O governo de Luiz Inácio Lula da Silva coleciona acertos importantes, mas já cometeu muitos erros —alguns deles primários. Os decretos do saneamento são um bom exemplo, já que embutem equívocos de mérito (as mudanças pretendidas representariam um retrocesso) e de execução (a derrubada dos diplomas pela Câmara escancarou a fragilidade da base legislativa de Lula).
Parte das barbeiragens pode ser atribuída à equipe do presidente, notadamente a seus articuladores políticos, mas não há como isentar o próprio Lula de responsabilidade. As principais ideias defendidas pelo governo, afinal, têm o seu aval, e vêm de sua própria boca declarações que turvam desnecessariamente o ambiente econômico e afastam potenciais aliados. É grande o contraste com seus dois primeiros mandatos, que costumam ser descritos como um sucesso. Daí que se torna inevitável perguntar se foi sorte ou competência que fizeram a diferença nas gestões anteriores.
Penso que Lula teve muita sorte. Não fosse o superciclo das commodities a partir de meados dos anos 2000, ele talvez não tivesse terminado seu primeiro mandato, ofuscado pelo mensalão. O fato é que, ali, a economia internacional ajudou o país a crescer com força, garantindo a reeleição do petista e um terceiro termo para o partido. Lula teve o mérito de não pôr tudo a perder com propostas equivocadas. E, no Universo entrópico em que vivemos, não destruir tudo é uma virtude.
O problema é que não dá para contar com a sorte para sempre. E, quanto menos sorte, mais necessária se faz a competência. Lula não demonstra mais a mesma vivacidade política que exibia no passado. Minha impressão é que ele não se deu conta de que a correlação de forças mudou. A oposição ao petismo está muito mais forte do que era 20 anos atrás, e o Executivo perdeu muitos poderes para o Legislativo.
Sem pôr esses elementos na equação, o governo vai quebrar a cara muitas vezes.
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