quinta-feira, 16 de junho de 2011

Hotel Cambridge é desapropriado pela Prefeitura


Última festa no local ocorreu na sexta; governo vai transformar prédio em moradia para famílias de rendas média e baixa

16 de junho de 2011 | 0h 00
Rodrigo Brancatelli e Paulo Saldaña - O Estado de S.Paulo
A inauguração de hotéis em São Paulo sempre esteve ligada ao desenvolvimento paulistano. Quando o Hotel Cambridge foi aberto, em 1951, na Avenida 9 de Julho, o local era sinônimo de sofisticação, um símbolo da metrópole em formação. A decadência do endereço também refletiu a deterioração do próprio centro, 15 andares que demonstram a degradação de todo um bairro.
Depois de uma batalha jurídica de quase um ano com os herdeiros do Cambridge, a Prefeitura depositou na semana passada R$ 6,5 milhões e agora espera apenas a remoção de alguns móveis para pegar as chaves do prédio, encerrando de vez as atividades do local. Finalmente desapropriado, o hotel estava fechado há quase nove anos, apenas com festas ocorrendo em seu bar - a derradeira balada foi na última sexta-feira. A ideia é transformar o antigo hotel em um edifício residencial para famílias de baixa e média renda.
Para a Prefeitura, esse capítulo final do Cambridge, o fechamento de um ícone, pode simbolizar uma outra transformação urbanística do centro histórico, ajudando a região a recuperar o seu requinte. Com 119 apartamentos, o antigo hotel vai agora fazer parte do projeto Renova Centro, programa do governo municipal que tem como objetivo construir 2,5 mil unidades habitacionais para famílias de até dez salários mínimos.
Reformas serão necessárias - no caso do Cambridge, corredores serão rearranjados e o edifício terá 115 unidades habitacionais, com cerca de 38 metros quadrados de área, além de um salão de festa para os futuros moradores e lojas.
História. Projetado pelo arquiteto Francisco Back e financiado pelo empresário Alexandre Issa Maluf, o Cambridge chegou a receber hóspedes como o cantor americano Nat King Cole. O fechamento ocorreu em 2002, mas o bar do Cambridge continuou recebendo festas como a Trash 80"s, a Autobahn, a Gambiarra e a Talco Bells - o saguão do hotel, por exemplo, foi transformado em pista de dança e a recepção virou bar.
O Decreto 51.237, de 4 de fevereiro deste ano, assinado pelo prefeito Gilberto Kassab (sem partido), declarou o imóvel "de interesse social para desapropriação judicial ou adquirido mediante acordo pela Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) para implantação de programa habitacional".
Outros edifícios da região também foram escolhidos para dar lugar a prédios residenciais, inclusive sete hotéis, como o Cineasta, na Avenida São João - 91% deles são construções erguidas entre as décadas de 1920 e 1970. Os endereços foram selecionados com base em um estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que descobriu pelo menos 208 prédios desocupados no centro paulistano.
O Renova Centro está orçado em R$ 382 milhões - as primeiras unidades devem ser entregues a partir de 2013. O financiamento será feito por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, que dá subsídio de R$ 52 mil para habitações destinadas a famílias que ganham até dez salários mínimos.
O projeto, no entanto, não dará conta de toda a demanda habitacional - de acordo com o Plano Municipal de Habitação da Prefeitura, a cidade precisará de quase 740 mil moradias até 2024. Seriam necessários cerca de R$ 58 bilhões ao longo dos próximos 14 anos para colocar o projeto em prática. 

A balofa de Ipanema


22 de maio de 2011 | 0h 00
Mac Margolis - O Estado de S.Paulo
Como a maioria dos jornalistas, muitas das minhas pautas começam com uma conversa descompromissada. Assim foi quando uma médica, mãe de uma coleguinha da minha filha, comentou recentemente que iria mudar de profissão.
Endocrinologista, ela agora planejava estudar gastroenterologia para poder acompanhar o marido, cirurgião bariátrico - aquele da operação radical que encolhe o estômago para combater a obesidade. Não pensei mais na história até que, semanas depois, ouvi a mesma coisa de uma amiga da minha mulher, cirurgiã oftalmologista, também com planos de operar obesos.
Coincidência ou será um novo boom no mercado de trabalho? A cirurgia bariátrica popularizou-se há 40 anos ou mais nos EUA e na Europa. Nunca, porém, tanta gente recorreu ao bisturi para perder a barriga, e a América Latina está na fila.
Assim como a diplomacia e o poder dos mercados novos, a balança já acusa nos países emergentes. Não alcançamos a gravidade dos EUA, país mais balofo do mundo, com quase 60% da população gorda, mas estamos chegando lá. Neste ano, o Ministério da Saúde mostrou que o excesso de peso agora atinge 47% dos adultos brasileiros.
O gastroenterologista brasileiro Walmir Coutinho teme que a situação esteja fora do controle. A obesidade brasileira já beira os 14% da população. A esse ritmo de engorda, alerta Coutinho, até 2022 o Brasil deve ultrapassar os EUA, onde uma em cada três pessoas é obesa. Quanto mais jovem, pior. Nos últimos 20 anos, a obesidade em crianças cresceu 239% - uma taxa quatro vezes mais rápida que nos EUA.
Os latinos não estão sozinhos. O sobrepeso e sua agravante, a obesidade mórbida, correm soltos em todos os países em desenvolvimento. Veio a reboque do progresso, agravado traiçoeiramente pelos mesmos dotes que impulsionam as sociedades emergentes. É a ascensão da nova classe média, que tem dinheiro no bolso e uma fome represada, geralmente saciada no balcão da franquia local de fast food.
São os carros, as TVs e geladeiras, cujas vendas explodiram nos shoppings onde deslizamos por escadas rolantes - maravilhas de última geração, todas desenhadas para nos poupar esforço e incômodo.
Assim como na terra do Mickey Mouse, a engenharia moderna aboliu o movimento da nossa vida. Chegou com a urbanização, que apertou o ritmo da vida, deletando o almoço caseiro. Bye bye feijão com arroz, alô Pizza Hut e hambúrguer tríplex.
Operar o estômago é uma opção radical, mas pode ser a única saída quando a dieta não basta, enquanto novos medicamentos não chegam e os mais eficazes (como a sibutramina) são proibidos por melindres das autoridades de saúde pública, que temem danos colaterais.
Difícil é imaginar dano maior do que sofrer de hipertensão e diabetes, que encurtam a vida em décadas. Até lá, aos pacientes resta a sala de cirurgia. O próximo Pitanguy será o escultor do estômago?
É COLUNISTA DO "ESTADO", CORRESPONDENTE DA "NEWSWEEK" NO BRASIL E EDITA O SITE WWW.BRAZILINFOCUS.COM 


Pesquisa indica que 80% rejeitam corte de proteção a matas

ata - 13.06.2011


Grupo de 1.300 pessoas também se diz contra isenção de multas para desmates; Sudeste tem predomínio na amostra.

Uma pesquisa encomendada pelas principais organizações ambientalistas do país diz que cerca de 80% da população não aprova as mudanças no Código Florestal.
A nova versão dessa lei, que determina as áreas de mata que devem ser preservadas em propriedades rurais, foi aprovada no mês passado pela Câmara e agora aguarda votação no Senado.
Entre as mudanças no código estão, por exemplo, a isenção de reserva legal (proporção de uma fazenda que não pode ser desmatada) para pequenas propriedades, de até 400 hectares.
Também são liberadas para uso agrícola as chamadas APPs (Áreas de Preservação Permanente) consolidadas.
As APPs, como várzeas de rios e topos de morros, são ambientalmente frágeis e importantes, por exemplo, para a produção de água e proteção contra erosão.
Mas muitas são ocupadas há décadas por lavouras (daí o termo "consolidadas"), motivando a reivindicação para que seu uso seja liberado.
A pesquisa Datafolha encomendada por ONGs como SOS Mata Atlântica e Amigos da Terra mostra, primeiro, que 62% dos quase 1.300 entrevistados "tomou conhecimento" da votação na Câmara dos Deputados.
Depois, todos os entrevistados, mesmo os que não acompanharam a votação, tinham de dizer o que achavam melhor: priorizar a proteção de florestas e rios, ainda que isso penalizasse a agricultura, ou priorizar a produção agrícola, ainda que com efeitos ambientais negativos. A primeira opção foi escolhida por 85% deles.
A maioria (77%) também se diz contra a isenção da obrigação de repor florestas desmatadas ilegalmente. Não houve diferenças significativas nas respostas dadas por entrevistados da zona rural e de áreas urbanas.
A pesquisa foi feita por telefone entre os dias 3 e 7 deste mês. O questionário era aplicado durante dez minutos. A margem de erro era de três pontos percentuais.
Na amostragem, houve predomínio de indivíduos do Sudeste (59% dos ouvidos, enquanto na população real os moradores da região correspondem a pouco mais de 40% dos brasileiros). A menor proporção foi de pessoas das regiões Norte e Centro-Oeste: 10% somando ambas.