A Raízen, maior grupo sucroenergético do país, inaugurou nesta sexta-feira (24) uma planta industrial de R$ 1,2 bilhão para a produção de etanol de segunda geração (E2G) na usina Bonfim, em Guariba (a 339 km de São Paulo).
Com o investimento na segunda planta de etanol celulósico, a maior do mundo, no Parque de Bioenergia Bonfim, a empresa passa a ter capacidade total de produção de 112 milhões de litros anuais, sendo 82 milhões na unidade inaugurada nesta sexta e outros 30 milhões de litros do bioparque Costa Pinto.
A inauguração contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice Geraldo Alckmin (PSB), que estavam acompanhados dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Renan Filho (Transportes), Márcio França (Empreendedorismo) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).
Em seu discurso, Lula disse que o Brasil sempre teve autoestima baixa e citou o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, que passou por diversas lesões, como exemplo. Afirmou, ainda, que o país precisa acreditar quando "Deus e a natureza" dão oportunidade e saber se quer ou não aproveitar esse benefício, em relação à produção do etanol de segunda geração.
Disse ainda que a cana, que já foi tão maltratada e criticada por causa das queimadas, agora produz energia e que será garoto-propaganda do etanol desse combustível.
"Estava jogando [ao queimar a cana] energia fora por desconhecimento (...). Nossos pesquisadores conseguiram fazer o que nenhum país no mundo que pensa que é melhor que a gente conseguiu."
Segundo Lula, a partir de agora ele fará propaganda mundo afora do etanol que conheceu em Guariba e que usará isso quando se encontrar com líderes mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ou de países como Alemanha e França.
"Vou dizer ‘escuta aqui, vocês têm etanol de segunda geração'? Vocês têm? Então compra o nosso, para de encher o saco e compra aquilo que o Brasil tem competência de produzir", disse.
Antes dele, Alckmin disse que "para onde nos olharmos, vemos o caminho do etanol". Afirmou, ainda, que o Brasil será o "grande líder no combate a essas mudanças climáticas", após dizer que o mundo está há 17 meses enfrentando altas temperaturas de forma ininterrupta.
O etanol de segunda geração é um combustível que é processado a partir de resíduos vegetais, como palha, folhas e bagaço —de cana-de-açúcar, no caso— e que, conforme a Raízen, permite a elevação da produtividade em até 50% sem aumentar o tamanho da área plantada. Antes, esses resíduos eram descartados.
O bagaço já era utilizado para gerar energia elétrica, mas agora também é usado como matéria-prima, junto com a palha e outros resíduos, para a produção do etanol de segunda geração.
O etanol tradicional é feito diretamente com a moagem da cana e passa pelos processos de extração e tratamento do caldo e fermentação e destilaria. Já o etanol a partir do bagaço passa por mais processos: pré-tratamento, hidrólise, separação, evaporação e fermentação e destilaria.
Dos 82 milhões de litros da planta, 80% já estão contratados, segundo a Raizen. Na avaliação do grupo, o investimento tem como objetivo atender a demanda em alta no mundo por tecnologias limpas.
O etanol de segunda geração, de acordo com Rubens Ometto, presidente do conselho da empresa, será fundamental para alimentar soluções que estão em desenvolvimento, como o SAF (combustível sustentável de aviação).
O ministro Silveira afirmou que a força do Brasil é a sua pluralidade energética e que no governo Lula "não se fala em passar boiada". "Sempre seguiremos a legislação ambiental do país,", disse.
Já Ometto defendeu a política de preços, pelo fato de o etanol estar diretamente ligado a gasolina. "É importante não matar as outras alternativas de combustíveis."
Num discurso em que elogiou os ministros, o executivo citou a atuação de Alckmin enquanto governador paulista. Na época, ele reduziu o ICMS do etanol para 12%, com o objetivo de tornar o combustível mais competitivo.
Ricardo Mussa, CEO da Raízen e colunista da Folha, disse que a aposta no biocombustível tem como objetivo atender o compromisso de produzir a energia do futuro de forma limpa e renovável.
"É muito único o que a gente está fazendo aqui no Brasil hoje", disse. Ele afirmou que o país tem terra fértil, chuva, clima favorável e "gente para fazer isso tudo acontecer".
"A cana ocupa 1% do território nacional e é responsável por 20% da matriz energética nacional (...). Na Raízen estamos no caminho para extrair o máximo da planta", disse.
Por isso, ele afirmou que o grupo já tem nove plantas anunciadas, com investimentos semelhantes, e que a empresa chegará a 20 plantas. "E 1,6 bilhão de litros de etanol adicionais sem precisar de um pé de cana a mais."
A visita de Lula à instalação no interior paulista é a segunda de um presidente nos últimos quatro anos. Em outubro de 2020, Jair Bolsonaro (PL) esteve na unidade para participar da inauguração da maior usina de biogás com produção a partir de derivados da cana-de-açúcar do mundo.
O projeto havia sido iniciado em agosto de 2018 para diversificar o portfólio do grupo. O biogás é produzido por meio de vinhaça e torta de filtro, dois subprodutos da cana.
A capacidade da unidade é de produção de 138 mil MWh por ano, o suficiente para abastecer uma cidade do porte de Araraquara (242 mil habitantes).
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