Uma exposição de arte na Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi censurada pelo comando da casa depois de pressão de deputados estaduais bolsonaristas.
A mostra "Deslocamento", do artista Carlos Barroso, aborda aspectos da religião por meio de instalações e montagens, e estava aberta ao público desde o último dia 5 no prédio do Legislativo mineiro, em Belo Horizonte, com previsão para continuar em cartaz até sexta, dia 23.
A exposição, porém, foi encerrada nesta segunda, dia 19, depois da publicação de vídeos na internet com reclamações sobre o trabalho. A assessoria de comunicação da assembleia não respondeu ao pedido de informação sobre de quem partiu a decisão de interromper a mostra.
O órgão tem como presidente o deputado estadual Agostinho Patrus, do PSD, que pretende virar conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Para isso, precisa ser aprovado em votação dos colegas no plenário da casa.
Apesar de a mostra ter sido instalada em um espaço cultural que fica ao lado de um corredor com grande circulação de deputados e assessores, nenhum dos parlamentares bolsonaristas que reclamaram do trabalho havia notado a exposição.
Somente após a noite da última sexta, dia 16, quando o grupo chamado Movimento de Valores publicou vídeo nas redes sociais se queixando da exposição, é que apoiadores do presidente reagiram.
Um deles, o parlamentar Carlos Henrique, do Republicanos, que é segundo-secretário da Mesa Diretora da casa, chegou a gravar um vídeo na assembleia no domingo, dia em que o prédio está fechado.
As imagens mostram o deputado comentando as obras de arte, sob sua ótica, e afirmando que o artista está vilipendiando objetos de culto. Carlos Henrique diz ainda que Carlos Barroso "é anticristo".
"O Estado é laico, de fato, mas o Estado não é ateu. Respeitamos o seu ateísmo, mas queremos que você respeite a nossa fé cristã. É um ataque ao cristianismo", afirmou o deputado. O parlamentar disse ainda que, como integrante da Mesa Diretora, pediria a retirada das peças de arte.
Outro deputado estadual bolsonarista que aproveitou o embalo foi Bruno Engler, do PL, que só nesta segunda-feira, dia 18, começou a publicar vídeos em que, próximo à exposição, já em fase de desmontagem, reclama da mostra.
O artista Carlos Barroso afirmou à reportagem que foi comunicado pelo diretor-geral da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Cristiano Felix, cargo subordinado à presidência, de que a exposição seria encerrada antes do tempo. A justificativa foi o risco de "invasão da casa", conforme o artista diz ter ouvido.
Carlos Barroso, que também é jornalista, afirmou nunca ter passado por situação semelhante. "Trabalho com arte há mais de 40 anos. Levei esta mesma exposição a Ouro Preto, com mais de 10 mil visitantes. Nunca houve reação dessa natureza", disse.
O artista atribui o comportamento dos deputados ao momento político vivido pelo país. "Existe hoje um ódio contra as artes, ódio contra a cultura. Não tenho nada contra a religião de ninguém. A arte tem o papel de desmistificar, de criar diálogo. Não é pornografia, não é sacrilégio."
Como elas estão em espaço público, as exposições apresentadas no espaço cultural da assembleia passam por concorrência.
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