quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A polêmica cobertura que desfigurou a Praça do Patriarca, FSP

 Douglas Nascimento

SÃO PAULO

Quando se trata de nomenclaturas, praças e monumentos públicos, prefeitos e vereadores de São Paulo tem a peculiar característica de fazer coisas sem sentido ou malucas, que deixariam qualquer visitante perdido ou com um ataque de riso.

Já parou para pensar que a Praça Princesa Isabel não tem qualquer homenagem a ela, mas ao Duque de Caxias? Eu particularmente esperaria ver uma estátua da princesa ali, que aliás não é homenageada em canto algum da cidade com uma escultura.

Ou ainda a Estação Liberdade da linha azul do Metrô, estupidamente rebatizada para Japão-Liberdade, dando a falsa impressão que o nome "Liberdade" é relacionado aos imigrantes orientais, quando na verdade é ligado aos negros e a escravidão, ou seja, um verdadeiro apagamento da história negra.

E também temos a Praça do Patriarca que aberta em 1912, só teve uma homenagem ao patriarca da Independência do Brasil, 60 anos depois, com a inauguração de um monumento. De 1926 até meados da década de 1930 existia ali um lampadário projetado por Ramos de Azevedo.

fotografia antiga da praça do Patriarca
Praça do Patriarca na década de 1930, destaque no centro lampadário projetado por Ramos de Azevedo. - Divulgação

Contudo o que há de mais controverso ali atualmente é a horrorosa cobertura instalada em 2002 pela prefeitura de São Paulo, projetada por Paulo Mendes da Rocha.

Em 2003 este famoso arquiteto disse a esta mesma Folha que "arquiteto não fala de obra de colega". Felizmente eu não sou um e posso dizer que a estrutura desproporcional que ele projetou e a prefeitura construiu, destruiu uma das mais belas vistas que São Paulo tinha, onde do centro velho podia-se observar a esplanada do Theatro Municipal e seus arredores.

Cobertura da Praça do Patriarca
Monstrengo inaugurado em 2002 obstruiu a vista para o centro novo e de edifícios tombados. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Claro que se você for mais adiante, ao nível da Rua Líbero Badaró, até tem a vista que comento, mas não é a mesma coisa. A cobertura é um desastre sob diversos pontos de vista, entre eles a observação de algumas arquiteturas históricas da cidade, como a Igreja de Santo Antônio, e os vários edifícios tombados da mesma Praça do Patriarca, sem contar a da antiga sede da Matarazzo, atual sede do poder executivo municipal, que some por trás do "chapéu da Dona Marta" como muitos chamam a obra, parida a fórceps durante o mandato de Marta Suplicy como prefeita da capital.

Pouco depois de sua inauguração a obra que não agradou aos paulistanos e só empolgou arquitetos, seu autor e à prefeita da época, foi alvo de algumas tentativas de remoção, como durante a gestão do prefeito seguinte, José Serra, que, conta-se, odiava a estrutura. Seu sucessor, Gilberto Kassab também cogitou a remoção. Infelizmente não tiveram êxito.

Cobertura da Praça do Patriarca
Imóveis históricos da Praça do Patriarca tem a observação comprometida pela cobertura. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

A cobertura é um projeto de 1992 da Associação Viva o Centro, sendo pretensioso demais por querer ser maior do que a própria Praça do Patriarca representa, através de suas medidas exageradas que até hoje só serviram de abrigo noturno para mendigos, talvez essa a única utilidade nobre a que esta estrutura se presta.

A primeira cobertura da praça era discreta e bonita, com medidas proporcionais com a dimensão da área mas teve vida breve, sendo substituída nos últimos anos da década de 1950 por uma outra estrutura, essa sem graça ou delicadeza alguma, que por sua vez foi abaixo para dar lugar a esta atual.

vista de praça no centro de São Paulo
A primeira cobertura da entrada da Galeria Prestes Maia era pequena, bonita e cumpria seu papel. - Divulgação/São Paulo Antiga

Outra polêmica, esta um tanto desrespeitosa, foi que com a instalação desta nova cobertura o Monumento a José Bonifácio, originalmente instalado no centro da praça, foi jogado para um canto dela de frente para a Rua Direita, como que se o homenageado fosse menos importante, ou irrelevante.

Paulo Mendes da Rocha foi um dos grandes nomes da arquitetura brasileira, disso não tenho dúvida. Porém esta obra foi um grande equívoco que precisa ser revisto. Aliás, este ilustre arquiteto no final da vida deu de ombros à cidade que tantos de seus projetos acolheu, doando seu acervo a uma instituição além-mar, em Portugal, como se nós não fôssemos dignos de ter por aqui seu rico acervo, quando na verdade é a sua cobertura que não é digna da Praça do Patriarca.

Veja mais fotos da Praça do Patriarca e sua cobertura:

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