segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Ontem é hoje, por GILLES LAPOUGE - O ESTADO DE S. PAULO


O aniversário das grandes batalhas entrelaça o tempo cíclico das estações com o "never more" de nossas vidas


A Europa é um continente que recorda. Adora comemorações, aniversários e celebrações. Todo verão, de julho a setembro, mas também no outono e mesmo no inverno, ela reedita as grandes batalhas que marcaram sua tumultuada história.
Se passarem pela Áustria, poderão assistir à Batalha de Wagram, travada por Napoleão em 1809. Ou então, se chegarem até as Ardenas, verão milhares de soldados americanos, ingleses e alemães recomeçarem sem fim as batalhas de 1944, quando Hitler viveu seu derradeiro furor. A guerra mundial de 1914-18 também é um fantástico catálogo de batalhas, como Verdun, o Marne ou Les Éparges, que costumam ser reeditadas.
Às vezes, remontamos no passado longínquo. Reproduzimos até mesmo a Batalha de Bouvines, na qual, em julho de 1214 (isto é, há mil anos), o rei da França, Felipe Augusto, enfrentou três poderosas monarquias europeias - Otão IV de Brunsvique, o inglês João Sem-Terra e o português Fernando.

Saudades de uma peleja. Europeus encenam a Batalha de Ardenas, que marcou vitória contra os nazistas
Saudades de uma peleja. Europeus encenam a Batalha de Ardenas, que marcou vitória contra os nazistas

Essas batalhas fantasmas, essas batalhas mortas, exumadas do passado, como se exuma uma ossada do paleolítico ou um vaso da antiga Grécia, são executadas com um rigor escrupuloso. Os soldados, milhares, dezenas de milhares de soldados, são voluntários. Eles envergam os uniformes da época com um realismo alucinante, seguram arcabuzes ou fuzis de época. As enfermeiras têm os mesmos uniformes de então. Para as batalhas recentes, são encontrados automóveis de 1916 ou tanques de 1945. Supermercados gigantes de uniformes e de material antigo surgiram principalmente na Bélgica. Um tanque de guerra de 1944 americano ou alemão vale uma fortuna, mesmo se alugado.
Todos os “soldados” conhecem a batalha na ponta dos dedos: passaram o inverno recapitulando a história. O desenrolar do combate foi elaborado por velhos militares eruditos que prefeririam morrer a dar aos seus soldados fuzis de uma outra guerra. Cada gesto é a cópia de um gesto feito há 100, 500, às vezes mil anos. É o realismo! Nada de imaginação, nem de poesia! O embate terá de ser reproduzido - como um falsificador refaz um quadro de Rembrandt ou de Veronese.
Esses simulacros de batalhas inscrevem-se num vasto movimento de ressurreição do tempo perdido. Nostalgia! A Europa e principalmente a França são ávidas de aniversários. Celebram-se sem cessar datas passadas: o nascimento de um rei, sua morte, seu casamento, sua primeira gripe, a invenção do avião, da fotografia, um naufrágio, uma lei, a abertura de um bordel, o desmoronamento de uma igreja.
Neste verão, os organizadores não sabiam como estabelecer uma ordem para tantos aniversários. Era preciso encontrar um espaço para as batalhas de 1945, mas também um lugar para a última batalha de Napoleão, Waterloo, em 1815. Revivemos o momento em que os hussardos de Napoleão surpreenderam o pobre “soldado Ryan”.
Há uma fila de comemorações. Há um verdadeiro congestionamento de memórias. Os anos se misturam, se entrechocam. Cada dia é uma bonequinha russa. Se a abrirmos, encontraremos em seu interior cinco ou seis jornadas antigas. Não se pode arrancar uma folha de calendário sem topar com um domingo antigo, uma segunda-feira desaparecida. A véspera e o amanhã se sobrepõem. Os aniversários dão topadas entre si. A vontade é distribuir senhas, como nas repartições do seguro social. 
O tempo é o combustível comum a todas essas “reproduções de antigas batalhas”, a todos esses aniversários. Há o tempo circular que não morre jamais e retorna a cada ano ou a cada século, e o tempo linear, o tempo da História, que se consome, morre e jamais recomeça.
Algumas festas comemoram o tempo circular, o tempo natural, o tempo sem começo nem fim, um tempo ao mesmo tempo rápido e insubmergível, frágil e no entanto indelével, pois ele retorna no ano ou no século seguinte. É o tempo dos pagãos, mas também o dos filósofos gregos antigos, Parmênides ou Pitágoras, o tempo que percorre o quadrante do relógio e que recomeça a cada doze horas sua ronda eterna. Esse tempo do Eterno Retorno não quer conhecer nada da História, pois o tempo da História, justamente, não retorna jamais.
Ao contrário, outras comemorações, por exemplo as reconstituições de batalhas antigas, consomem o tempo histórico, ou seja, um tempo linear que é o de Heráclito (“Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”). A batalha de Waterloo ou a chegada de Cabral ao Brasil ou o suplício de Tiradentes aconteceram em dado momento e não se reproduzirão jamais. Mas o aniversário, a comemoração ou a reprodução de uma antiga batalha fazem reviver todos os anos acontecimentos que desapareceram irrevogavelmente. Os dois modelos de tempo - o linear e o circular - então se conjugam. Um aniversário realiza esse “tour de force”: ele entrelaça a doce, monótona e repetitiva ciranda das estações com o curso cego e irremediável da História, com o “never more” das nossas vidas.
Embora sejam incompatíveis, os dois modelos de tempo, o histórico e o circular, desempenham a mesma função. Arquimedes traça seus círculos (que procedem do atemporal) na cidade de Siracusa à qual a História acaba de atear fogo.
O caso de Jesus Cristo esclarece essas sutilezas. Jesus é um atleta do aniversário do aniversário, da comemoração. Está à vontade no tempo humano. No entanto, no início, teve dificuldade em penetrar nele. A própria data do seu nascimento é um segredo. Tácito, que é seu contemporâneo, assinala simplesmente que algo aconteceu no reinado de Tibério, lá, ao lado da Judeia, mas não sabe bem o quê.
Mas, em seguida, Jesus está muito à vontade no tempo circular. Jesus adora os aniversários ou, antes, seus fiéis o adoram. Ele se apodera do tempo redondo das estações, dos solstícios, dos equinócios e dos aniversários. Celebra o retorno regular do seu nascimento, de seu suplício, de sua ressurreição, da Páscoa, da ascensão, de seu reencontro com os peregrinos de Emaús. Cada domingo, há 2 mil anos, as igrejas e os templos reproduzem a subida aos céus de sua mãe, suas atribulações com Judas ou a sua crucificação, exatamente como no ano 2015 soldados voluntários reproduzem a Batalha de Wagram, de Waterloo ou das Ardenas. Há dois mil anos, Jesus Cristo diz todas as manhãs, ou todos os anos, a Lázaro: “Levanta-te e anda”.
Assim, à primeira vista, Cristo parece um especialista deste tempo, sempre recomeçado, que é o tempo das antigas civilizações, por exemplo, dos gregos, o de Parmênides ou de Pitágoras.
Mas Cristo é também um enérgico adepto do tempo irreversível, do tempo da História. Por quê? Sua vinda à terra quebrou o tempo antigo. Graças a Jesus, há um começo da história e haverá um fim, o apocalipse, o Juízo Final e o fim do mundo. A irrupção de Jesus, em certo momento do tempo, foi um acontecimento extraordinário que determinou o ano zero e que desenredou o tempo circular das antigas civilizações, substituindo-as pelo tempo mortal e irreversível da História.
Jorge Luis Borges teve a percepção disso: “Aristóteles nos diz que os pitagóricos professavam a crença, o dogma do Eterno Retorno que Nietzsche descobriria tempos mais tarde, ou seja, a ideia do tempo cíclico refutado por Santo Agostinho na Cidade de Deus. Santo Agostinho disse, empregando uma extraordinária metáfora, que a cruz de Cristo nos salvou do terrível labirinto circular dos estoicos”.
A análise de Borges é correta. No entanto, é incompleta. O grande cego de Buenos Aires se esquece de dizer que, se a Igreja de Jesus pôs em movimento o tempo linear, o tempo histórico, permanece igualmente uma grande produtora do tempo circular. É o que testemunham, sobre o tímpano das catedrais, a Roda da Fortuna assim como o retorno anual das mesmas missas, das mesmas cerimônias, Páscoa e Natal, Pentecostes e Todos os Santos, etc. Combinar os dois registros do tempo é o gênio do cristianismo. Teremos de escolher entre esses dois modelos de duração? Certamente, o tempo circular, o Eterno Retorno, tem seu encanto. É tranquilizador. Ele elimina o inesperado, a surpresa ou o desconhecido, e mesmo a morte, mas é monótono, destila um enfado infinito. Quando aprendeu que Nietzsche havia introduzido na filosofia o modelo do Eterno Retorno, Woody Allen se desmanchou em lágrimas e disse ao professor: “Então, terei de rever eternamente Holiday on Ice?”
O aniversário, a reprodução maníaca das antigas batalhas, são o ponto de articulação desses dois filósofos do tempo. Eles asseguram sua sutura. Combinam as figuras incompatíveis. É ali que floresce o seu gênio. Seu estofo é tecido com lãs e sedas de todas as cores. O que lhes confere seus moirés e suas seduções, suas complexidades, seus paradoxos e suas verdades.
O aniversário decorre de dois modelos de tempo. Ele nos ensina que o presente só existe porque morre, e que ele renasce no momento em que acreditamos que morreu, como de resto fez Jesus Cristo. Nas curiosas cerimônias que o aniversário fomenta, a memória e o esquecimento cessam de ser irreconciliáveis.
Todas as coisas, sempre, morrem e entretanto renascem. Cada instante é sem antecedentes e sem posteridade, mas ele jamais se apaga.
O passado, o presente e o futuro se confundem, tornam-se indiscerníveis uns dos outros. Todas as coisas se vão e todas retornam. Hoje pela manhã o sol nasceu há mil anos e se porá em seguida, em cinco milhões de anos, ou seja, há vinte séculos. O tempo é uma trágica linha reta. E é redondo como uma bola.
“Tudo está no presente, entenda isto”, escreve William Faulkner. “Ontem só acabará amanhã e amanhã começou há dez mil anos.” 
/ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Plataforma faz a ponte entre MEIs e clientes


CRIS OLIVETTE
19 Julho 2015 | 07:53

Projeto piloto iniciado no Rio Grande do Sul vai abranger todo o País; ferramenta também permite emissão de NF e gestão financeira

Juliano Londero (de óculos) com o time que criou e opera a plataforma Acelera MEI, (a partir da esquerda) Rodrigo Rath, Daniel Docki, Pedro Gabriel e Felipe Soares
Juliano Londero (de óculos) com o time que criou e opera a plataforma Acelera MEI, (a partir da esquerda) Rodrigo Rath, Daniel Docki, Pedro Gabriel e Felipe Soares
Em breve, os microempreendedores individuais (MEIs) de todo o Brasil contarão com o apoio da plataforma Acelera MEI, que desde março está em operação no Rio Grandi do Sul. A ferramenta foi criada para auxiliá-los no gerenciamento das atividades e para conectá-los com os consumidores. “Com ela, os MEIs poderão crescer de forma organizada e estruturada”, afirma o idealizador do serviço, Juliano Londero. 
Segundo ele, o lançamento nacional deve ocorrer em agosto. “Temos reunião agendada com o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, em Brasília, para apresentar o projeto. Em seguida, faremos o lançamento”, diz.
Dono de outro negócio na área de automação empresarial, Londero e seu sócio resolveram criar a spin off – empresa que nasce a partir de outra, com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço, com foco nos MEIs. “Esse mercado está em plena expansão. Hoje, no Brasil, temos mais de 5 milhões de microempreendedores, responsáveis por 27% do PIB nacional”, diz.
Ele afirma que a startup participou do edital Inova RS, lançado pelo Sebrae no ano passado, e foi selecionada. “Recebemos R$ 109 mil para desenvolvermos o projeto e colocá-lo em operação”, conta.
O gestor de projetos na área de inovação do Sebrae-RS, Gustavo Moreira, diz que o programa é uma iniciativa do Sebrae Nacional e tem por objetivo fomentar os pequenos negócios. “Nesta edição, tivemos 90 inscritos e selecionamos 42 empresas, entre as quais distribuímos R$ 4 milhões em recursos não reembolsáveis.”
Londero explica que o consumidor que necessita de um prestador de serviço ou produto, lança a demanda na plataforma, que indica os empreendedores que estão mais próximos a ele para executar a demanda.
“Caso não encontre o profissional adequado, a ferramenta direciona a solicitação para nós, e procuramos no mercado os MEIs para aquele serviço. Temos parceria com empresas de classificados que divulgam a demanda, convocando os MEIs a se cadastrarem na plataforma.”
Ele ressalta que a plataforma também fornece sistema de gestão para que o MEI emita nota fiscal eletrônica e faça o controle financeiro de caixa, deixando o fechamento financeiro pronto para o final do ano.
Até o momento, a ferramenta tem 2 mil profissionais cadastrados. “Começamos o projeto piloto aqui no Rio Grande do Sul. Estamos ajustando as variáveis e nos preparando para expandir para o restante do País.” Segundo ele, para o MEI receber as solicitações de serviços não precisam pagar nada. Mas para gerar as notas fiscais de serviços o custo anual é de R$ 99.
Em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, o consultor de informática, Jefferson Cunha, é um dos usuários da plataforma. Segundo ele, o desejo de usar a ferramenta foi um incentivo para se formalizar. “Fiz o cadastro em março e até o momento tive aumento de 30% nas solicitações de serviço”, diz.
Cunha também foi um dos primeiros usuários do Acelera MEI a usufruir da parceria que a plataforma firmou com a Payleven – empresa de tecnologia que oferece meios de pagamentos para micro e pequenos empreendedores. “Hoje, pouco se usa dinheiro físico. Antes, meu pagamento era feito por meio de transferência bancaria. Agora, com a máquina da Payleven, os clientes pagam com cartão de crédito ou débito. Com essa facilidade, eles podem solicitar serviços maiores e parcelar o pagamento no cartão”, conta.
A diretora geral da Payleven Brasil, Adriana Barbosa, conta que o negócio foi criado em 2012. “Identificamos que havia oportunidade de criar uma solução de aceitação de cartão que fosse acessível e desburocratizada, voltada para microempreendedores e profissionais liberais. A parceria com a Acelera MEI está nos ajudando a atingir o objetivo de democratizar a aceitação de cartões no Brasil.”
19.7 Adriana Barbosa da payleven
Em 2014 a Payleven fez uma pesquisa e identificou que o principal motivo que fez com que os estabelecimentos passassem a aceitar cartão é porque 41% deles perdiam venda. “O consumidor não anda mais com dinheiro, apenas com cartão, sem essa opção de pagamento, eles perdiam vendas.”
Adriana diz que outro motivo está relacionado ao parcelamento do pagamento, muito difundido no País. “Esse sistema incentiva o consumidor a gastar mais, o que faz aumentar a receita do lojista. Estabelecimentos que passaram a aceitar cartão com a Payleven, depois de um ano tiveram aumento de 175% no faturamento. Um resultado bastante relevante para o mercado”, afirma.
A empresária conta que trabalha para tornar a experiência cada vez mais acessível ao usuário. “Agora, por exemplo, o usuário não tem mais custo fixo com a ferramenta. Ele pode comprar o leitor em nosso site e pagar em 12 parcelas fixas de R$ 23,90. O produto é entregue no endereço indicado em seu cadastro. Depois de pagar o leitor, só terá algum custo quando fizer venda.”
Segundo ela, pagamento feito com cartão de crédito à vista, tem taxa de 3,39% e o empreendedor recebe o dinheiro em 30 dias. Para receber o valor da venda em dois dias a taxa é de 4,39%. Sendo que há acréscimo de 1,99% para cada parcela adicional no cartão de crédito. Os pagamentos feitos com cartão de débito tem taxa de 2,69% e o recebimento do valor da venda ocorre em dois dias úteis.
Adriana conta que no final de 2014, a Payleven tinha 60 mil clientes usando a solução, distribuídos em 1,6 mil cidades. “Em abril deste ano, já estávamos em duas mil cidades e com 100 mil clientes.”
Segundo ela, a parceria com a Payleven é perfeita porque ambos atuam no mesmo nicho. “Enquanto a atuação deles visa proporcionar uma visibilidade maior aos MEIs e aproximá-los do consumidor por meio da plataforma, a nossa atuação visa facilitar o crescimento dos MEIs, por meio do aumento de receita decorrente das facilidades oferecidas aos clientes nas formas de pagamento.”

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Máquina de corrupção, por Janio de Freitas, in FSP

Da Folha
Janio de Freitas
Nem tanto pela prisão de alguém eminente como o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, posto sob suspeita de corrupção como presidente da Eletronuclear, mas pela abertura de nova frente de investigações, a Lava Jato dá um passo para a demonstração de que a máquina corruptora movida pelas empreiteiras não tem limites.
Hidrelétricas, estradas, pontes, infraestrutura de comunicações, metrôs, edificações –onde quer que as grandes empreiteiras estiveram ou estejam, é área minada por corrupção. Seja no nível federal, seja no estadual e no municipal. Licitações e contratos corretos por certo houve e há, mas como fatos fora do sistema. Assim é pelo menos desde a abertura da Transamazônica no período do general Médici –ocasião em que foram estabelecidas as fórmulas, hoje uma norma, de compartilhamento da obra e de entendimento entre as empreiteiras para divisão das oportunidades.
Faço eco do já escrito aqui muitas vezes: atacar a corrupção manobrada pelas grandes empreiteiras, para obras públicas e para seus negócios de concessões e privatizações, seria mudar toda a prática política no Brasil. A voracidade de parlamentares e partidos que oprime governos, para entrega de ministérios, secretarias e empresas a políticos e a indicados seus, origina-se nas grandes empreiteiras e seus interesses tentaculares, lançados sobre a administração pública.
Não há um só propósito legítimo para que partidos e seus políticos rebaixem-se até a condição de chantagistas para obter diretorias em estatais, autarquias e ministérios. Manietar as empreiteiras e, portanto, fechar aqueles guichês de corrupção seria, além do mais, dar a tais seções do serviço público a possibilidade de se tornarem mais eficientes. E a custos menores. Um Brasil que o Brasil não conhece.
Petrobras, Eletronuclear –vamos em frente?
ATÔMICA
A Folha não se lembrou, mas "O Globo", por intermédio de José Casado, não esqueceu: "A 'Delta IV' (...) foi revelada pela repórter Tânia Malheiros. Estava em nome do capitão-de-fragata Marcos Honaiser e do seu chefe, Othon. Funcionava como caixa para pagamentos das compras feitas no submundo do comércio de materiais nucleares".
A revelação de Tânia Malheiros foi feita na Folha. Espetacular. Acompanhei-a de perto: trabalho cercado de perigos, inclusive ou sobretudo de morte, mas feito com persistência e perfeição técnica de apuração, até revelar o sistema de "Contas Delta" e prová-las. Fortunas que escorriam em segredo, por contas bancárias mascaradas e manipuladas por militares e uns poucos civis, sem controle algum e sem registro de seus destinos. Era a ditadura em ação para desenvolver a propulsão e a bomba nucleares.
O Othon citado por Casado é o almirante preso agora pela Lava Jato, suspeito de corrupção como presidente na Eletronuclear. O livro que Tânia escreveu a partir de suas reportagens foi editado aqui e no exterior. Na Alemanha, tem várias edições.
A imprensa é um território de pequenas e grandes injustiças, não só para fora. Meses depois do seu trabalho, e não por causa dele, Tânia não pôde continuar no jornal. Decidiu abandonar o jornalismo. Hoje é cantora, e vai abrindo um caminho de reconhecimento, crescente.
NA MOITA
O sucinto noticiário da palestra de Eduardo Cunha para empresários paulistas, anteontem, inovou. Não fez a costumeira citação de notáveis presentes, não colheu as obviedades de praxe. Nem as imagens da plateia permitiam identificações.
Eduardo Cunha é atilado. Percebeu. Xiiiiii.