17.mar.2022 às 4h10
Aliados do PT e do ex-presidente Lula saíram em defesa do ex-governador paulista Geraldo Alckmin após seu nome aparecer em delação premiada de um executivo da Ecovias, empresa que possui concessão de rodovias em São Paulo.
Como mostrou a Folha, Marcelino Rafart de Seras, ex-presidente da Ecovias, disse em acordo de colaboração que a empresa repassou R$ 3 milhões como caixa 2 para Alckmin. Os pagamentos, disse ele, foram efetuados em 2010 (R$ 1 milhão) e em 2014 (R$ 2 milhões), em valores da época.
Cotado para ser vice de Lula, Alckmin negou as acusações, disse não conhecer os termos da delação e afirmou lamentar que, "depois de tantos anos, mas em novo ano eleitoral, o noticiário seja ocupado por versões irresponsáveis e acusações injustas".
A apuração relativa ao caixa 2 também é investigada pela Delinst (Delegacia de Defesa Institucional), da Polícia Federal, que apura questões eleitorais.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que integra o grupo que debate o programa de governo a ser apresentado por Lula, disse à Folha que a citação na delação e a investigação da PF não atrapalham a possibilidade de Alckmin ser vice do petista.
Segundo ele, a palavra do delator não constitui prova, e o PT defende o princípio da presunção da inocência. "Estranhamos esse fato vir à tona às vésperas da eleição", diz Teixeira.
Coordenador do grupo Prerrogativas, que organizou o jantar entre Lula e Alckmin em dezembro de 2021, o advogado Marco Aurélio Carvalho defendeu Alckmin e disse que é chegada a hora de debater o instituto da delação premiada.
Segundo ele, não se pode permitir que delações sejam construídas para atender objetivos políticos.
"Não há surpresa alguma na tentativa de se atingir a honra do Alckmin, em especial agora quando o seu nome é cogitado para compor a chapa do Lula, franco favorito para as próximas eleições presidenciais. Velha receita, criminosa, oportunista e nem um pouco criativa", diz ele.
Em anos anteriores, petistas fizeram críticas a Alckmin em casos de suspeita de corrupção e questionavam o que consideravam seletividade na comparação entre investigações contra o PT e contra Geraldo Alckmin.
Enquanto alguns petistas comentaram a citação ao ex-tucano, a cúpula do partido, o secretário nacional de comunicação e líderes do Congresso se mantiveram em silêncio nas redes sociais e não quiseram comentar quando procurados pela Folha.
Em 2018, o então líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), classificou de "escândalo" a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de enviar para a Justiça Eleitoral de São Paulo a investigação contra Alckmin.
O ex-governador foi citado em delação de ex-executivos da Odebrecht, no âmbito da Lava Jato. Ele foi acusado na época de receber mais de R$ 10 milhões em caixa dois.
"É inadmissível que, de maneira irregular, essas acusações tenham sido retiradas do âmbito da Lava Jato e tenham sido destinadas para investigação no âmbito da Justiça Eleitoral de São Paulo. É algo gritante do ponto de vista da seletividade."
"Ao longo dos últimos anos, inúmeras situações semelhantes a essa, envolvendo especialmente lideranças ligadas ao Partido dos Trabalhadores, não tiveram esse tratamento", disse Pimenta.
Em 2014, o então presidente estadual do PT, Emídio de Souza, falou sobre os ataques promovidos por dirigentes e congressistas do PSDB ao PT no escândalo da Petrobras.
"Os tucanos que hoje gritam contra o PT são os mesmos que emudeceram quando o PSDB foi apanhado no trensalão em São Paulo", disse, em referência à investigação do Ministério Público paulista sobre um cartel em licitações de trens nas gestões Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
Em maio do mesmo ano, a CPI dos Pedágios foi criada para apurar eventuais irregularidades nas tarifas cobradas pelas concessionárias nas rodovias paulistas e eventual responsabilidade do governo Alckmin no caso. O deputado estadual Antônio Mentor (PT) foi o proponente e também o vice-presidente da CPI.
Em abril de 2015, o site do PT publicou texto fazendo acusações de corrupção contra Alckmin.
O texto assinado como "Agência PT de Notícias" diz que, "dos R$ 40,3 milhões arrecadados com doações de campanha pelo então candidato tucano Geraldo Alckmin, ao Governo de São Paulo, em 2014, R$ 12,37 milhões tiveram origem nas 13 empresas denunciadas por fraudes e formação de cartel em contratos relativos à linha 5 do metrô paulistano, o chamado caso do 'trensalão tucano'".
Em 2017, os petistas de São Paulo apostaram nas delações da Odebrecht para pedir a instalação de uma CPI na Alesp para investigar obras da empreiteira no estado. Alckmin foi citado na delação.
Dois anos depois foi a vez da CPI da Dersa. O requerimento, apresentado pela então deputada estadual Beth Sahão (PT), previa a análise de eventuais irregularidades praticadas por agentes públicos que "deram causa a fraude nas licitações e contratos do governo do estado".
Esses agentes públicos, diz o requerimento, são suspeitos de desviarem "recursos públicos, utilizando-se de empresas de fachada para lavagem de recursos de empreiteiras nessas obras viárias, por meio da atuação do Sr. Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, no período de 2007 a 2019".