Poderia ser uma cena com a assinatura de Quentin Tarantino —se o diretor de "Pulp Fiction" tivesse perdido o talento, caído em desgraça em Hollywood e resolvido se esconder do mundo numa cidade-satélite de Brasília. Espetáculo tosco, cafona e demente, mas capaz de ilustrar em apenas 26 segundos o pesadelo dentro do qual o Brasil está preso desde a eleição de Bolsonaro em 2018.
O vídeo viralizou e ganhou título: "A Dama de Vermelho". A ação é um manifesto exibicionista e armamentista. Mostra uma mulher, cujo vestido cor de sangue, longo e decotado, mal esconde as tatuagens nas costas e nos braços, atravessando a avenida Samdu Norte, em Taguatinga, como se estivesse num desfile de moda. Dilma Jane (não é nome artístico, mas o da pia batismal) vive seu momento de celebridade ao interromper a circulação de carros e ônibus com a ajuda de sete homens armados.
A ostentação ilegal de armas na via pública fez com que a Polícia Civil, com apoio do Exército, cumprisse mandados de busca e apreensão na Loja do Pescador, que fica na rua onde foi realizada a gravação. Os atores do filme deram a desculpa padrão no país governado pela mentira: tudo não passara de uma brincadeira. Eles estão registrados como CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores).
Pelas imagens, os peritos conseguiram reconhecer as armas usadas e revelar mais uma brincadeira da turma: elas eram diferentes das que foram entregues à polícia. As repassadas pelos suspeitos eram réplicas, do tipo airsoft, enquanto a análise do vídeo identificou um arsenal de grosso calibre: espingarda Pump Military 3.0, carabina Taurus CT9, espingarda Huglu XR7, espingarda Armsan A612. Pobres javalis.
Imagine que tipo de diversão —inspirada nos tiroteios à Tarantino— inofensivos colecionadores e caçadores poderão aprontar durante a campanha eleitoral. E após o resultado das urnas, se este não estampar o alvo certo.
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