terça-feira, 22 de março de 2022

O Telegram tem o direito de ignorar a Justiça brasileira?, FSP

 

O purismo na defesa de um valor presta um desserviço à concretização desse valor no mundo real. Vejo liberais indignados com a decisão de Alexandre de Moraes de suspender o Telegram. Dizem que é censura, que um aplicativo de mensagens usado por tantos milhões de brasileiros não pode ser simplesmente suspenso só porque alguns o utilizam para crimes.

É inegável que o país todo sairia perdendo se o aplicativo de mensagens e listas de transmissão fosse banido. Para ficar num exemplo, lembrado por Jorge Pontual na Globo News, grande parte das informações sobre a guerra na Ucrânia chegam a nós via Telegram.

O problema é que também há grupos criminosos operando na plataforma. Pedofilia, neonazismo, complôs antidemocráticos, tráfico de drogas. Isso faz com que a Justiça espere, naturalmente, a cooperação da plataforma para coibir esses crimes.

Marca do Telegram - Reuters

A maioria das plataformas já toma medidas pró-ativas para combater desinformação e atividades criminosas. Já com o Telegram, a cooperação era zero. Chamados do TSE para colaborarem no combate à desinformação eleitoral, e mesmo decisões judiciais de bloqueio de contas e fornecimento de informações, foram ignorados reiteradamente. Em outros países, a mesma coisa: ignorou solenemente os pedidos da Justiça alemã para colaborar no combate a grupos neonazistas.

Os irmãos Durov, criadores do aplicativo, adotam uma filosofia libertária pura. Poder se comunicar com total privacidade, fora inclusive do alcance do Estado, era parte de seu marketing. Oferecer essa liberdade total é admirável numa ditadura que persegue dissidentes democratas. Fazer o mesmo numa democracia em que neonazistas tramam o assassinato de representantes eleitos, como ocorreu na Alemanha, já não é tão belo assim.

Uma empresa deve ter o direito de ignorar decisões judiciais brasileiras e continuar a operar livremente em nosso país? Quem disser que sim, quer a anarquia. Moraes poderia ter ido aos poucos, cobrando multas progressivas antes de partir para o tudo ou nada? Talvez. Multar usuários que furassem o bloqueio em 100 mil reais seria um absurdo? Sem dúvida. O fato é que ele optou, como de costume, pelo jogo duro.

E a jogada funcionou. Os meses de corpo mole do cessaram na hora. Agora o Telegram já indicou um representante legal em nosso país, bloqueou as contas indicadas como criminosas e se comprometeu a fornecer as informações que a Justiça demanda. Vitória da liberdade. Da liberdade real, e não da utopia libertária. Ao contrário da imaginação utópica, a ausência de Estado de Direito não leva à harmonia entre os homens, e sim ao poder do crime organizado e facções terroristas, que são, esses sim, nocivos à liberdade.

O Telegram é pequeno se comparado a outras plataformas. Conforme revelado na pesquisa BTG-Pactual desta segunda-feira (21), apenas 7% dos entrevistados usam o aplicativo para se informar sobre política (compare isso com os 42% do Youtube e 39% do Facebook). No entanto, é nele que se encontram os grupos mais radicalizados, gerando e consumindo conteúdo extremista que seria rapidamente derrubado em outras plataformas.

De uma coisa podemos ter a mais tranquila certeza: caso perca as eleições, Bolsonaro tentará desacreditar as urnas e causar tumulto, numa reedição da Invasão do Capitólio americano em janeiro de 2021. O Telegram é a ferramenta mais provável dessa mobilização. Quando e se ela acontecer, Justiça e empresa terão que agir rapidamente para defender nossa liberdade. A julgar pelo desenrolar deste fim de semana, estamos preparados.

Filha de Covas diz que ida de Alckmin para o PSB é baseada em rancor e vaidade, FSP

 

Filha do ex-governador Mario Covas e mãe do ex-prefeito Bruno Covas, Renata Covas criticou a decisão de Geraldo Alckmin de migrar para o PSB para ser vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Alckmin foi vice de Covas e sempre se apresentou politicamente como herdeiro do ex-governador, morto em 2001.

Renata Covas, filha do ex-governador de SP Mário Covas - Adriano Vizoni - 16.fev.2012/Folhapress

A declaração de Renata foi feita em comentário a um longo texto publicado numa rede social no domingo (20) por José Henrique Reis Lobo, expoente da ala histórica do tucanato paulista.

No post, Lobo, ex-secretário estadual e ex-presidente do diretório paulistano do PSDB, chama Alckmin de "caricatura de si mesmo" e disse que sua mudança para o PSB não se dá por convicção, mas por oportunismo.

"Análise perfeita. Continuo na mesma crença: decisão com base no rancor (ao Doria) e na vaidade (voltou à ribalta) não pode gerar bom resultado!", escreveu a filha de Covas.

O texto de Lobo teve quase cem comentários, a maioria apoiando suas críticas a Alckmin.

"Sob o pretexto de que ‘a hora é de conciliação nacional’, quando, na verdade, conciliação com bandidos é crime de lesa-pátria, [Alckmin] escolheu juntar-se a celerados", escreveu Lobo.

Ele é ligado ao senador José Serra, de quem foi secretário no governo estadual. Também coordenou sua campanha presidencial em 2010, entre outros cargos que exerceu no partido.

No texto, Lobo diz que Alckmin sempre esteve "acostumado a ser ungido candidato toda vez que disputou um cargo eletivo". E acusa o ex-governador de ter um duplo padrão com relação a prévias dentro do partido.

"Quando não era candidato, [Alckmin] argumentava que as prévias propiciariam a renovação do partido. Quando era, recusava as prévias com o argumento de que não era hora de se fazer experiência", afirma.

O ex-secretário declara ainda que o ex-governador mudou de campo político por um projeto pessoal que acalenta, de um dia ainda ser presidente do Brasil.

"Por trás disso tudo, o que tem mesmo é o projeto político pessoal de Geraldo Alckmin, que está enxergando a possibilidade de vir a ser candidato a presidente da República na sucessão de Lula, se este ganhar a próxima eleição", diz.

Ele finalizou o texto com um desabafo pessoal. "Não foram poucas, nem pequenas as lutas que travei por ele [Alckmin], desde a sua escolha para vice de [Mario] Covas até as muitas eleições que disputou. Daí meu desaponto", afirma.


O Brasil dentro do pesadelo, Alvaro Costa e Silva, FSP

 Poderia ser uma cena com a assinatura de Quentin Tarantino —se o diretor de "Pulp Fiction" tivesse perdido o talento, caído em desgraça em Hollywood e resolvido se esconder do mundo numa cidade-satélite de Brasília. Espetáculo tosco, cafona e demente, mas capaz de ilustrar em apenas 26 segundos o pesadelo dentro do qual o Brasil está preso desde a eleição de Bolsonaro em 2018.

O vídeo viralizou e ganhou título: "A Dama de Vermelho". A ação é um manifesto exibicionista e armamentista. Mostra uma mulher, cujo vestido cor de sangue, longo e decotado, mal esconde as tatuagens nas costas e nos braços, atravessando a avenida Samdu Norte, em Taguatinga, como se estivesse num desfile de moda. Dilma Jane (não é nome artístico, mas o da pia batismal) vive seu momento de celebridade ao interromper a circulação de carros e ônibus com a ajuda de sete homens armados.

A ostentação ilegal de armas na via pública fez com que a Polícia Civil, com apoio do Exército, cumprisse mandados de busca e apreensão na Loja do Pescador, que fica na rua onde foi realizada a gravação. Os atores do filme deram a desculpa padrão no país governado pela mentira: tudo não passara de uma brincadeira. Eles estão registrados como CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores).

Pelas imagens, os peritos conseguiram reconhecer as armas usadas e revelar mais uma brincadeira da turma: elas eram diferentes das que foram entregues à polícia. As repassadas pelos suspeitos eram réplicas, do tipo airsoft, enquanto a análise do vídeo identificou um arsenal de grosso calibre: espingarda Pump Military 3.0, carabina Taurus CT9, espingarda Huglu XR7, espingarda Armsan A612. Pobres javalis.

Imagine que tipo de diversão —inspirada nos tiroteios à Tarantino— inofensivos colecionadores e caçadores poderão aprontar durante a campanha eleitoral. E após o resultado das urnas, se este não estampar o alvo certo.

Homens param trânsito com armas para que mulher atravesse a rua em Taguatinga (DF)
Homens param trânsito com armas para que mulher atravesse a rua em Taguatinga (DF) - Reprodução