quarta-feira, 3 de abril de 2024

NILTO TATTO - Biomas brasileiros mais uma vez sob ameaça no Congresso Nacional, FSP

 A Câmara dos Deputados aprovou, em caráter conclusivo, após deliberação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), no último dia 20 de março, o projeto 364/2019, de autoria do deputado Alceu Moreira (MDB-RS). Trata-se de mais um duro golpe dos vários desferidos nos últimos anos pela maioria do Congresso Nacional contra o meio ambiente —desta vez, reduzindo a proteção legal aos biomas brasileiros como a mata atlântica, o cerrado e o Pantanal.

O projeto modifica artigos da Lei da Mata Atlântica, mas na prática coloca em risco cerca de 48 milhões de hectares de campos nativos em todo o país, além de quase 15 milhões de hectares na Amazônia. Foi originalmente protocolado para resolver uma situação envolvendo produtores gaúchos, que pretendiam retirar áreas denominadas de campos de altitude, típicos da região, do que é considerado território de mata atlântica. Contudo, extrapolou o escopo original e se tornou um aterrador projeto contra os biomas brasileiros.

É necessário reconhecer que a intenção inicial do projeto tinha seus méritos e estava sendo resolvida pelas primeiras versões de pareceres do relator da matéria na CCJC, o deputado Lucas Redecker (PSDB-RS). Nesse sentido, foi acordado de pedirmos conjuntamente a análise de mérito do PL nessa comissão, uma vez que o relatório aprovado na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável deturpava a ideia original do projeto e desfigurava completamente a Lei da Mata Atlântica.

A grande polêmica, que gera preocupação da bancada ambientalista da Câmara dos Deputados, foi a mudança de última hora, atendendo a pressões das organizações financiadoras da Frente Parlamentar da Agropecuária e seus parlamentares, resultando num texto novo e que vai muito além do razoável ao transformar imensas porções do Pantanal, cerrado, mata atlântica e Amazônia em áreas agricultáveis, abrindo as portas para ocupação desenfreada, desmatamento e danos irreparáveis para a biodiversidade destes ambientes.

São compreensíveis as mudanças legislativas em tramitação de relatórios de projetos de lei e o peso da correlação de forças no dia a dia da atividade parlamentar. O que é questionável, no caso, foi a manobra utilizada na CCJC, comissão cujo papel é avaliar a constitucionalidade de projetos e promover mudanças apenas para adequá-los. Para alterar o mérito na comissão, foi realizado um acordo a partir de um texto que recuperasse a ideia original do PL e não colocasse em risco a Lei da Mata Atlântica e o Código Florestal. Tendo autorização para mudar o mérito na CCJ, o relator rompeu o acordo e apresentou relatório que representa um dos maiores retrocessos na legislação ambiental dos últimos anos.

Tal atitude abre um precedente perigoso. A análise de mérito na CCJ foi com base em um texto acordado entre ambientalistas, produtores locais, prefeituras, vereadores e parlamentares das bancadas da agropecuária e ambientalistas.

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Com o rompimento do acordo, para atender exclusivamente a um determinado setor econômico (reflorestamento de eucaliptos e pinus) e colocando em risco toda a biodiversidade dos campos nativos de todo o país, tomamos a decisão de encaminhar recurso ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para anular a tramitação original, de caráter terminativo na CCJC, e assim passar antes pelo plenário e só depois seguir para a análise do Senado.

Para além dos aspectos legais do projeto, fica mais uma vez a importância da reflexão de qual país queremos construir em meio à urgência do combate às mudanças climáticas e à retomada do processo de reconstrução ambiental em curso no país: até quando o Parlamento será porta-voz do interesse de poucos e do "jeitinho" e do "compadrio" para afrouxar leis de proteção, facilitar crimes ambientais e o desenvolvimento a qualquer custo?

Um Brasil justo e sustentável que queremos, às vésperas de sediar a COP30, não pode ser refém de interesses alheios aos da sociedade nem pode prescindir de sua mata atlântica ou de qualquer outro bioma.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Bancada inteira do PSDB debanda e partido pode ficar sem representação na Câmara de SP, FSP

 Todos os oito integrantes da bancada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo decidiram pedir desfiliação do partido, num novo marco para a crise sem precedentes que vive a legenda na cidade que é seu berço.

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Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal de São Paulo, no centro da cidade - Eduardo Knapp/Folhapress

Os tucanos, assim, poderão ficar sem representação no Legislativo paulistano após o fechamento da janela de filiações, em 5 de abril.

A única possibilidade de manterem um solitário parlamentar é se Carlos Bezerra Jr,. atual secretário municipal de Assistência Social, ficar no partido. Ele é vereador licenciado e deve retomar o mandato na semana que vem para disputar a reeleição. Ao Painel, disse que ainda está avaliando se permanecerá no PSDB.

Já saíram Aurélio Nomura (para o PSD), Rute Costa (PL), Sandra Santana (MDB) e Beto Social (Podemos). Gilson Barreto, Fábio Riva e João Jorge devem entrar no MDB na semana que vem. Xexéu Tripoli também aderiu à debandada, mas ainda não escolheu seu destino.

Entre as razões citadas pelos vereadores estão a instabilidade crônica na legenda, a falta de definição sobre a chapa de vereadores e sobretudo a relutância em apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

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Na última sexta-feira (22), a Executiva Municipal descartou coligação com Nunes e encaminhou as possibilidades de candidatura própria ou apoio a outro nome (na prática, seria a Tabata Amaral, do PSB)

"O partido está sem rumo na cidade de São Paulo", diz Jorge. Para Tripoli, o PSDB "não tem organização, não tem chapa, não tem diálogo".

Procurado, o presidente municipal do PSDB, José Aníbal, minimizou a saída. "Em 2008, todos os vereadores do partido, à exceção de um, o Tião Faria, apoiaram o Gilberto Kassab para prefeito em vez do Geraldo Alckmin. E o partido seguiu adiante. Agora, a história se repete", afirmou.

Para o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, as possíveis trocas, se acontecerem, serão consequência de um "fisiologismo barato, resultado da frágil legislação eleitoral e partidária, que permite isso, um dos grandes males políticos do Brasil".

"O PSDB quer ao seu lado políticos preocupados com políticas públicas e não com cargos no Poder Executivo. Aliás, o PSDB nasceu sob a égide de um conceito basilar: ‘longe das benesses do poder e perto do pulsar das ruas’".

Ex-secretário em gestões tucanas, Wilson Pedroso diz que Aníbal distorce os fatos. "Na eleição do Kassab, os vereadores ficaram no PSDB e nós tivemos uma chapa. Além disso, o Ricardo Nunes foi uma escolha pessoal do Bruno Covas", diz ele, que defende apoio ao prefeito.

"Tenho a memória de uma época em que o PSDB tinha o respeito da classe política e dos paulistanos. Esse passado não pode ser manchado de forma irresponsável e eleitoreira", afirma.


Francesa GreenYellow vai investir R$ 400 milhões em geração renovável no Brasil, FSP

 

Letícia Fucuchima
SÃO PAULO | REUTERS

A francesa GreenYellow anunciou nesta terça-feira (2) que vai investir R$ 400 milhões neste ano em projetos de geração renovável e soluções de energia no Brasil e que está diversificando sua atuação no país com um braço dedicado a demandas energéticas do setor de mineração.

Especializada em geração solar e eficiência energética, a empresa do fundo de private equity Ardian prevê avançar no desenvolvimento de sua carteira de geração distribuída solar, que chegou a 144,8 megawatts-pico (MWp) em usinas operacionais em 2023.

A expectativa é conectar 65 MWp neste ano e mais 60 MWp em 2025, chegando a 270 MWp entregues ao final do próximo ano.

Usina de energia solar em Marcoussis, na França - Bertrand Guay - 12.fev.2024/AFP

Outro foco está nos projetos de eficiência energética para consumidores comerciais e industriais, em segmentos como varejo alimentar. Nessa linha de negócios, a GreenYellow prevê assinar no ano projetos com 25 GWh de energia economizada a clientes, com crescimento frente aos 17 GWh de 2023.

Para ajudar a financiar os projetos já contratados em seu plano de investimentos, a GreenYellow vai colocar à venda parte de seu portfólio de usinas solares operacionais. O formato da operação e seu tamanho ainda estão sendo definidos, disse o presidente da empresa no Brasil, Marcelo Xavier.

"A gente quer finalizar esse processo até outubro, tem alguns interessados. A gente tem uma expectativa de até junho receber algumas ofertas não vinculantes e começar com 'due diligence' em agosto".

Segundo o executivo, a companhia chegou a testar o mercado no passado com uma venda de 49% de suas usinas, mas o processo não avançou conforme esperado.

"A gente começou com 49%, não teve muita aderência, o mercado queria 100%. Quando nós voltamos com 100%, os valores de mercado não estavam de acordo com o que nós esperávamos. A gente decidiu esperar um pouquinho, este ano a gente já tem uma indicação de que a valoração desse portfólio já melhorou".

Atuando no mercado brasileiro desde 2014, a multinacional que nasceu como um braço de energia do grupo Casino possui mais de 1.000 projetos de eficiência energética implementados e mais de 80 usinas de geração solar no Brasil.

Entre seus clientes, estão as varejistas Magazine Luiza e Pão de Açúcar e as empresas de telecomunicações Oi e Claro.

A companhia também espera avançar com seu primeiro empreendimento de geração fotovoltaica centralizada, de grande escala, na modalidade de autoprodução de energia. Com previsão de entrega em 2026, a usina terá 150 MWp de potência e será construída em Goiás.

"É um projeto que a gente vem tratando com bastante cuidado, bastante carinho. Está em fase de desenvolvimento e assinatura de PPA (contrato de energia). E assim que a gente tiver esses PPAs é assinados a gente faz o 'close' da usina para poder iniciar a construção."

ENERGIA PARA MINERAÇÃO

Em paralelo, a GreenYellow vem investindo para diversificar os negócios, em segmentos como mobilidade elétrica e armazenamento de energia, e está apostando agora na mineração, com uma joint venture específica para atender demandas do setor que é um importante consumidor de eletricidade.

Batizada de Green2Mine, a empresa foi criada junto da consultoria Re-Energi e trabalhará em projetos específicos para a cadeia de mineração, com foco em eficiência energética ou mesmo fornecimento de energia renovável às operações dessas empresas, com construção de usinas dedicadas.

"A gente viu que as nossas soluções, elas não se enquadram em players muito grandes, mas sim para players médios. A gente tem dois ou três projetos em andamento acelerado, com mineradoras mesmo".

"Não tocamos ainda em outras partes da cadeia, como fertilizantes e cimento, mas está no nosso radar. São projetos de autoprodução e de eficiência energética, como retrofit de equipamentos", explicou Xavier.