terça-feira, 6 de setembro de 2022

Deirdre Nansen McCloskey Desconhecimento da história conduz a erros políticos, FSP

 Dois meses atrás, falei a você nesta coluna que as pessoas têm ideias fixas sobre o que aconteceu na história —ideias que parecem determinar suas posições políticas.

Quando eu tinha 16 anos e era quase marxista, acreditava, porque o "Manifesto Comunista" o dizia, que "a história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da luta de classes". Isso inspira uma "hermenêutica da suspeição".

Procure a motivação secreta da luta de classes em tudo. Quando uma liberal verdadeira como eu diz que impor um teto aos aluguéis de apartamentos em São Paulo vai prejudicar as pessoas pobres, o marxista comenta: "Ahá, Deirdre! Te apanhei de novo defendendo os interesses dos proprietários ricos!". A ideia de que pessoas pobres possam não conseguir um apartamento, nenhum apartamento, não faz parte do pensamento do marxista. É como os freudianos procurando motivações sexuais secretas em tudo. "Ahá, José. Te pegamos de novo!".

Capa do livro "Manifesto Comunista", de Karl Marx e Friedrich Engels - Reprodução

Sou historiadora há quase tanto tempo quanto sou economista. Considerando que me tornei economista quando tinha cerca de 20 anos e que em 11 de setembro deste ano vou completar 80, é muito tempo para estudar o que as pessoas pensam que sabem que ocorreu na história. Cerca de nove em cada dez vezes, segundo minha estimativa, elas se equivocam —se equivocam tanto que as posições políticas que derivam de seus falsos conhecimentos históricos também são equivocadas.

Por exemplo, as pessoas pensam que algo chamado capitalismo "cresceu" porque as pessoas ficaram gananciosas. Mas o "capitalismo" sempre existiu, e as pessoas sempre foram gananciosas.

O grande sociólogo e historiador alemão Max Weber desancou esse erro popular um século atrás: "A noção de que a nossa (...) era seja caracterizada por um interesse econômico mais forte que outros períodos é infantil. O impulso da aquisição (...) não guarda por si só nenhuma relação com o capitalismo. (...) Ele existe e existiu entre garçons, médicos, cocheiros, artistas, prostitutas, funcionários públicos desonestos, soldados, nobres, cruzados, apostadores e mendigos".

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O capitalismo não cresceu, e as pessoas sempre foram gananciosas, do jeito que você é ganancioso quando procura um bom negócio.

A política? Bem, por exemplo, indígenas não precisam ser "desenvolvidos" à força. Nossa economia não nasceu do pecado. E os ciclos econômicos não são causados por capitalistas "gananciosos" na esquina da rua João Brícola com a 15 de Novembro.

Esteja avisado.

Tradução de Clara Allain


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