Estadão – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assinará na próxima quarta-feira, 29, o contrato de concessão para a construção do Trem Intercidades Eixo Norte, que ligará a cidade de São Paulo a Campinas. O governador afirmou em entrevista ao Estadão que aproveitará a ocasião para lançar o programa “São Paulo nos Trilhos”, uma iniciativa que engloba 13 projetos entre linhas de trem e de metrô, totalizando mais 890 quilômetros na rede estadual.
Tarcísio será um dos painelistas do Summit Mobilidade Estadão, que acontece nesta terça-feira, 28 de maio, das 8h às 19h, na Casa das Caldeiras, em São Paulo. Saiba mais sobre como se inscrever e adquirir os ingressos. O evento também contará com as presenças do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), e do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
“Estamos montando uma carteira de longo prazo, raciocinando para o futuro”, afirma o governador. “Aí vem o nosso arranjo: eu preciso, primeiro, distribuir os projetos no tempo porque se eu chegar e quiser fazer cinco leilões de transporte metroferroviário no ano que vem não vai ter player para tudo. Então, eu tenho que dosar esses leilões no tempo. Eu consigo fazer dois, três leilões por ano. Mais do que isso, vai faltar capacidade para o mercado absorver”, explica ele. Os projetos envolvem aportes públicos e privados.
Para construir os cerca de 890 km em novos trilhos, o investimento previsto é de R$ 130 bilhões apenas entre os projetos já inclusos no Programa de Parceria de Investimentos (PPI). Além deles, estão em estudo três trens intercidades: São José dos Campos-Taubaté, Sorocaba-Campinas-Ribeirão Preto e Campinas-Araraquara, além da Linha 22-Marrom do Metrô, ligando São Paulo a Osasco e Cotia.
A assinatura da concessão na quarta-feira será com o consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos, formado pela gigante chinesa CCRC e o Grupo Comporte, que venceu o leilão realizado no final de fevereiro. São R$ 14,2 bilhões previstos em investimento, dos quais cerca de R$ 9 bilhões serão aportados pelo governo paulista.
De acordo com o Executivo, as obras do Trem Intercidades São Paulo-Campinas começarão em agosto de 2026 e estão previstas para terminar em agosto de 2032. O contrato inclui ainda a implementação do Trem Intermetropolitano, com estações em Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas, e melhorias na Linha 7-Rubi. Neste caso, o prazo previsto para as obras é de três anos, entre agosto de 2026 e agosto de 2029.
Programa São Paulo nos Trilhos:
Projetos já elaborados:
- Trem Intercidades Eixo Norte – Campinas
- Trem Intercidades Eixo Oeste – Sorocaba
- Ampliação das linhas 11, 12 e 13 de trens urbanos da CPTM
- Novas estações da linha 10 e futura linha 14 de trens urbanos da CPTM
- Implementação das linhas 19 e 20 de metrô
- Trem Intercidades Eixo Leste – São José dos Campos
- Trem Intercidades Eixo Sul – Santos
- Veículo Leve sobre Trilhos Campinas
- Veículo Leve sobre Trilhos Sorocaba
Projetos em avaliação:
- Trem Intercidades São José dos Campos-Taubaté
- Trem Intercidades Sorocaba-Campinas-Ribeirão Preto
- Trem Intercidades Campinas-Araraquara
- Linha 22-Marrom do Metrô (São Paulo, Osasco e Cotia)
Veja a conversa com o governador sobre mobilidade:
Quando será lançado o programa São Paulo nos Trilhos?
A gente vai lançar dia 29 de maio. Por que? Porque no dia 29 a gente vai assinar o contrato do Trem Intercidades Eixo Norte, que é o Campinas-São Paulo. A gente fez o leilão no dia 29 de fevereiro e ainda tem aquela questão: apresentação de garantias etc. A gente chegou ao final do processo agora, vamos assinar o contrato de concessão e a gente vai aproveitar e lançar o programa São Paulo nos Trilhos.
Nós já temos nove projetos de mobilidade urbana qualificados no nosso Programa de Parceria de Investimentos (PPI). E tem mais quatro que estão em avaliação. Então são 13 projetos que são objetos de estudo. Alguns, obviamente, já estão bastante adiantados, outros a gente acabou de qualificar na reunião do PPI. E tem mais quatro que a gente está estudando, pra sentir cheiro de pré-viabilidade, pra ver se a gente submete ao conselho do PPI.
Há algum prazo para esses quatro projetos que estão em avaliação serem submetidos ao PPI?
A gente vai continuar estudando. Primeiro, a gente tem que saber até se serão. Esses que serão depende da pré-viabilidade. O que a gente está fazendo, que é importante: a gente está montando uma carteira de longo prazo. A gente está raciocinando para o futuro.
Vamos começar pelas obras em execução. Eu tenho a linha 6 do metrô, a linha laranja, que vai ligar Brasilândia à estação São Joaquim, então sai da zona norte de São Paulo para o Centro. A previsão é que esse metrô comece a operar em 2026, pelo menos da Brasilândia até a estação Sesc Pompéia e ela vai estar completamente concluída em 2027.
A outra obra em andamento é da linha 2 do metrô no trecho Vila Prudente-Penha. Já demos a ordem de serviço para o projeto executivo e a nossa ideia é que possa iniciar a obra a partir do ano que vem do trecho Penha até Dutra. Essa é a próxima perna. Se eu somar essas obras que já estão em andamento, estou falando de investimentos de R$ 31 bi: R$ 18 bi da linha 6 e mais R$ 13 bi da linha 2. Isso é obra em andamento.
Temos o leilão do Trem Intercidades Eixo Norte Campinas-São Paulo, R$ 14,2 bilhões de investimento, sendo que R$ 8,5 bilhões de contrapartida do Estado. Nós temos os projetos que estão bem adiantados e prontos para ir à consulta pública: linhas 11, 12 e 13 da CPTM.
A linha 11 vai ser estendida até a estação César de Sousa, em Mogi da Cruzes, e a linha 12 que mantém o traçado atual. A linha 13, que hoje chega na estação Cecap, nós vamos ter a partir de agosto, provavelmente, a ligação com os três terminais de Guarulhos via People Mover. Então, nós vamos ter o monotrilho que vai ligar essa última estação da linha 13 até o terminal três do aeroporto de Guarulhos.
Temos também o Trem Intercidades Eixo Oeste, de Sorocaba a São Paulo. É um projeto que está bastante adiantado e que vai se conectar à linha 8 da CPTM. As linhas 11, 12 e 13 devem ir para consulta pública em breve.
Ainda neste ano?
Sim. O leilão vai acontecer ou no final deste ano ou no início do ano que vem. A questão de definição de data de leilão é sempre conversada com o mercado. O mercado precisa se preparar. São obras de grande porte e que demandarão muito investimento. Obviamente, existe a contrapartida do Estado e a gente precisa ter os players se preparando e isso leva muito tempo.
E os demais projetos?
Nós temos um estudo que está bem adiantado também para as linhas 10 e 14 da CPTM. A linha 10, que já existe e chega no ABC, e a linha 14 que é uma aposta. Seria uma linha, a primeira do gênero, que vai cruzar a cidade de São Paulo e ligar o ABC a Guarulhos.
Ela cruza toda a zona leste da capital fazendo a interconexão com as linhas da CPTM que estão operando. É uma linha que vai ser construída em três fases, de maneira que a gente possa paulatinamente ir colocando em operação a partir do momento que eu tenho a interface entre linhas e ela possa gerar receita. Gera receita, começa a operar e já constrói o próximo trecho e assim por diante.
Nós temos um estudo que está bem adiantado também para as linhas 10 e 14 da CPTM. A linha 10, que já existe e chega no ABC, e a linha 14 que é uma aposta. Seria uma linha, a primeira do gênero, que vai cruzar a cidade de São Paulo e ligar o ABC a Guarulhos.
Tarcísio de Freitas
Nós estamos estudando as concessões das linhas 1, 2, 3 e 15 do metrô. A ideia é que a gente faça a concessão agregando uma linha existente com a construção de uma linha nova. A linha existente, em operação, gera receita e a gente impõe a construção de uma linha nova. Ainda assim, os projetos vão demandar aportes do governo do Estado. A gente vai ver a melhor forma de fazer essa junção de linhas para contratos de concessão.
Essas linhas serão conjugadas com as linhas 19, 20 e a linha 16. A linha 16 vai chegar à zona Leste de São Paulo, a linha 19 vai ligar o Anhangabaú a Guarulhos e a linha 20 ligará o Centro de São Paulo ao ABC. A gente deve começar, inclusive, a construção dessa linha pelo ABC, a partir de Santo André.
Na última reunião do PPI foram quatro projetos qualificados (VLT Campinas, VLT Sorocaba, TIC São José dos Campos e TIC Santos)
O Trem Intercidades Eixo Leste é a ligação São Paulo-São José dos Campos. Provavelmente, a gente vai atacar a partir de alguma das linhas da CPTM, a mais viável que está parecendo para nós é seguir a partir da linha 13 em direção a São José dos Campos.
O Trem Intercidades Eixo Sul, ligando São Paulo a Santos. Estamos avaliando algumas possibilidades, como trabalhar com cremalheira, trabalhar paralelo à Imigrantes e aí fazendo uma derivação com o túnel e pegando um trecho da antiga (ferrovia) Santos-Cajati. Isso tudo está em análise.
E tem uma terceira análise, que nos pareceu mais inviável por ser mais cara, que em princípio a gente vai fazer o estudo de pré-viabilidade, mas não deve levar em consideração. É uma antiga rota de descida a partir da zona sul de São Paulo chegando em Mongaguá e aí a gente pegaria a Santos-Cajati até chegar em Santos.
E nós temos outros projetos em avaliação. A gente está estudando hoje para ver se fica de pé a extensão do Trem Intercidades de São José dos Campos para Taubaté e do Trem Intercidades de Sorocaba para Campinas e a possibilidade de chegar em Ribeirão Preto. E, por fim, a extensão do Trem Intercidades de Campinas para Araraquara.
Além da linha 22 do metrô que é São Paulo-Osasco-Cotia. A gente tem interesse em levar o metrô para fora da cidade de São Paulo.
Essa é uma demanda muito forte da população da região metropolitana. Quais são os planos para levar o Metrô a outras cidades?
A gente tem duas extensões de metrô previstas para iniciar a obra no ano que vem: a extensão da linha 4, que vai sair da Vila Sônia até Taboão, com isso a gente alcança uma cidade da região metropolitana. A gente aprova o projeto esse ano. A ideia é que em 2029 já esteja operando.
E também a extensão da linha 5, ainda dentro da cidade de São Paulo, para chegar até o Jardim Ângela. O projeto executivo está em andamento, fica pronto no final do ano e a ideia é que a gente inicie a obra no ano que vem também começando a operar em 2029.
Outra extensão é na linha 6. Vamos aproveitar que ela já está mobilizada e vamos tentar estender o contrato para que a gente possa chegar no Eixo Norte, agregar mais duas estações para chegar a Campinas. A gente vai alcançar passageiros mais da zona norte, que estão mais isolados em termo de transporte sobre trilhos. E também mais quatro estações na direção sul, a partir da estação São Joaquim até chegar na Mooca.
É isso que está planejado. Estamos falando de mais de 890 quilômetros de trilhos, tanto de metrô quanto de trem que serão inseridos na rede. Obviamente, são projetos faseados: projetos que qualificamos na quinta-feira no PPI, entram agora em estudo de pré-viabilidade e isso vai levar de cinco a seis meses. Depois, entram na fase de projeto para depois consulta pública, ajuste de modelagem. Provavelmente são projetos que serão leiloados em 2027.
Estamos falando de mais de 890 quilômetros de trilhos, tanto de metrô quanto de trem que serão inseridos na rede.
Tarcísio de Freitas
A gente está compondo a carteira. Linhas 11, 12 e 13, início do ano que vem. 10 e 14 a gente vai tentar ou ano que vem ou 2026, assim como as linhas 1, 2 e 3 agregadas às 16, 19 e 20. Então, a gente tem que distribuir isso no tempo para que os players possam se organizar, preparar e entrar e também para que a gente tenha uma carteira contínua e saiba exatamente onde quer chegar. A aposta é na sustentabilidade, em transportes de alta capacidade e muito mais eficiente do ponto de vista energético.
Tem também o VLT de Campinas, que vai ligar a última estação do Trem Intercidades ao Aeroporto de Viracopos, e o VLT de Sorocaba, que fará uma ligação leste-oeste e cruzar os três eixos do BRT que atravessam a cidade. Nossa ideia é chegar até Iperó e faria essa ligação até o Trem Intercidades Sorocaba-São Paulo.
São muitos projetos, envolvendo tanto aportes do Estado quanto da iniciativa privada. O mercado consegue absorvê-los?
Consegue. Vem o nosso arranjo aqui: eu preciso, primeiro, distribuir isso no tempo. Obviamente, se eu chegasse agora e resolvesse fazer cinco leilões de transporte metroferroviário no ano que vem não terá player para tudo. Eu tenho que dosar: consigo fazer dois, três leilões por ano. Não consigo fazer mais do que isso porque vai faltar capacidade no mercado.
A medida em que a gente vai soltando projeto, as empresas vão entrando, se comprometendo, alavancando e eu tenho sempre que buscar novos players. O roadshow que a gente fez na Europa recentemente foi muito bem-sucedido. A gente foi lá justamente para ativar o mercado e trazer novos players. Eles já vieram pra cá e estão estudando detidamente as linhas 11, 12 e 13, fizeram inspeção de linha, estão participando do projeto e apresentando sugestões.
Obviamente, se eu chegasse agora e resolvesse fazer cinco leilões de transporte metroferroviário no ano que vem não terá player para tudo. Eu tenho que dosar: consigo fazer dois, três leilões por ano.
Tarcísio de Freitas
Teremos que fazer isso sempre para trazer mais players da Europa e da Ásia. A partir do momento que eu começo a expandir o transporte sobre trilhos, eu começo a despertar o interesse de outros atores que ainda não estão olhando o Brasil.
Desde a pandemia, o Metrô de São Paulo perdeu passageiros e não conseguiu retornar ao antigo patamar. Como resolver este problema?
Aquele passageiro que hoje está no ônibus e mora na Brasilândia, na Freguesia do Ó, com a linha 6 vai passar a andar de metrô. Quando o passageiro incorpora no metrô e ele chega no centro da cidade de São Paulo, ele vai ser distribuído para outras linhas. Então, a integração do sistema de transporte é fundamental. Quanto mais integrado o sistema estiver, melhor.
Se eu vou buscar passageiros em Campinas, em Jundiaí, e entregar eles na estação Água Branca, em São Paulo, quando chegar lá eles serão distribuídos pelas outras linhas de metrô. Quando eu faço uma extensão, por exemplo, da linha 2 até Guarulhos eu vou puxar uma quantidade relevante de passageiros por dia.
A linha 6 vai trazer 600 mil passageiros por dia. E eles vão ser distribuídos no sistema. E aí eu começo a descomprimir determinadas linhas, começo a ter outras alternativas para fazer determinados percursos. Começo a melhorar a qualidade dos serviços, diminuir o tempo de viagem, interligar mais as linhas e despertar maior interesse. Então toda vez que eu levo a linha para algum lugar, estou agregando mais passageiros. Quanto mais conexões essa rede tiver, mais passageiros traremos para o sistema.
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