28 de setembro de 2011 | 3h 09
JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo
Ao voltar para casa após um dia de trabalho, encontrei um bilhete colocado na porta: "Por favor, compareça à delegacia de polícia de forma imediata". Pensando que eu seria algum testemunha de um crime ou algo do gênero, cumpri o que dizia o recado. Mas, ao chegar ao local, fui surpreendido com a notícia de que eu era o principal suspeito de um delito. No caso, um delito ambiental.
A polícia suíça havia descoberto que eu não havia procedido com a reciclagem de papel de forma correta. E era verdade. Por falta de espaço em um dos compartimentos do lixo, naquela semana eu acabei colocando papel e plástico no mesmo local de reciclagem.
Identificada a irregularidade, a polícia local iniciou uma investigação para determinar o autor do delito. Ao analisar o papel jogado, descobriu envelopes de três cartas que estavam endereçadas a mim. O próximo passo foi o de concluir que eu teria sido o autor do delito de não reciclar de forma correta o papel.
O que impressiona não é apenas a seriedade da polícia suíça em tratar do assunto, mas o procedimento. Na delegacia, havia um dossiê com fotos do local de reciclagem, com o crime demonstrado: minhas cartas jogadas no mesmo local que o plástico.
Fui obrigado a pagar o equivalente a 35 euros de multa pelo delito e escutar um sermão da policial encarregada do meu caso. Mas o fato demonstrou uma nova dimensão da consciência ambiental nas cidades europeias: a de que a responsabilidade ambiental não é apenas de grandes empresas poluidoras, mas também do cidadão comum.
Na Suíça, não é apenas colocar o papel no lugar errado que é motivo de multa. Colocar o lixo para fora antes do tempo correto para que seja coletado pelo serviço municipal também é alvo de multa.
Genebra é apenas um caso. Mas avança por vários países ricos a adoção de leis criando delitos para quem não recicla, até mesmo com a aplicação das multas, além, claro, de uma polícia preparada para lidar a questão.
De acordo com a Comissão Europeia, 50% do lixo produzido por famílias são alvo de reciclagem. Mas a constatação é de que, apesar de toda a conscientização, esse número não tem sido elevado nos últimos anos. A penalização de delitos ambientais, portanto, começa a ganhar força para obrigar uma atitude ambiental responsável.
No Canadá, cidades da província do Quebec adotaram neste ano a obrigação de reciclar o lixo, sob pena de uma multa de US$ 200 ao infrator. No caso de escritórios que produzem uma quantidade de papel importante, a multa pode chegar a US$ 1 mil. O mesmo passou a ser adotado em várias cidades francesas.
Em todos os casos, o princípio é o mesmo: o cidadão tem a mesma obrigação ambiental que uma empresa. Na Grã-Bretanha, o governo calculou que residências geram por ano 30 milhões de toneladas de lixo. Mas apenas 17% é reciclado. Desde o ano passado, o governo vem aplicando uma multa de 110 libras esterlinas a quem não recicla. O valor é superior para famílias que a donos de comércio.
Choque. Nos Estados Unidos, Pittsburgh começou a aplicar multas em 2010, enquanto algumas cidades lançaram outro tipo de campanha: a de chocar o cidadão com informações.
Segundo a campanha que foi promovida, apenas para produzir o jornal de domingo nos Estados Unidos, 500 mil árvores seriam necessárias. Em outra mensagem, a campanha apenas alerta que a madeira e o papel jogados fora no país todos os anos pelos americanos seriam suficientes para aquecer 50 milhões de residências no período.
Em Cleveland, a cidade vai gastar US$ 2,5 milhões para introduzir nas lixeiras de residências cartões eletrônicos que poderão registrar quantas vezes na semana o lixo foi retirado. Como cada dia um tipo de lixo é coletado, quem não seguir o plano de reciclagem da cidade será multado em US$ 100.
Na Nova Zelândia, a multa também foi a forma encontrada para obrigar a população a reciclar a partir de julho. O valor: US$ 300 para quem for pego jogando vidro na lixeira de papel.