domingo, 14 de janeiro de 2024

Hélio Schwartsman - Uma paz para acabar com a paz, FSP

 13.jan.2024 às 15h00

Para entender melhor o que acontece no Oriente Médio, li "A Peace to End All Peace" (uma paz para acabar com qualquer paz), de David Fromkin. Embora não exatamente nova, é uma obra de fôlego que mostra como surgiram os países que hoje constituem a região e como sua gênese contribuiu para a instabilidade atual.

Fromkin começa sua investigação nos estertores do Império Otomano, passa a lupa sobre a 1ª Guerra Mundial e para em 1922, que é quando o mapa do Oriente Médio assume feições semelhantes às atuais. É um prato cheio para apreciadores do beletrismo histórico. "Grand Jeu", acordo Sykes-Picot, declaração Balfour e outros eventos, sobre os quais lemos hoje nos artigos mais eruditos sobre o imbróglio médio-oriental, são cuidadosamente discutidos.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 14 de janeiro de 2024, mostra a figura do estadista e ex-primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill, fumando charuto e usando terno escuro e gravata borboleta preta com bolinhas brancas; ele está montando um quebra cabeça cujas peças são os países do Oriente Médio.
Ilustração de Annette Schwartsman para coluna de Hélio Schwartsman - Annette Schwartsman

Embora não seja o objetivo central da obra, ela também lança luzes sobre a psicologia de figuras importantes como Lloyd George, Winston Churchill, Woodrow Wilson. Até as aventuras de Lawrence da Arábia têm o seu lugar.

O imperialismo tem muito a ver com a confusão atual. As potências vencedoras da 1ª Guerra dividiram os despojos do Império Otomano de acordo com seus interesses e as cambiáveis correlações de força, sem atentar para elementos básicos da realidade local.

"A Peace..." mostra que os problemas não se limitaram às desavenças entre potências. Também era frequente que diferentes departamentos de um mesmo governo se sabotassem. Os britânicos, por exemplo, davam mesadas generosas ao rei Husssein e a Ibn Saud, que as gastavam combatendo um ao outro. A promessa dos escalões centrais de Londres de apoiar a constituição de um "lar nacional" para os judeus era diariamente minada pelos militares britânicos in loco.

Fromkin conclui lembrando que a Europa levou 1.500 anos para recuperar-se da queda de Roma. Então, é preciso dar mais tempo para que as coisas se assentem no Oriente Médio. Quem sabe daqui a 1.400 anos...

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