem a pastagens, o que, na avaliação dos pesquisadores, significa que é possível ampliar muito a produção de café sem a necessidade de desmatamento.

"Sempre existiu uma percepção equivocada de que a cafeicultura na Amazônia tem um vínculo com o desmatamento. As estatísticas de produção sempre mostraram o contrário. Mas nunca houve um estudo que demonstrasse isso de forma mais técnica e científica", afirmou Alves.

De acordo com ele, o levantamento mostra que o índice das áreas de cultivo com desmatamento recente (desde 2020) é de 0,57%.

"A própria cafeicultura na região, apesar da sua importância socioeconômica, ocupa apenas 0,8% de toda a região. É um impacto de ocupação muito baixo, apesar de ser uma das três culturas agrícolas de maior importância, com cerca de 10 mil famílias de cafeicultores e responsável por 20% de toda mão de obra empregada no agro", afirmou o pesquisador.

A região Matas de Rondônia produziu no ano passado 2,4 milhões de sacas de café numa área de 70 mil hectares (98 mil campos de futebol).

Há 20 anos, a produção estava num patamar próximo ao atual, com cerca de 2 milhões de sacas, mas cultivados numa área de 300 mil hectares (420 mil campos de futebol).

A queda gradual de preços do café nos anos seguintes fez com que produtores desistissem da atividade agrícola, o que resultou na redução de 74% na área plantada entre 2001 e 2018, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A produtividade, porém, subiu 292% no período.

A região é o berço do café conhecido como "robusta amazônico", primeira variedade a receber selo de Indicação Geográfica de cafés canéforas sustentáveis no mundo e que é vendido a países sul-americanos, asiáticos e europeus.

Há 37 mil imóveis rurais nos municípios das Matas de Rondônia com declaração no CAR (Cadastro Ambiental Rural), dos quais menos de 9.000 se dedicam à cafeicultura. A área média em produção é de 3,5 hectares e 95% dos produtores são ligados à agricultura familiar.

"O mapeamento pode se tornar uma virada de chave para a cafeicultura na região amazônica e no Brasil, trazendo rastreabilidade e maior confiança para toda a cadeia de produção, transformação e, principalmente, os consumidores. A mensagem é que os robustas amazônicos são sustentáveis, da agricultura familiar e não desmatam", disse Alves.

Em abril, o governo de Rondônia e o Sebrae fizeram um workshop para planejar o desenvolvimento da cafeicultura para os próximos dez anos.

Segundo o governo do estado, foi possível projetar um crescimento significativo na área de produção, na produtividade e na quantidade de café produzido em Rondônia.

O projeto de mapeamento da cafeicultura no estado faz parte do projeto CarbCafé Rondônia, liderado pela Embrapa, a Caferon (Cafeicultores Associados da Região das Matas de Rondônia) e Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil).

Numa segunda etapa, a pesquisa vai levantar o carbono estocado no solo e nas lavouras cafeeiras e produzir um inventário sobre o cultivo do grão na região.

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