Em períodos sombrios como este, quando os comentaristas só veem defeitos na maioria dos países, vale a pena destacar os poucos que desafiam o pessimismo prevalecente. Aqui estão sete que se destacam em um mundo que caminha para a recessão e uma inflação mais alta: Vietnã, Indonésia, Índia, Grécia, Portugal, Arábia Saudita e Japão.
Eles compartilham de alguma forma de combinação entre crescimento relativamente forte, inflação moderada ou fortes retornos em seus mercados de ações –se comparados a outros países. Por uma fascinante coincidência, a maioria deles também desafia os preconceitos profundos que existem sobre as perspectivas supostamente medíocres de certos países, culturas e sistemas.
O nome menos surpreendente na minha lista é o do Vietnã, que serve como exemplo de comunismo que funciona. À medida que crescem as tensões geopolíticas com a China, as empresas do Ocidente optam por se defender por meio de uma estratégia de "China mais um" –e muitas vezes esse "um" país que serve como fonte adicional de abastecimento é o Vietnã.
Ao investir pesadamente na infraestrutura necessária a uma potência de exportação industrial, e ao abrir suas portas, o Vietnã vem crescendo em quase 7% ao ano, o ritmo mais rápido do mundo.
As críticas às dificuldades econômicas dos países muçulmanos há muito ignoram o mais populoso deles, a Indonésia. Rico em recursos, o país está se beneficiando do boom mundial nos preços das commodities, mas, com seu mercado interno de 276 milhões de consumidores, não depende excessivamente das exportações. Suas dívidas são excepcionalmente baixas em comparação com outras economias em desenvolvimento, e a moeda indonésia apresenta estabilidade excepcional em um ano no qual a maioria das divisas vem caindo acentuadamente diante do dólar.
O resultado é uma mistura benigna de 5% de crescimento com menos de 5% de inflação, que faz da Indonésia um exemplo brilhante de islamismo economicamente competente.
Embora os números do crescimento da Índia sempre pareçam melhores do que de fato são por conta de sua base baixa, a economia do país continuará a ser uma das que mais crescem no mundo. As autoridades econômicas adotaram reformas suficientes para atrair os investidores que, assustados com a campanha de repressão regulatória na China, agora estão gravitando para a segunda maior economia emergente. Novos investimentos em serviços digitais e na indústria estão dando frutos e o vasto mercado interno isola a Índia da recessão global.
Alguns dos chamados "PIGs" [Portugal, Itália e Grécia] –os países que tiveram posição central na crise da dívida da zona do euro há uma década– agora estão revivendo. Grécia e Portugal reduziram seus déficits governamentais em mais de 50%, e estão menos expostos que a maioria da Europa aos choques no abastecimento do gás natural proveniente da Rússia.
A Grécia vem recebendo estímulo do renascimento do investimento estrangeiro –e do turismo, cuja parcela em seu PIB (Produto Interno Bruto) a Covid havia reduzido de 20 para 15%. O índice de inadimplência nos empréstimos bancários é de menos de 10%, ante 50% durante a crise. Agora crescendo em mais de 4% anuais e com a inflação caindo rapidamente, a Grécia está desfrutando de uma das recuperações mais saudáveis da região.
Portugal está em posição semelhante. O governo investe sabiamente as verbas de apoio da União Europeia, e está reformando um dos sistemas de aposentadoria mais generosos do continente, enquanto um "visto dourado" especial atrai uma maré de novos imigrantes ricos. Talvez não por acaso, o mercado de ações com melhor desempenho no mundo desenvolvido este ano é o de Lisboa. O acrônimo PIGs ficou no passado.
A Arábia Saudita está liderando um movimento entre os países do Golfo Pérsico para diversificar sua economia para além do petróleo. As reformas, que incluem o afrouxamento das restrições impostas às mulheres, trabalhadores, turistas e vida noturna, ajudaram a impulsionar o crescimento projetado para quase 6% anuais, nos próximos dois anos.
O regime está investindo o dinheiro do petróleo em infraestrutura, o que inclui dez cidades inteligentes que prometem uma versão futurista e sem carros da vida urbana. Embora duramente criticado por conta da repressão política, e com alguma distância a percorrer quanto aos direitos civis, o reino também está expandindo as liberdades econômicas, o que coloca esse país petroleiro na vanguarda do desenvolvimento urbano ecológico.
O país mais surpreendente da minha lista é o Japão, onde o crescimento está realmente passando por uma retomada. Depois de ter sido perseguido pela deflação durante anos, o Japão é também um dos raros países que ganham com o retorno da inflação –que agora passa um pouco dos 2% anuais. Sua cultura empresarial supostamente fraca vem aumentando as margens de lucro.
Os custos de mão de obra são agora mais baixos no Japão do que na China. O iene barato está impulsionando as exportações e poderia reavivar o vigor animal do mercado, à medida que o cancelamento das restrições da Covid, que demorou muito a acontecer, atraia de volta os visitantes.
Qualquer uma destas economias poderia, é claro, sofrer tropeços, e entrar em reversão por uma reviravolta em sua liderança, situação política ou por efeito da complacência. Ainda assim, esses países já estão os mercados de ações de melhor desempenho este ano. Em meio à preocupação bem fundamentada sobre as perspectivas globais, estamos vendo surgir um novo conjunto de vencedores.
Tradução de Paulo Migliacci
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