Xi Jinping deverá assegurar um novo mandato como líder chinês —esse é o desfecho esperado do 20º Congresso do Partido Comunista, que ocorrerá em outubro. Diante do resultado dado como certo, a importância do maior evento político do país tem sido subestimada.
A cada cinco anos, a elite do PC se reúne para selecionar os 25 membros do politburo, o topo da pirâmide de poder não apenas do partido, mas do Estado chinês. Dentre esses 25, um subgrupo de sete pessoas comporá o Comitê Permanente do Politburo —o topo do topo da pirâmide. Na lógica do Estado-partido, um desses sete membros ocupará tanto a posição de secretário-geral quanto de presidente da China.
Xi tende ser o primeiro, desde a morte de Mao em 1976, a servir mais de dois mandatos como líder. Em 2018, uma reforma constitucional aboliu o limite de mandatos, numa demonstração de força do atual dirigente.
Para que Xi permaneça no poder, uma outra regra não escrita de limite de idade precisará ser desconsiderada. "Sete sobe, oito desce", diz-se em chinês. Sinal verde para os de 67 anos, aposentadoria para os que tiverem 68 na reunião do partido. A ver se a regra seria flexibilizada apenas para Xi, 69. Dos 25 membros do politburo, 11 já terão 68 no conclave de outubro.
A política interna chinesa é reconhecidamente opaca. Pouco se sabe sobre o processo decisório intrapartidário. Apesar de hermético, o partido não é monolítico. Há conservadores e reformistas; liberais e linha dura. Há a nova esquerda chinesa, os ditos neomaoístas. Sabe-se, por exemplo, que foi polêmica a decisão de aceitar empresários nos quadros do PC, em 2001.
Para além da trajetória pública dos pretendentes aos postos mais altos, analistas catam as migalhas. Os vínculos de lealdade, os apadrinhamentos e as relações pessoais —tudo isso acaba pesando muito nas especulações políticas. Olha-se, por exemplo, quem acompanha Xi nas viagens pelo país, quem é designado para missões espinhosas, quem trabalhou com quem, quem vem dos mesmos grupos (por exemplo, a Liga da Juventude Comunista).
Mesmo para um sistema opaco, há um grande desconhecimento sobre política chinesa mundo afora. Quem reconhece Li Keqiang, o primeiro-ministro chinês? Quem é o vice-presidente do país? Quem são as estrelas em ascensão? Com a manutenção de Xi no poder, é como se nada mais importasse.
A partir da reunião de outubro, haverá uma dança de cadeiras importante no politburo, e as mudanças sinalizarão tendências para os próximos anos. Duas figuras-chave para a política econômica podem sair de cena: tanto o primeiro-ministro, em março, quanto Liu He, apelidado de czar da economia. A escolha de seus substitutos apontará possíveis rumos nessa área crítica.
Deve mudar, ainda, o principal nome da política externa do politburo, Yang Jiechi, que liderou as conversas mais duras com os EUA nos últimos anos. Mudanças também são esperadas no comando militar, num momento de tensões crescentes em relação a Taiwan. Principal ideólogo do partido, o ex-professor Wang Huning deve permanecer no grupo.
O fato de o sistema ser obscuro e de Xi ser superpoderoso acaba servindo de desculpa para se ficar na superfície, na manchete do terceiro mandato. O mundo não deveria se dar ao luxo de desconsiderar os sinais do evento político mais importante em cinco anos de um país como a China.
É fácil tratar a reunião do PC como uma encenação burocrática diante da provável recondução de Xi. É fácil, mas é um erro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário