Antes da Revolução Industrial, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera era de cerca de 280 partes por milhão (ppm). Hoje, é de mais de 400 ppm, e a temperatura média do planeta, comparada com o período entre 1850 e 1900, aumentou 1,2°C. Ou seja, a cada aumento de 10 ppm de CO2 na atmosfera, houve, em média, um aumento de 0,1°C.
Não há como justificar essas mudanças através de processos naturais. A ação humana vem acelerando esse processo, como demonstrado, por exemplo, nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. As perdas associadas às mudanças climáticas afetam o crescimento econômico.
Um estudo publicado este mês mostra que o aumento de 1°C na temperatura global reduz o PIB mundial em até 12% após seis anos. Além disso, o PIB mundial seria 37% maior caso não tivesse ocorrido um aquecimento entre 1960 e 2019.
Apesar de toda a evidência, há os que negam os fatos utilizando argumentos falsos e criminosos. Sim, criminosos. Se na pandemia de Covid-19 negar a importância da doença foi um crime, negar a mudança climática também é crime.
É crime porque cada negacionista ocupando uma cadeira no Congresso ou uma posição de poder para orientar políticas públicas é uma barreira para que haja um diálogo sério sobre ações de adaptação climática.
Projetos de lei que relaxam o Código Florestal avançam, porém aqueles que abordam a questão climática se arrastam. Enquanto isso, os danos se acumulam.
Dados do Atlas Digital de Desastres no Brasil mostram que, entre 1991 e 2023, desastres relacionados ao clima resultaram em 4.735 óbitos (22% entre 2020 e 2023), 9,58 milhões de pessoas desalojadas ou desabrigadas (25% entre 2020 e 2023) e 227 milhões de pessoas afetadas (35% entre 2020 e 2023).
Os danos materiais, entre 1995 e 2023, chegaram a R$ 129 bilhões (27% entre 2020 e 2023), enquanto os prejuízos públicos e privados passaram de R$ 567 bilhões (34% entre 2020 e 2023).
A intensificação recente dos danos humanos e materiais não é apenas resultado da gravidade dos eventos climáticos, mas também da falta de ações concretas de adaptação.
Não houve ação, mas avisos. Muitos. Cientistas e instituições de altíssima qualidade no Brasil já analisaram cenários climáticos futuros, mostrando os impactos regionais na saúde, agricultura, energia, transportes e recursos hídricos, dentre outros.
O Projeto Brasil 2040, elaborado entre 2013 e 2015, durante o governo de Dilma Rousseff, simulou cenários e propôs alternativas de adaptação que minimizassem as perdas previstas em um contexto de mudanças climáticas.
Dentre os resultados estão a redução da capacidade geradora de hidrelétricas, impactos na agricultura, temperaturas elevadas no Centro-Oeste, secas intensas no Nordeste e aumento das chuvas na região Sul. Entretanto, esses resultados nem foram usados nem publicados de forma completa.
Enquanto isso, 325 pessoas morreram na tragédia de Petrópolis em 2022, o ano de 2023 teve um recorde de 1.161 desastres climáticos, e as enchentes no Rio Grande do Sul, que começaram no final de abril, já causaram 155 mortes e afetaram mais de 90% dos municípios do estado. Até quando?
Quantas tragédias ainda serão necessárias para desencadear ações? Quantas perdas humanas e materiais ainda terão que ser contabilizadas? Que setores da sociedade precisarão ser afetados para gerar mudanças?
Que isso não caia no esquecimento em outubro, durante as eleições municipais.
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