quinta-feira, 11 de maio de 2023

Brasil está menos desigual porque triplicou Bolsa Família, não porque melhorou, FSP

 

SÃO PAULO

A queda da desigualdade de renda no Brasil no ano passado parece uma ótima notícia. Mas ela só ocorreu porque os brasileiros estão cada vez mais dependentes de programas sociais em uma economia que cresce pouco e entrega empregos de baixa qualidade.

Por trás da menor desigualdade da série está o fato de o país ter praticamente triplicado o gasto com o Bolsa Família em relação ao que despendia antes da pandemia. Como proporção do PIB, o valor saltou de cerca de 0,4% para mais de 1,5%.

Cerca de R$ 175 bilhões serão gastos com o programa neste ano, que atenderá quase 21 milhões de famílias, metade no Nordeste.

Baianos fazem fila em Salvador para se cadastrarem ao recebimento do Bolsa Família - Cleber Sandes/Folhapress

Não é à toa que o rendimento domiciliar per capita da metade da população mais pobre subiu 18% no ano passado, para R$ 537 ao mês — que a queda da desigualdade tenha sido mais proeminente nos estados nordestinos.

Na conquista por eleitores na campanha presidencial de 2022, tanto Lula (PT) quanto Bolsonaro (PL) prometerem manter o valor de R$ 600 aos mais pobres pagos na pandemia.

Lula foi além, e acrescentou um adicional de R$ 150 por criança de até seis anos, e mais R$ 50 por dependente entre 7 e 18 anos ou gestante. Com isso, o valor médio aos beneficiários atingiu R$ 714.

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Lula foi eleito com essa plataforma na área social, assim como Bolsonaro prometera algo parecido. Politicamente, é o que grande parte do país, majoritariamente pobre, queria.

Mas não deixa de ser preocupante o fato de o Brasil ter triplicado esse tipo de gasto social para proporcionar uma vida minimamente digna à população. Embora, mesmo assim, os 5% mais pobres ainda vivam com menos de R$ 90 por mês.

Em crise há muitos anos, a vizinha Argentina também foi aumentando, com o passar do tempo, gastos desse tipo, que hoje equivalem também a cerca de 1,5% do PIB.

Em comum, os vizinhos mantêm o PIB per capita e níveis de produtividade estagnados há muitos anos. E, agora, têm proximidade ideológica entre Lula e Alberto Fernández.

Mas ambos países mostram que, sem crescimento sustentável alavancado por reformas pró mercado, usar dinheiro público para combater as mazelas sociais funciona por um tempo, mas não se sustenta. Pois é dos impostos gerados pela atividade que vêm o dinheiro para essas ações.


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