Existe uma lógica, uma estratégia, que move a militância política nas redes sociais. Ela foi construída ao longo dos anos, pegando por um lado técnicas de influenciadores digitais, mas por outro a longa experiência da extrema-direita americana. Os militantes sempre surfam no algoritmo de cada rede. E a estratégia que empregam tem dois objetivos simultâneos. O primeiro é fortalecer as fileiras do grupo político que representam. Juntar gente. O segundo é fazer dinheiro no processo. A técnica, no Brasil, já era dominada pela extrema-direita. Agora, a extrema-esquerda começa a se mostrar, também ela, apta no jogo. O resultado final é a radicalização da política e o fim do diálogo. De início, nas redes. Quando o objetivo final dá certo, radicaliza-se também o mundo cá de fora.
Começa pelo algoritmo. É como uma onda, mesmo – quem vai para lá da arrebentação espera ver o mar se mexer, se posiciona, bate os braços no sentido da onda e, quando ela pega, é abrir o peito e se deixar levar. O algoritmo faz o mesmo com o militante: no Twitter, ele fica esperando o momento em que uma discussão boa é levantada. As melhores são aquelas que envolvem gente com muitos seguidores. Quando sai uma faísca, um atrito qualquer, o militante entra para fazer uma afirmação bastante provocativa. Daquelas que provocam indignação. Nessa hora, assim como o mar, o algoritmo leva.
O algoritmo leva para um número grande de pessoas porque seu fraco é indignação. Quanto mais gente fica indignada, para mais gente o algoritmo mostra o tuíte. Na aparência, o militante está engatado num debate com a pessoa de muitos seguidores. Quanto mais seguidores a pessoa tem, mais gente vê. Quanto mais calor a discussão provoca, mais gente vê. O importante não é o debate, o importante são aquelas pessoas todas “engajadas”, assistindo quais espectadores. Delas virá, por antipatia ao interlocutor ou simpatia com o militante, mais seguidores.
Uma boa polêmica vale muito.
A partir daí, a metáfora melhor é da pesca. De uma boa polêmica, não importa o absurdo que tenha sido dito, o militante sai com uns 200, 300 seguidores novos. Quanto maior o absurdo, na verdade, melhor será o resultado. Como a rede que passa em arrastão. E há requintes na técnica. O absurdo, quando ambíguo, é melhor. Facilita o serviço dos defensores. “Mas ele não defendeu aquilo! Você não percebeu a sutileza!”
A partir deste arrastão, é preciso levar aqueles novos seguidores para outras redes. O YouTube, por exemplo. Ou um site que venda uma assinatura. Algum ambiente no qual ou por propaganda, ou por venda de algo, seja possível fazer um ganho. Que sustente a causa, que se ponha no bolso, é menos importante.
O importante é que cada rede tem sua lógica – Facebook, Twitter, YouTube, Instagram, venda de produtos – e uma vai alimentando a outra. Umas são boas de fazer dinheiro, outras são boas de angariar gente, elas todas se complementam. E gente é angariada para as causas mais bizarras. Vale para uma teoria conspiratória, vale para uma filosofia política genocida que tenta se restabelecer. O jogo é o mesmo e há gente que o joga bem.
Muito bem.
Marshall McLuhan dizia que a mídia é a mensagem — mídia, aqui, é a plataforma por onde a informação trafega. Nas mídias sociais, a mensagem é simples: radicalize-se. Não promova o diálogo, porque não é isto que a onda do algoritmo carrega. É o embate. E o embate quer dizer mais gente o seguindo e mais dinheiro na conta. Como resistir? O mundo, afinal, é capitalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário