Em março deste ano, a SEC - Securities Exchange Commission (órgão norte-americano análogo à CVM - Comissão de Valores Mobiliários) disponibilizou para consulta pública novas exigências ligadas à divulgação de informações referentes aos impactos no meio ambiente causados por empresas listadas. Tais informações deveriam incluir não apenas detalhes sobre as emissões pelas quais cada empresa é diretamente responsável, mas também as emissões causadas pelos fornecedores e parceiros que participam de toda cadeia de suprimentos. Dois meses depois, em maio, a SEC propôs que todos os materiais de divulgação de fundos de investimento com foco ESG (“Environmental, social and Governance”, ou meio ambiente, social e governança) apresentassem suas respectivas estratégias de forma detalhada.
Em junho passado o período de comentários sobre a nova legislação foi encerrado, e o texto final está em avaliação para divulgação até o final deste ano. Gary Gensler, presidente da SEC desde abril de 2021, disse que o objetivo da regra é “fornecer aos investidores informações úteis para auxiliar nas suas decisões, e impor obrigações claras para as empresas emissoras dos relatórios”.
Apesar das preocupações como custos e encargos para atender às novas demandas ou da complexidade para obtenção das informações (em particular as emissões indiretas), o apoio que a iniciativa agregou já parece ser suficiente para que sua adoção ocorra conforme o planejamento da Comissão. No Brasil, a CVM já vem se posicionando sobre o tema, e divulgou no final de maio o estudo “A agenda ASG (ambiental, social e de governança) e o mercado de capitais - Uma análise das iniciativas em andamento, os desafios e oportunidades para futuras reflexões da CVM”. O objetivo da autarquia é não apenas apresentar o que está sendo feito internacionalmente a respeito, mas também indicar os caminhos que pretende trilhar sobre um tema que ganhou a devida importância entre todos os participantes do mercado.
O aumento catastrófico da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, um dos causadores do efeito estufa, começou com a Primeira Revolução Industrial em meados do século XVIII. De acordo com dados do Instituto de Oceanografia da Universidade de San Diego, a concentração média de longo prazo de dióxido de carbono, que estava em cerca de 280 ppm (partes por milhão) desde o efetivo início da história da civilização, explodiu em apenas trezentos anos para mais de 400 ppm. Em outras palavras, é inegável apontar a tecnologia e a sociedade moderna como vetores responsáveis pela crise climática na qual estamos inseridos — crise climática essa que é um dos principais fatores que vem impulsionando as iniciativas ESG ao redor do mundo.
Conforme já discutimos na coluna sobre o paradoxo da tecnologia, o combate ao desafio do aquecimento global só tem alguma chance de ser vencido com a aplicação de mais tecnologia. São necessárias iniciativas que busquem atacar questões críticas para a sobrevivência do planeta — gerando, simultaneamente, significativos impactos no mundo dos negócios. Mais do que isso, dados do Climate Watch/World Resources Institute apontaram os quatro setores responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa globalmente — indicando de forma inequívoca o escopo do problema.
A geração da energia que alimenta o mundo moderno é responsável por quase três quartos das cerca de 50 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente emitidas em 2016: a energia gerada para indústria (metalúrgica, petroquímica, papel, alimentos, entre outras) causa 24% das emissões globais; a energia para edifícios provoca 17% (sendo 11% em edifícios residenciais e 6% em edifícios comerciais); a energia para o setor de transportes emite 16% — sendo que vale a pena observar a discrepância entre o transporte aéreo e marítimo (2% cada) e o transporte rodoviário (12%) — e, finalmente, cerca de 15% são causados por outros itens associados. O segundo setor com maior parcela de emissões é a agricultura e pecuária, com 18% (sendo gado e excrementos responsáveis por 6%). As indústrias química e de cimento geram diretamente em suas atividades 5% dos gases de efeito estufa, e finalmente aterros e resíduos de água são responsáveis por 3%.
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Soluções tecnológicas que buscam mitigar e reverter os impactos sobre o meio ambiente das atividades que movem a economia global formam o segmento de climate tech (ou tecnologia climática) — tema da nossa próxima coluna. Até lá.
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