Não acredito em Deus, mas, se ele existisse, não faria mais do que objeções leves ao aborto. Quais as minhas evidências para afirmar isso? Vamos a elas.
Comecemos pelas Escrituras. O que diz a Bíblia sobre o aborto? Em Êxodo 21:22, salvo melhor juízo, Deus estabelece que o aborto é mera contravenção, não crime equiparável a assassinato: “Se alguns homens brigarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa de que aborte, não resultando, porém, outro dano, este será multado, conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e pagará segundo o arbítrio dos juízes; mas se resultar dano, então darás [como pena] vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”.
Antes que me contestem a tradução do verbo hebraico “yalad” (literalmente “pôr para fora”) por “abortar”, esclareço desde já que essa foi a opção (“facere abortivum”) dos tradutores da Vulgata, a versão latina do Antigo Testamento, oficial para os católicos.
Para quem não liga tanto para textos velhos e prefere buscar a moral no plano divino, a situação não é mais confortável. De 65% a 75% dos óvulos humanos que são fecundados não se fixam no útero, resultando em abortos precoces que a mulher nem percebe. Se Deus desenhou o sistema reprodutivo humano com tal característica, parece lícito concluir que ele não considera os embriões um recurso muito valioso, ou não desperdiçaria tantos. Não estamos falando de um ou outro zigoto perdido, mas de um contingente que tornaria a população humana entre duas e três vezes maior em todas as épocas.
Não penso que hospitais devam virar delegacias, como parece querer o governo Bolsonaro. O prejuízo para a saúde pública seria enorme, pois não apenas pessoas deixariam de procurar os serviços de saúde quando necessário como ainda mentiriam para os médicos, dificultando os diagnósticos.
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