02 de setembro de 2020 | 05h00
A covid-19 está nos trazendo inúmeros ensinamentos ao longo desses seis meses, desde o primeiro caso diagnosticado no Brasil. Não poderia ser diferente no ramo do turismo, sensivelmente afetado do ponto de vista econômico, com um rombo de US$ 84,4 bilhões que impacta as companhias aéreas e agências de viagens, conforme a International Air Transport Association (Iata) em sua página na internet.
Desde o início, várias lições foram aprendidas, e o começo do retorno regado a protocolos rígidos de distanciamento social, higienização de mãos e uso de máscaras durante o voo será o diferencial para a volta do turismo presencial nos mais variados pontos do planeta.
Estamos cansados de turismo virtual: jantar no restaurante de boa pontuação apenas visualizando o cardápio e observando fotos, visitar museus com câmeras fantásticas e pontos muito bem posicionados pela instituição, porém sem a sensação de desfrutar de tudo que aquela obra de arte quer realmente dizer. Estamos na hora desta volta? Creio que sim, se mantidas as regras já convencionais e observada atentamente a normativa de entrada de cada nação.
A maioria das companhias aéreas internacionais vem realizando um trabalho interno e com os passageiros de boa aceitação. Adotando normas de entrada nos aviões, limpeza frequente das superfícies e uso de máscaras durante todo o voo, apesar do desconforto que possa gerar a todos nós. Por causa da situação e da posição do Brasil no cenário de casos de infecção, até o momento a entrada de turistas não tem sido aceita, com raríssimas exceções, como por exemplo Dubai e México.
Mesmo assim, se deve realizar o exame do RT-PCR previamente à viagem, com 72 horas de antecedência, para que seja mostrado na imigração. Creio que, quando tivermos uma abertura maior de localidades, essa determinação deva ainda ser mantida por um bom tempo pelas autoridades sanitárias dos países. Uma grande vantagem será a mensuração pelo exame de antígeno para covid-19 que seria feito na chegada, com o mesmo tipo de coleta pelo swab nasal e de orofaringe com resultado em até 30 minutos. Para isso, deverá haver uma estrutura de coleta em cada localidade e ser seguidos procedimentos de biossegurança. Ainda contaremos com o padrão ouro do RT-PCR levado pelos passageiros a bordo.
E durante o voo tenho risco? Pergunta difícil de responder. Uma questão é fato: os aviões apresentam os filtros Hepa (High Efficiency Particulate Air), que são utilizados em ambientes hospitalares e apresentam uma alta capacidade de filtração com renovação do ar, em média, a cada três minutos, retendo acima de 99% dos vírus e bactérias que estejam no ar. Com essa tecnologia, ficamos mais tranquilos em relação à segurança.
Se aliado a isso seguirmos as medidas preventivas já adotadas mundialmente, ficaremos com baixo de risco de infecção e, assim, daremos início ao retorno do turismo internacional. Se ainda pudéssemos dispor do intercalamento entre poltronas no avião, seria o melhor dos mundos. Como economicamente ficará inviável, porque alguém deverá pagar essa conta - no caso, o passageiro -, sugiro que durante o percurso seja retirada a máscara o mínimo possível e evite conversa durante o trajeto e o uso de meias elásticas compressivas, porque o caminhar na aeronave será bem restritivo.
Aos poucos vamos retornando o turismo interno em cada país. Esse sim aumentou sensivelmente, com a procura por distâncias menores para se fazer por automóvel ou até pequenos trechos aéreos. O reaquecimento do turismo local já tem sido evidente, mas ainda longe das épocas áureas pré-covid-19. Estamos já observando hotéis cheios, porém com capacidade reduzida pelas leis atuais. E assim seguem protocolos adequados para preservar a todos. As refeições na grande maioria dos hotéis por aqui estão sendo oferecidas no quarto sem custo ao turista, mitigando o risco de infecção. São recursos que são aplaudidos pelos clientes e que ecoam em todos os cantos, fazendo disso uma constante em nossa rede hoteleira.
E as viagens de navio? Aqui, mais um tempo para o retorno. Difícil manter milhares de pessoas a bordo, além da tripulação. Cria-se a aglomeração, que é um alto risco de infecção. Há a questão alimentar em sistemas de buffet enormes. Mesmo com todos protocolos seguidos, o risco me parece alto se comparado às outras formas de turismo. Mas vai chegar a volta dessa prática também. Estamos caminhando a passos largos, com risco de transmissão inferior a 1 (menos de uma pessoa transmitindo para outra pessoa) em boa parte das cidades brasileiras e a vacina trará maior tranquilidade à população mundial.
Vamos viajar, oxigenar a mente e rodar boa parte da economia mundial.
*Coordenador Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia
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