Um estudo produzido por pesquisadores de duas unidades da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) afirma que o café produzido na região conhecida como Matas de Rondônia é sustentável e não agride a Amazônia.
Rondônia é responsável por 97% do café da região amazônica e tem produzido cafés que superam 90 pontos —são considerados especiais os que ultrapassam 80 pontos— em 15 municípios, entre eles Cacoal, Castanheiras, Primavera de Rondônia, Santa Luzia do Oeste e São Miguel do Guaporé.
Na região, os produtores plantam canéforas, variedade mais resistente ao calor que o café arábica, predominante nas lavouras de Minas Gerais, maior produtor do país, e que se adapta mais a temperaturas amenas. Há casos em que o quilo do café especial custa cerca de R$ 200.
Conforme o estudo, que utilizou imagens de satélite de alta resolução como apoio para definir em polígonos as áreas agropecuárias e as de florestas, entre 2020 e 2023 houve desmatamento zero em 7 dos 15 municípios das Matas de Rondônia e, em toda a região, foram detectados traços de retiradas de áreas florestais em menos de 1% da área total ocupada pela cafeicultura.
O mapeamento, produzido pelos pesquisadores Carlos Cesar Ronquim, Nívia Cristina Vieira Rocha (ambos vinculados à Embrapa Territorial, de Campinas) e Enrique Anastácio Alves (da Embrapa Rondônia), servirá como instrumento para determinar a área precisa ocupada com lavouras cafeeiras, sua dispersão e o que existe de uso de solo e florestas preservadas em seu entorno.
De toda a área, 56% é formada por florestas e mais de 40% equivalem a pastagens, o que, na avaliação dos pesquisadores, significa que é possível ampliar muito a produção de café sem a necessidade de desmatamento.
"Sempre existiu uma percepção equivocada de que a cafeicultura na Amazônia tem um vínculo com o desmatamento. As estatísticas de produção sempre mostraram o contrário. Mas nunca houve um estudo que demonstrasse isso de forma mais técnica e científica", afirmou Alves.
De acordo com ele, o levantamento mostra que o índice das áreas de cultivo com desmatamento recente (desde 2020) é de 0,57%.
"A própria cafeicultura na região, apesar da sua importância socioeconômica, ocupa apenas 0,8% de toda a região. É um impacto de ocupação muito baixo, apesar de ser uma das três culturas agrícolas de maior importância, com cerca de 10 mil famílias de cafeicultores e responsável por 20% de toda mão de obra empregada no agro", afirmou o pesquisador.
A região Matas de Rondônia produziu no ano passado 2,4 milhões de sacas de café numa área de 70 mil hectares (98 mil campos de futebol).
Há 20 anos, a produção estava num patamar próximo ao atual, com cerca de 2 milhões de sacas, mas cultivados numa área de 300 mil hectares (420 mil campos de futebol).
A queda gradual de preços do café nos anos seguintes fez com que produtores desistissem da atividade agrícola, o que resultou na redução de 74% na área plantada entre 2001 e 2018, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A produtividade, porém, subiu 292% no período.
A região é o berço do café conhecido como "robusta amazônico", primeira variedade a receber selo de Indicação Geográfica de cafés canéforas sustentáveis no mundo e que é vendido a países sul-americanos, asiáticos e europeus.
Há 37 mil imóveis rurais nos municípios das Matas de Rondônia com declaração no CAR (Cadastro Ambiental Rural), dos quais menos de 9.000 se dedicam à cafeicultura. A área média em produção é de 3,5 hectares e 95% dos produtores são ligados à agricultura familiar.
"O mapeamento pode se tornar uma virada de chave para a cafeicultura na região amazônica e no Brasil, trazendo rastreabilidade e maior confiança para toda a cadeia de produção, transformação e, principalmente, os consumidores. A mensagem é que os robustas amazônicos são sustentáveis, da agricultura familiar e não desmatam", disse Alves.
Em abril, o governo de Rondônia e o Sebrae fizeram um workshop para planejar o desenvolvimento da cafeicultura para os próximos dez anos.
Segundo o governo do estado, foi possível projetar um crescimento significativo na área de produção, na produtividade e na quantidade de café produzido em Rondônia.
O projeto de mapeamento da cafeicultura no estado faz parte do projeto CarbCafé Rondônia, liderado pela Embrapa, a Caferon (Cafeicultores Associados da Região das Matas de Rondônia) e Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil).
Numa segunda etapa, a pesquisa vai levantar o carbono estocado no solo e nas lavouras cafeeiras e produzir um inventário sobre o cultivo do grão na região.
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