quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Discrepância de salário para quem faz faculdade é oportunidade para incentivo à educação, FSP

 Érica Fraga

SÃO PAULO

discrepância entre o ganho salarial que um diploma de ensino superior oferece aos profissionais brasileiros em relação ao que ocorre em países com maior nível de renda representa atraso, mas também uma enorme oportunidade.

Existe uma explicação simples para o fato de que cursar uma universidade garanta, em média, uma remuneração 131% maior do que terminar apenas o ensino médio no Brasil, vantagem que é o dobro da verificada, por exemplo, nos Estados Unidos, conforme estudo da OCDE divulgado nesta terça-feira (8).

Sala de aula da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP)
Sala de aula da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP); estudo aponta que o Brasil é o país em que terminar o ensino superior garante a maior vantagem salarial - Gabriel Cabral / Folhapress

No Brasil, 21% da população entre 25 e 34 anos têm formação terciária (incluindo os que têm mestrado e doutorado), segundo o relatório divulgado do órgão. O percentual é menos da metade dos 50% registrados nos Estados Unidos.

A escassez de profissionais com ensino superior no Brasil é, portanto, a causa da grande valorização desses trabalhadores no mercado de trabalho do país.

A dificuldade das empresas em conseguir profissionais mais qualificados faz com que elas os remunerem muito bem em relação aos trabalhadores com menos anos de estudo.

À medida em que o diploma universitário deixa de ser um ativo tão raro em um país, ele vai perdendo seu valor relativo. Mas isso não é ruim. É, na verdade, um sinal de desenvolvimento.

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Quanto maior o nível educacional de uma população, mais produtiva ela tende a ser, o que eleva o potencial de crescimento da economia.

Já o contrário – como ocorre no Brasil – é uma evidência de atraso.

Mas, por trás desse atraso, há uma grande oportunidade.

Os 131% de ganho que um diploma universitário garante a quem o detém – em relação à conclusão do ensino médio – deveriam ser amplamente explicados e divulgados no país.

O mesmo deveria ocorrer com os 92,5% de retorno salarial extra que uma pós-graduação traz em relação ao ensino universitário no Brasil. Também em consequência do baixo número de profissionais que alcança essa formação no país, nosso percentual é o triplo da vantagem de 32% que um mestrado ou doutorado representa na média dos países da OCDE.

É preciso gritar para o jovem brasileiro essas vantagens, convencê-los de que essas são razões de sobra para não desistir, para ir o mais longe que puderem.

O país aumentou as oportunidades para que brasileiros invistam em educação. Mas é preciso fazer muito mais.

Como mostra um estudo feito pelo Banco Mundial, até a desinformação sobre o tema é gritante no Brasil.

Em uma pesquisa de campo feita para o relatório “Competências e Empregos: uma Agenda para a Juventude”, publicado em 2018, a instituição multilateral identificou que parte significativa dos brasileiros desconhece as vantagens de remuneração associadas a mais anos de estudo.

“Quando informados da renda média de um trabalhador com um certo nível educacional e perguntados quanto alguém com anos a mais de educação poderia ganhar naquele emprego, os brasileiros entrevistados pela pesquisa, em sua maioria, subestimaram o verdadeiro valor dos anos adicionais de escolaridade”, diz um trecho do estudo.

Quatro em cada dez entrevistados na época achavam que um trabalhador com ensino fundamental que ganhava, em média, R$ 1.226, tinha a mesma remuneração de um profissional com ensino médio completo.

Mas a vantagem salarial de quem termina o ciclo básico escolar é de 47% no Brasil, segundo os dados divulgados pela OCDE.

Embora o foco do relatório deste ano da organização tenha sido o ensino profissionalizante, o texto não traz dados sobre a diferença salarial entre quem escolhe essa rota e quem opta por cursar o ensino médio tradicional no Brasil.

Outras pesquisas já identificaram, no entanto, que a formação técnica também pode ser bastante vantajosa no país.

Esses dados também deveriam chegar aos jovens brasileiros, não só como incentivo para que não eles desistam da escola, mas para que façam escolhas bem embasadas sobre o seu futuro.

É claro que os problemas que alimentam a brutal evasão escolar no país são muitos e precisam ser, urgentemente, atacados.

Mas fazer com informações básicas cheguem à população é o mínimo que o país deveria conseguir.

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