Quem não saiu bem deste primeiro turno eleitoral foram os institutos de pesquisa. Que eles fossem atacados pelas hostes bolsonaristas já era mais ou menos esperado, mas, desta vez, até o insuspeito New York Times falou mal das pesquisas.
De fato, houve discrepâncias gritantes entre as pesquisas da véspera e os resultados, não apenas na votação de Bolsonaro como também nas disputas de vários governos estaduais e corridas pelo Senado. Diretores de institutos se defendem. Alegam, não sem razão, que o público usa mal as pesquisas. Elas não são um prognóstico eleitoral, mas um instantâneo de momento que retrata só a intenção de voto, e não o voto propriamente dito. Se o eleitor muda de ideia ou só se decide poucas horas antes de visitar a urna, esses não são movimentos que as sondagens consigam captar com eficiência.
Eu aceito bem essas limitações e, por isso, acredito em pesquisas. Receio, porém, que haja um mal-entendido irredutível. Embora pesquisas só possam, por definição epistemológica, registrar o que já aconteceu, nunca o que acontecerá, as pessoas se interessam por elas porque as veem como uma ferramenta para adivinhar o futuro. É o viés de extrapolação. Ele nos induz a erros, mas, sem ele, não seria tão fácil levantar recursos para financiar tantas pesquisas.
Creio, porém, que existe uma solução parcial para o problema. Os institutos deveriam voltar a fazer no dia do pleito as pesquisas de boca de urna, em que não perguntam em quem o eleitor pretende votar, mas em quem efetivamente votou. Sei que, depois das urnas eletrônicas com apuração ultrarrápida, elas deixaram de ser um produto interessante, pois são caras e duram pouquíssimas horas, entre o fechamento das urnas e a divulgação dos resultados oficiais. Penso, porém, que elas seriam importantes para a reputação dos institutos, que responderiam só por erros reais, e não mais pelo mal-entendido irredutível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário