VATICANO e SÃO PAULO | AFP
O prazer sexual vem de Deus, e os cristãos devem aproveitá-lo. Assim como comida boa.
As declarações, que em outros tempos poderiam render até a morte na fogueira, foram dadas pelo papa Francisco e reveladas em um novo livro publicado nesta quarta-feira (9) na Itália.
“O prazer vem diretamente de Deus, não é católico, nem cristão, nem nada parecido, é simplesmente divino”, afirma o pontífice na obra.
“O prazer de comer serve para manter uma boa saúde, da mesma forma que o prazer sexual serve para embelezar o amor e garantir a continuidade da espécie”, diz Francisco. “O prazer de comer e o prazer sexual vêm de Deus.”
O posicionamento do papa deve fazer com que ele mais uma vez bata de frente com a ala mais conservadora da Igreja Católica, que considera as opiniões do argentino muito progressistas.
As afirmações fazem parte do novo livro do italiano Carlo Petrini, que reúne uma série de entrevistas com o pontífice. Na obra, o papa critica o que classifica como "moralidade abençoada", que seria uma rejeição da noção de prazer. Ele reconhece que a Igreja Católica já apoiou esta visão.
Para o papa, porém, essa é "uma interpretação errada da mensagem cristã" e já “causou enormes danos, ainda perceptíveis em alguns casos”. “A Igreja condenou os prazeres desumanos, grosseiros, vulgares, mas por outro lado sempre aceitou os prazeres humanos, sóbrios, morais", afirma Francisco.
Ainda não há previsão de quando o livro, "TerraFutura: Dialoghi con Papa Francesco sull'Ecologia Integrale" (TerraFutura: conversas com o papa Francisco sobre ecologia integral), saírá em português. O autor, Petrini, é também o criador do “slow food”, movimento que defende uma culinária de qualidade e se opõe ao fast food.
Desde que virou papa, em 2013, Francisco tem chamado a atenção por declarações sobre temas historicamente polêmicos dentro da Igreja Católica.
Em temas comportamentais, ele já disse, por exemplo, que divorciados não devem ser excluídos da igreja e levantou a possibilidade de eles receberem a comunhão.
O argentino também adotou uma postura mais conciliatória do que a de seus antecessores em relação à homossexualidade.
Embora a relação entre pessoas do mesmo sexo continue sendo vetada pela igreja, Francisco defendeu uma abordagem mais compreensiva a fiéis da comunidade LGBT.
"Cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito", escreveu em 2016 na exortação apostólica "Amoris laetitia" (a alegria do amor).
O papa também já se embrenhou em temas políticos, com críticas ao capitalismo —que em 2015 classificou como "uma ditadura sutil"— e ao aquecimento global, classificado como "um dos principais desafios para a humanidade".
Essas declarações têm insuflado uma espécie de guerra santa dentro do Vaticano, que opõe os conservadores aos reformistas —ala que em geral inclui o argentino.
O auge do conflito aconteceu em abril do ano passado, quando um grupo de acadêmicos católicos ultratradicionalistas escreveu uma carta acusando Francisco de heresia, um dos mais graves desvios no direito canônico da Igreja Católica.
O documento, que tinha como objetivo tirar o argentino do cargo, não chegou a ganhar apoio entre cardeais, mas escancarou a divisão interna na igreja.
A carta tinha como principal alvo exatamente o posicionamento do pontífice sobre questões sexuais.
Os acadêmicos argumentavam, por exemplo, que Fransciso “acredita que a atividade homossexual não é gravemente pecaminosa”, que ele não se opõe ao aborto e que aproximou o Vaticano de protestantes e muçulmanos.
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