Quanto mais opções, melhores nossas chances de fazer a escolha certa, não é mesmo? Não. O psicólogo Barry Schwartz, em "O Paradoxo da Escolha", mostra que nós temos um problema quando o supermercado da esquina oferece 285 variedades de biscoitos, 85 qualidades de suco, 95 opções de salgadinhos e 61 tipos de filtro solar. Não há a menor chance de estudarmos detalhadamente cada produto para descobrir de modo racional qual melhor supre nossas necessidades. Quanto tempo um consumidor pode dedicar à seção de bolachas?
Nossos cérebros "resolvem" o problema da multiplicação das opções simplesmente se agarrando ao viés cognitivo, isto é, ao atalho mental que estiver mais à mão. É mais provável que tomemos a decisão de compra baseados em coisas como reminiscências de infância, embalagem chamativa, marketing agressivo ou hábito do que nas qualidades intrínsecas do produto.
E a ala dos biscoitos fica no nível playground infantil quando comparada às seções de deputados federais e estaduais à disposição dos eleitores brasileiros, que votam num sistema de listas abertas. Paulistas, por exemplo, temos diante de nós 1.540 opções de deputado federal e 2.059 de estaduais. E, ao contrário dos itens de supermercado, eles não vêm com rótulo com informações técnicas confiáveis.
Assim, não surpreende que a maioria dos cidadãos postergue a decisão para os derradeiros instantes e, daqui a quatro anos, nem se lembre do nome escolhido. Também não surpreende que as pessoas, em vez de estudar a trajetória de cada candidato ou de uma amostra deles, recorra a atalhos como reminiscências, hábito, saliência nas propagandas, beleza, palpites de pastores, amigos etc.
Basicamente, nosso sistema eleitoral, em vez de encorajar o voto consciente, nos impõe uma tarefa cognitivamente impossível, que nos empurra para uma escolha enviesada. Já fui bem mais simpático às listas abertas do que sou hoje.
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