terça-feira, 21 de maio de 2024

Estudo da Embrapa mostra que café cresce de forma sustentável na Amazônia. Marcelo Toledo, FSP

  

NAVEGANTES (SC)

Um estudo produzido por pesquisadores de duas unidades da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) afirma que o café produzido na região conhecida como Matas de Rondônia é sustentável e não agride a Amazônia.

Rondônia é responsável por 97% do café da região amazônica e tem produzido cafés que superam 90 pontos —são considerados especiais os que ultrapassam 80 pontos— em 15 municípios, entre eles Cacoal, Castanheiras, Primavera de Rondônia, Santa Luzia do Oeste e São Miguel do Guaporé.

Imagem mostra café robusta amazônico
Estudo da Embrapa mostra que café produzido na região conhecida como Matas de Rondônia não tem vínculo com desmatamento - Divulgação/Embrapa

Na região, os produtores plantam canéforas, variedade mais resistente ao calor que o café arábica, predominante nas lavouras de Minas Gerais, maior produtor do país, e que se adapta mais a temperaturas amenas. Há casos em que o quilo do café especial custa cerca de R$ 200.

Conforme o estudo, que utilizou imagens de satélite de alta resolução como apoio para definir em polígonos as áreas agropecuárias e as de florestas, entre 2020 e 2023 houve desmatamento zero em 7 dos 15 municípios das Matas de Rondônia e, em toda a região, foram detectados traços de retiradas de áreas florestais em menos de 1% da área total ocupada pela cafeicultura.

O mapeamento, produzido pelos pesquisadores Carlos Cesar Ronquim, Nívia Cristina Vieira Rocha (ambos vinculados à Embrapa Territorial, de Campinas) e Enrique Anastácio Alves (da Embrapa Rondônia), servirá como instrumento para determinar a área precisa ocupada com lavouras cafeeiras, sua dispersão e o que existe de uso de solo e florestas preservadas em seu entorno.

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De toda a área, 56% é formada por florestas e mais de 40% equivalem a pastagens, o que, na avaliação dos pesquisadores, significa que é possível ampliar muito a produção de café sem a necessidade de desmatamento.

"Sempre existiu uma percepção equivocada de que a cafeicultura na Amazônia tem um vínculo com o desmatamento. As estatísticas de produção sempre mostraram o contrário. Mas nunca houve um estudo que demonstrasse isso de forma mais técnica e científica", afirmou Alves.

De acordo com ele, o levantamento mostra que o índice das áreas de cultivo com desmatamento recente (desde 2020) é de 0,57%.

"A própria cafeicultura na região, apesar da sua importância socioeconômica, ocupa apenas 0,8% de toda a região. É um impacto de ocupação muito baixo, apesar de ser uma das três culturas agrícolas de maior importância, com cerca de 10 mil famílias de cafeicultores e responsável por 20% de toda mão de obra empregada no agro", afirmou o pesquisador.

A região Matas de Rondônia produziu no ano passado 2,4 milhões de sacas de café numa área de 70 mil hectares (98 mil campos de futebol).

Há 20 anos, a produção estava num patamar próximo ao atual, com cerca de 2 milhões de sacas, mas cultivados numa área de 300 mil hectares (420 mil campos de futebol).

A queda gradual de preços do café nos anos seguintes fez com que produtores desistissem da atividade agrícola, o que resultou na redução de 74% na área plantada entre 2001 e 2018, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A produtividade, porém, subiu 292% no período.

A região é o berço do café conhecido como "robusta amazônico", primeira variedade a receber selo de Indicação Geográfica de cafés canéforas sustentáveis no mundo e que é vendido a países sul-americanos, asiáticos e europeus.

Há 37 mil imóveis rurais nos municípios das Matas de Rondônia com declaração no CAR (Cadastro Ambiental Rural), dos quais menos de 9.000 se dedicam à cafeicultura. A área média em produção é de 3,5 hectares e 95% dos produtores são ligados à agricultura familiar.

"O mapeamento pode se tornar uma virada de chave para a cafeicultura na região amazônica e no Brasil, trazendo rastreabilidade e maior confiança para toda a cadeia de produção, transformação e, principalmente, os consumidores. A mensagem é que os robustas amazônicos são sustentáveis, da agricultura familiar e não desmatam", disse Alves.

Em abril, o governo de Rondônia e o Sebrae fizeram um workshop para planejar o desenvolvimento da cafeicultura para os próximos dez anos.

Segundo o governo do estado, foi possível projetar um crescimento significativo na área de produção, na produtividade e na quantidade de café produzido em Rondônia.

O projeto de mapeamento da cafeicultura no estado faz parte do projeto CarbCafé Rondônia, liderado pela Embrapa, a Caferon (Cafeicultores Associados da Região das Matas de Rondônia) e Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil).

Numa segunda etapa, a pesquisa vai levantar o carbono estocado no solo e nas lavouras cafeeiras e produzir um inventário sobre o cultivo do grão na região.

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