domingo, 9 de junho de 2019

O QUE A FOLHA PENSA Não há substituto

Sistema político flexível acomoda presidentes sem apetite ou força para costura parlamentar

Rodrigo Maia, presidente da Câmara, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre - Andre Coelho/Folhapress
A aprovação da reforma constitucional que obriga o governo a honrar as emendas coletivas dos congressistas não deve ser vista apenas como resposta circunstancial ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Inscreve-se num longo processo de ascendência do Legislativo federal em que superpoderes presidenciais vieram sendo mitigados.
Nessa marcha, asfixiou-se a margem para o Executivo negociar liberação de verbas por apoio parlamentar. Limitou-se sua prerrogativa de editar medidas provisórias.
[ x ]
A Lei de Responsabilidade Fiscal minou o arbítrio dos administradores. Regulamentos e movimentações de parlamentares e operadores do direito inibiram o uso de canais extraorçamentários, como a Petrobras e o BNDES, pelo mandonismo do presidente da República.
O sistema resultante parece ter-se tornado plástico o suficiente para lidar com presidentes fracos, como foram Dilma Rousseff (PT) após a reeleição e Michel Temer (MDB) após o escândalo da JBS.
Também mostra flexibilidade para acomodar-se à simbiose entre a maioria do Legislativo e o Executivo —marca da primeira fase da gestão do emedebista— e, agora, à sua antítese. Bolsonaro, afinal, montou o ministério à revelia do Congresso, onde não faz questão de apoio majoritário regular.
Mas uma coisa é o Legislativo, fortalecido no processo, exibir capacidade de absorver choques sem produzir ruptura —e de preencher, até certo ponto, lacunas deixadas por presidentes sem força ou apetite para a costura parlamentar.
Outra, diversa, é esse dispositivo oferecer as respostas certas e tempestivas aos desafios do desenvolvimento do país. Apenas metaforicamente esse arranjo pode ser chamado de parlamentarismo branco. Na verdade, trata-se de um modo pouco produtivo e estável de operação do nosso presidencialismo.
Recordem-se as pautas destrutivas para as finanças públicas aprovadas no Congresso nos estertores do governo Dilma. Ou o parasitismo autoritário de caminhoneiros sob um Temer inerte em 2018.
O fato de hoje haver dois presidentes bem mais responsáveis na Câmara e no Senado representa um alívio apenas relativo e temporário, pois eles não comandam a maioria dos legisladores nem estarão no posto daqui a dois anos.
Se o objetivo é estabilizar as expectativas da população e dos agentes econômicos sobre o avanço da agenda reformista para tirar o país do buraco, nada é mais eficaz que a atuação decidida do presidente da República no sentido de estabelecer e manter uma base sólida de apoio no Congresso Nacional.
Jair Bolsonaro dá sinais de ter melhorado sua conduta. Diminuíram nas últimas semanas os estampidos de desarmonia vindos do seu governo. Falta assumir a tarefa de coordenar o pacto político no Congresso. No Brasil, não há substituto perfeito para semipresidentes.

Para que serve o ombudsman?, FSP

Após onda de fechamento de postos, publicações cogitam recriar a função

Nesta semana fui a Nova York para o congresso internacional de ombudsmans e as conversas que presenciei poderiam ter ocorrido em muitas das redações brasileiras. 
Sob o tema "Jornalismo em um mundo polarizado", o encontro reuniu na Universidade de Columbia cerca de 35 profissionais de 27 de países tão díspares como Índia, Suíça, Estados Unidos, Canadá, Zimbábue, Argentina, África do Sul, México e Brasil.
A desconfiança em relação à mídia foi o ponto central do debate. Uma questão explorada com mais timidez —mas presente em cada entrelinha das conversas— foi a a perda de força do papel do ombudsman nos grandes jornais.
Por que num mundo no qual a imprensa está sendo colocada em xeque, importantes periódicos decidiram simplesmente abrir mão dessa ponte entre o jornal e o leitor?
No mais, entre relatos sobre furos e histórias falsas, foi possível perceber que não só os ombudsmans mas a imprensa como um todo estão no divã.
Essa descrença em relação aos veículos de comunicação, que pode ter como origem a crise econômica mundial de 2008, a proliferação de vozes proporcionada pelas redes sociais ou até o mau humor das pessoas com as instituições em geral, está colocando a indústria para pensar.
Como superar esse quadro exigiu debates mais longos, sem respostas definitivas. 
No geral, o grupo vive experiências com seus leitores parecidas e tem questionamentos similares. 
Foi ponto pacífico a percepção de que é tarefa do ombudsman deixar claro ao leitor que a imparcialidade no jornalismo não engloba direitos e evidências científicas. 
Nesse cenário polarizado, é comum ouvir pedidos de tratamento equânime em casos nos quais ele simplesmente não se aplica. 
Um exemplo citado mais de uma vez é que não há como ter um debate equilibrado entre cientistas e defensores do terraplanismo. Ou tentar dar o mesmo peso ao outro lado de quem defende a redução de direitos de uma minoria (ou de uma maioria sem acesso ao poder). 
Outro ponto abordado foi a importância do papel do ombudsman nos esforços para explicar o processo jornalístico— muitas vezes obscuro para o leitor. 
Falou-se do cuidado com a precisão da língua e do entendimento de que, embora erros devam ser evitados, corrigi-los rapidamente é sempre o melhor remédio.  
O papel do leitor nesse esforço para aperfeiçoar o trabalho jornalístico também fez parte do debate. 
Kyle Pope, editor da revista Columbia Journalism Review, apresentou em vídeo um projeto que mostra a reação de leitores ao se depararem com publicações  falsas. 
Uma banca foi montada num ponto movimentado de Nova York com jornais e revistas com títulos como o "Texas agora é território mexicano" ou "há analgésico na água que você bebe". 
As pessoas paravam diante da banca entre curiosas e perplexas. O objetivo é mostrar que, sim, os leitores também podem se responsabilizar pelas informações que consomem. E, se isso é feito no papel, por que não nas redes sociais? 
Voltando à função de ombudsman, há quem diga que, após a popularização das redes sociais, em especial o Twitter, não haveria mais razão para existir um representante dos leitores.
O jornal The New York times criou a posição em 2003, logo após o caso Jason Blair —repórter descoberto ao contar histórias falsas
O jornal manteve a função até 2017, quando, em meio a insatisfações com a última representante dos leitores, decidiu eliminar a posição.
Mas casos como o de Blair seguem acontecendo. 
No evento na Universidade de Columbia, um ombudsman suíço contou história semelhante ocorrida na alemã Der Spiegel, revista que enfrentou recentemente o problema
Um repórter passou cerca de dez dias numa cidadezinha americana e escreveu uma reportagem sobre como os moradores decidiram apoiar Donald Trump, levados pela raiva com a economia e a imigração. Nada era verdade. 
O curioso é que, segundo o ombudsman suíço, a revista foi avisada via Twitter de que a história parecia ser falsa, mas ninguém respondeu aos posts. 
Um ex-ombudsman americano com quem conversei acredita que a decisão do Times e de outros jornais de grande circulação tem menos a ver com os custos de manter a posição e mais com o fato de que ter alguém fazendo esse trabalho acaba sendo uma amolação para o jornal.
Agora, para evitar que casos como o da reportagem sobre as eleições de Trump se repitam, periódicos na Alemanha refazem o caminho do The New York Times e cogitam contratar um ombudsman.
Flavia Lima
Repórter especializada em economia, é formada em ciências sociais pela USP e em direito pelo Mackenzie. É ombudsman da Folha desde maio de 2019.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

PEDRO DORIA - O Google pensa sobre política






O discurso do Google está alinhado com a nova postura do Vale do Silício
07/06/2019 | 05h00
 Por Pedro Doria - O Estado de S.Paulo