A pesquisa do Ipec mostrou uma leve oscilação dos entrevistados a favor da possibilidade de Lula liquidar a eleição no domingo. Coisa leve, mas esparramada: o petista subiu um ponto, dentro da margem de erro e a rejeição a Bolsonaro também cresceu um ponto, para 51%. Sempre dentro da margem de erro.
Pelo andar da carruagem, o debate desta quinta (29) na TV Globo, bem como a divulgação dos números do Datafolha, trarão fortes emoções. Enquanto os candidatos pouco podem fazer para mudar os números de uma pesquisa, um debate é coisa que depende deles.
Lula teve um desempenho bisonho no debate da TV Bandeirantes e decidiu não ir ao do SBT. Em nenhum dos dois Jair Bolsonaro teve um bom desempenho e é sempre bom lembrar que ele se elegeu em 2018 faltando a todos os debates.
Amanhã, o debate da Globo terá a mesma característica dos demais: os candidatos são dois (Lula e Bolsonaro) e os demais poderão se julgar vencedores se conseguirem jogar a decisão para o segundo turno. Ciro Gomes e Simone Tebet estarão lá por direito de conquista. Já o pitoresco padre Kelmon irá ao ar levado por uma excentricidade da legislação. Formalmente, ele é sacerdote da igreja ortodoxa do Peru. Na vida real, substitui o deputado Roberto Jefferson, considerado inelegível pela Justiça.
Se fosse possível filtrar o debate, fixando-se no desempenho de Bolsonaro e Lula, as coisas ficariam melhores, mas só até certo ponto. Isso porque Bolsonaro já mostrou que é ruim de debate e Lula, bom de palanque, é imprevisível nesse tipo de confronto. Falta a ambos, nos debates como na vida real, a serenidade de Fernando Henrique Cardoso.
Dois meses de campanha mostraram que as balas de prata de Bolsonaro eram de vidro e se quebraram. Em 2018 ele prevaleceu cavalgando as crises dos governos anteriores. Agora, o capitão cavalga o pangaré de sua administração. Como bem lembrou Eliane Cantanhêde, o general da reserva Augusto Heleno escreveu um artigo pedindo aos eleitores que não votem em Lula.
Ok, diria o capitão, mas em cerca de quatro mil palavras o general não se referiu ao governo a que serve desde 2019. Nem uma palavra. O artigo ecoa a retórica de Fernando Collor na eleição de 1989. Deu no que deu.
O conservadorismo brasileiro recolocou Lula na porta do palácio, porque atou-se ao atraso de forma inédita no período republicano. Mesmo no Império, só na década de 1840, o Regresso misturou-se ao estímulo ao contrabando de negros d'Africa. (Qualquer semelhança com os desmatamentos ilegais e as milícias amazônicas é mais que coincidência. A História não se repete, mas rima, ensinou Mark Twain).
Em 2018 o general fustigava os políticos do Centrão. Em 2022 convive com parte dele (a outra parte está calada ou já aderiu a Lula). Justificando-se, disse que "a evolução de opinião faz parte da vida do ser humano".
São muitos os conservadores que diante do dilema Lula x Bolsonaro ficaram com o ex-presidente. De esperança em 2018 com seu pitoresco Posto Ipiranga, Bolsonaro tornou-se pesadelo para boa parte dos conservadores em 2022.
Foi a qualidade da administração de Bolsonaro que levou o ex-ministro Joaquim Barbosa, o ferrabrás do mensalão, a gravar uma mensagem de apoio a Lula.
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