Bolsonaro quer recriar o Ministério da Pesca. E o da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior. E o da Segurança Pública. Depois de já ter recriado o do Trabalho e Previdência, o das Comunicações.
Lula promete o Ministério da Pequena e Média Empresa. Também o dos Povos Originários. Voltar com o do Planejamento, o da Cultura – este aparece ainda na proposta de outros candidatos.
Se o status de ministério revela a prioridade de uma área no País, seguimos sem priorizar o que mais importa para o nosso futuro: há novas evidências científicas de que o crescimento econômico amanhã só virá com políticas públicas robustas para a infância hoje.
No Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisa mostra que crianças de famílias pobres que receberam transferências de renda apresentam maior atividade cerebral. O estudo envolveu centenas delas, separadas aleatoriamente em dois grupos. O grupo que não as recebeu mostrou resultados piores nos eletroencefalogramas.
As mudanças na atividade cerebral “exibem um padrão que tem sido associado ao desenvolvimento de habilidades cognitivas subsequentes”, concluem os pesquisadores de um grupo de universidades que inclui Columbia, NYU e Duke (Troller-Renfree, 2022).
A evidência ratifica outras que mostram que o combate à pobreza infantil é fundamental para o crescimento da produtividade. Déficits no desenvolvimento no início da vida prejudicam o desempenho posterior na escola e, depois, a inserção no mercado de trabalho.
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Já pesquisadores de instituições do governo americano se aproveitaram de um corte arbitrário que determina a elegibilidade ao recebimento de benefícios para investigar seus efeitos (Barr , 2022). Mais recursos no início da vida estariam ligados a melhor aprendizagem no futuro.
Se soa inusitado, a realidade é que um Ministério da Infância passou a existir em vários países ricos. Aqui, mais de 40% das crianças viviam na pobreza já antes da pandemia.
Novas mazelas estampam os jornais, como o abandono da educação (vide o resultado do Ideb) e a fome (lembre-se: o Auxílio Brasil, hoje, é indiferente à presença de crianças na família!). Da academia, uma área que se mostra promissora e ainda a ser absorvida em políticas públicas é a de parentalidade.
Se for para criar um, o Ministério da Infância poderia articular respostas para vários dos principais desafios nacionais e valorizar um grupo de cidadãos que, além da maior vulnerabilidade à pobreza, tem outro atributo: não vota em outubro.
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