domingo, 27 de dezembro de 2015

16.12.15 | Dejetos de suínos suprirão energia de município no Oeste do Paraná







Fonte: Jornal Eletrônico de Itaipu - 11.12.2015

Paraná - A Companhia Paranaense de Energia (Copel) e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) firmaram, na tarde desta sexta-feira (11), um convênio que permitirá ao município de Entre Rios do Oeste, na região Oeste do Paraná, utilizar toda a energia gerada a partir de resíduos da suinocultura e avicultura para edificações e iluminação públicas.

A assinatura do convênio, realizada na Câmara Municipal de Entre Rios, contou com a presença do governador do Paraná, Beto Richa; do diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek; do prefeito Jones Neuri Heiden; do presidente da Copel, Luiz Fernando Vianna; de deputados estaduais e federais, e representantes de cooperativas, entre outras autoridades.

O convênio prevê investimentos de R$ 17 milhões nesta primeira fase, que deverá ter início em janeiro de 2016. Dezenove propriedades rurais serão dotadas de biodigestores, que armazenam os dejetos. Por meio do processo de biogestão, é produzido biogás, que é canalizado para uma central termelétrica com potência instalada de 480 kilowatts (kW). A infraestrutura contará com 22 km de biogasodutos.

O sistema é semelhante ao já empregado pela Itaipu, CIBiogás e outros parceiros em um projeto que une 34 produtores da microbacia do rio Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon. Porém, enquanto em Rondon a produção diária é de 800 metros cúbicos de gás, em Entre Rios a produção nesta fase inicial será de 5 mil metros cúbicos, com capacidade para chegar a até 17 mil metros cúbicos nas etapas posteriores.

Os 480 kW desta fase inicial serão suficientes para suprir toda a demanda da prefeitura, abrangendo edificações públicas (como escolas, postos de saúde e repartições), iluminação pública e outros serviços que demandam energia, como poços artesianos. Os produtores rurais serão remunerados proporcionalmente à energia gerada.

“Neste mês, a conta de luz da prefeitura é de 82 mil reais”, informou o prefeito. “Nossa expectativa é que o projeto comece a dar resultados já em 2016”, completou.

Com uma população de 4 mil pessoas e um plantel de aproximadamente 130 mil suínos, Entre Rios está transformando um enorme passivo ambiental em fator de desenvolvimento. Samek destacou que esse é exatamente o papel da tecnologia que a Itaipu e o CIBiogás colocaram à disposição dos parceiros dessa iniciativa.

“O gás metano (resultado da decomposição dos dejetos) é venenoso para a atmosfera. Ao transformá-lo em energia, estamos transformando um problema em solução e viabilizando, do ponto de vista ecológico, um aumento na produção. Ou seja, com esse sistema, é possível produzir mais e gerar mais emprego e renda, sem prejudicar o meio ambiente”, explicou Samek.

Vianna, da Copel, informou que esse projeto poderá ser replicado em outras regiões do Paraná, dando mais sustentabilidade à produção pecuária estadual. O governador Beto Richa acrescentou que o investimento é importante, “em um momento em que o mundo inteiro demonstra preocupação com o meio ambiente”.

“Hoje, temos a obrigação de cuidar do meio ambiente. E devermos ser rápidos e agir com responsabilidade para deixarmos para as próximas gerações um mundo pelo menos igual ao que recebemos”, afirmou Richa.

Santos já se prepara para avanço do mar , OESP


Município precisará investir R$ 238 mi em medidas de adaptação para evitar prejuízos de mais de R$ 1 bi com uma subida do oceano de até 80 cm

Com as mudanças climáticas, o oceano subirá de 45 a 80 centímetros até 2100, avançando até 80 metros sobre as praias da cidade de Santos, no litoral paulista. Em diversos pontos, o mar invadirá periodicamente 25% da área urbana - causando prejuízos bilionários -, enquanto a operação no maior porto do Brasil se tornará inviável. Para enfrentar esse cenário catastrófico, previsto por dois diferentes projetos de pesquisa, a prefeitura da cidade e a comunidade científica já começaram a traçar planos para as grandes obras de adaptação que se farão necessárias.
Cada um dos estudos considerou diferentes cenários climáticos e usou modelos distintos para calcular os efeitos da elevação do mar na cidade paulista. Um deles prevê que a elevação da maré atingirá no mínimo 18 centímetros até 2050 e poderá chegar a 45 centímetros até 2100. Com isso, Santos precisará investir R$ 238 milhões em medidas de adaptação para evitar prejuízos de mais de R$ 1 bilhão nas duas áreas mais vulneráveis da cidade: a Ponta da Praia - bairro valorizado que já sofre com o avanço da maré - e a zona noroeste, área de baixa renda, longe das praias, mas alagável e cercada de mangues. 
 
 
“Esses valores foram calculados com base no valor venal das propriedades que serão atingidas. Mas o estudo não incluiu os impactos no porto e na infraestrutura urbana. Por isso, o valor real do prejuízo será imensamente maior que R$ 1 bilhão”, disse o cientista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), coordenador geral do estudo - que também envolve instituições como a Universidade de São Paulo, (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O estudo faz parte do Projeto Metropole (em inglês), uma iniciativa internacional que diagnosticou os impactos da elevação da maré em três cidades - Santos, Broward (Estados Unidos) e Selsey (Inglaterra). “No Brasil, Santos foi escolhida porque é a cidade litorânea que possui os dados históricos mais completos sobre as variações das marés e o georreferenciamento mais preciso entre as cidades litorâneas”, disse. 
Depois de uma fase de avaliação detalhada dos impactos, os cientistas apresentaram publicamente os resultados e, no início de dezembro, coletaram sugestões de adaptação de representantes da sociedade civil de Santos. As propostas foram processadas nos Estados Unidos, para avaliação da viabilidade técnica e quantificação dos valores das obras. “A prefeitura encampou o projeto, porque ele vai auxiliar a cidade a criar um plano de adaptação às mudanças climáticas”, disse Marengo. Para ele, a necessidade de obras de adaptação é uma realidade inevitável - e os estudo feitos em Santos serão o modelo para outras cidades litorâneas. “Não é preciso esperar que o clima mude para ver o que já está acontecendo. A população de Santos já percebe o problema quando as ressacas inundam a avenida da praia. Por isso alguns prédios têm garagens subterrâneas com comportas”, afirmou.
TURISTAS E MORADORES APROVEITAM DOMINGO DE PRAIA NO GUARUJÁ
Sergio Castro/Estadão
Guarujá
Praia das Pitangueiras teve bom movimento neste domingo, 27, graças ao dia de sol na Baixada Santista
Plano de adaptação. Segundo o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), as propostas escolhidas incluem a modernização das comportas dos canais, a recuperação do mangue, o aumento artificial da faixa de areia das praias e a construção de muros de proteção em trechos da orla. “Todas as ações terão base em informações técnicas, mas a discussão será profunda. Ouviremos a população e não aplicaremos a opinião isolada de nenhum técnico ou autoridade”, disse Barbosa. 
De acordo com ele, o projeto é o embrião de um plano para enfrentar a elevação da maré. No início de dezembro, um decreto criou a Comissão de Adaptação à Mudança do Clima. “Levamos a sério o diagnóstico feito pelos cientistas e sabemos que as mudanças climáticas são inevitáveis. No prazo de um ano, teremos um plano para que Santos possa se adaptar”, declarou.

A classe média na pior, por KENNETH SERBIN - O ESTADO DE S.PAULO


Antes majoritária nos EUA, ela perdeu terreno para a classe alta e atrabalhadora – e ainda sofre com as frequentes tentativas de suicídio

 
 
Numa virada histórica muito importante, Brasil e México tornaram-se sociedades de consumo fundamentalmente de classe média. Outros países em desenvolvimento seguem trajetória de crescimento semelhante. Entretanto, em 2015, foi possível confirmar uma tendência perturbadora em sentido contrário na primeira nação fundamentalmente de classe média em todo o mundo: depois de viver por mais de quarenta anos essa experiência, os Estados Unidos deixaram de ter uma classe média majoritária.
No dia 9 de dezembro, o Pew Research Center, que pesquisa as tendências sociais e demográficas, divulgou um relatório, The American Middle Class Is Losing Ground, demonstrando que, atualmente, o número de americanos que se inscrevem nas classes superior e trabalhadora é maior que o da classe média. Em 1971, 61% dos americanos adultos viviam em casas de classe média. Hoje, essa porcentagem é de apenas 50%. (Levando-se em conta as famílias, a porcentagem é menor ainda.)
Em termos positivos, o relatório observa que uma das causas desse declínio é a ascensão de milhões de pessoas à classe superior. Por outro lado, em termos negativos, milhões também desceram para a classe trabalhadora. “Uma análise mais profunda dessa mudança na classe média revela que na economia americana está ocorrendo uma maior polarização”, concluiu o relatório do Pew. E acrescentou: “Os adultos mais jovens, entre os 18 e os 29 anos, são os mais afetados pelo aumento significativo de pessoas pertencentes à sua faixa nas camadas de menor renda”.
A blogueira especialista em finanças Yves Smith, que tem considerável número de leitores, questionou a caracterização da classe superior, que o Pew descreveu como composta por 21% dos americanos adultos. Ela destacou que foram os americanos que compõem o patamar mais elevado de 1% da sociedade – e especialmente o 0,1% mais elevado – que se beneficiaram principalmente em termos de aumento da renda e da acumulação da riqueza.
O Pew fornece um método de cálculo para determinar a classe econômica de um cidadão. Eu me incluí na categoria de renda de um professor de universidade com uma família de três pessoas, o que me define como pertencente à classe média. Com a renda da minha esposa, professora da escola primária, nós nos qualificamos como classe superior – uma estranha classificação porque a casa, os carros e outros itens de nossa propriedade de maneira nenhuma são típicos da classe superior.
Nossa situação ilustra um fato profundo e no entanto frequentemente ignorado nos EUA, no Brasil e em outros países: o fato de na família haver duas pessoas que contribuem para a renda e a elevação do custo de vida em relação aos ganhos.
Imigrante, tapeceiro, sem curso secundário, nos anos 40 e 50 meu avô materno sustentava uma família de quatro pessoas com seu salário. Minha avó era dona de casa. Meus pais não cursaram uma universidade, e era meu pai quem sustentava em geral a família. Eles eram proprietários de casas sem, no entanto, jamais precisarem fazer uma hipoteca.
Eu tenho um doutorado, e minha esposa um mestrado. Com sorte, conseguiremos pagar toda a dívida hipotecária contraída para a compra da nossa casa até nos aposentarmos, daqui a uns dez, quinze anos. E, pelo fato de ambos trabalharmos, temos mais despesas relacionadas ao nosso emprego (um segundo carro e uma apólice de seguro, por exemplo).
Milhões de americanos têm histórias semelhantes à nossa.
Outros fatores corroeram a classe média: a drástica queda da filiação a sindicatos, o aumento do custo dos estudos universitários e o desaparecimento das aposentadorias privadas garantidas, substituídas em muitos casos por fundos de aposentadoria voluntários para os quais as empresas e os empregados contribuem, mas que não rendem o equivalente às aposentadorias antigas da previdência privada.
O estresse produzido pela polarização econômica, associado a outros fatores, pode literalmente estar encurtando a vida dos americanos. As pesquisas mais recentes indicam que a expectativa de vida dos americanos parou de crescer pela primeira vez desde que as estatísticas começaram a medi-la, no final dos anos 60. Embora a taxa de mortalidade de alguns grupos, como negros e latinos de meia idade, continue decrescendo, a dos brancos de meia idade aumentou no período de 1999 a 2013, segundo estudo realizado por dois acadêmicos da Universidade Princeton.
Parte dos alicerces da população americana – os brancos constituem o grupo maior na classe média – está morrendo envenenada por drogas e álcool, de suicídio e de doenças hepáticas crônicas como a cirrose, afirma o estudo. O documento registrou também um aumento da insalubridade entre os brancos de meia idade: “Eles relatam o declínio da saúde, da saúde mental e da capacidade de realizar as atividades da vida diária, o aumento de dores crônicas e a incapacidade de trabalhar, bem como a deterioração das funções hepáticas medida clinicamente; tudo isso aponta para um crescente sofrimento dessa população”. De fato, relatos da mídia indicam que o aumento do uso de heroína e da oxicodona, medicamento com efeito de narcótico, aumentou entre os brancos mais afetados pela crise econômica.
O estudo de Princeton calculou que, nesse período, morreu aproximadamente meio milhão de brancos de meia idade, cifra comparável ao total de americanos que morreram de aids.
Com o surgimento do movimento Black Lives Matter (A vida dos negros é importante) na esteira das mortes de afro-americanos provocadas pela polícia às quais está sendo dada muita publicidade, uma matéria divulgada por uma emissora no dia 16 de dezembro destaca o desespero contido nos dados de Princeton: “Há mais homens brancos de meia idade que morrem em tentativas de suicídio por arma de fogo do que homens de cor assassinados com armas de fogo”. Essa terrível situação levou muitos americanos a buscar esperança no discurso populista de Donald Trump e Bernie Sanders, pré-candidatos às primárias presidenciais americanas.
O declínio da classe média americana é um alerta a todas as sociedades. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
KENNETH SERBIN PROFESSOR TITULAR DE HISTÓRIA NA UNIVERSIDADE DE SAN DIEGO