sexta-feira, 29 de maio de 2020

Meirelles perde poder na crise, e Doria recria Secretaria do Planejamento, FSP

'Faz-tudo' de governos tucanos, Mauro Ricardo também assumirá área hoje com Rodrigo Garcia

SÃO PAULO

O governador João Doria (PSDB-SP) decidiu recriar a Secretaria do Planejamento do estado, que será ocupada por Mauro Ricardo Costa, que deixou a prefeitura da capital no mês passado.

Com a medida, será esvaziada a pasta de um dos antigos supersecretários do governo Doria, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Ao assumir, em 2019, as pastas da Fazenda e do Planejamento foram fundidas.

Presidente do Banco Central nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2002-10) e titular da Fazenda sob Michel Temer (MDB, 2016-18), Meirelles era a maior estrela daquilo que muitos viam como um ministério em teste pelo presidenciável Doria.

Henrique Meirelles durante coletiva sobre o combate ao coronavírus - 22.abr.2020/Governo do Estado de São Paulo

O prestígio do secretário foi considerado fundamental para as iniciativas de atração de investimentos para o estado em 2019, especialmente no exterior, mas a crise da Covid-19 mudou o panorama.

A emergência, na visão de auxiliares de Doria, encolheu a estatura política de Meirelles no secretariado. Em reuniões internas, o protagonismo decisório foi transferido a outros membros da equipe, e o plano de reabertura da economia ganhou como porta-voz a secretária Patrícia Ellen (Desenvolvimento Econômico).

Já pessoas mais próximas do ex-ministro dizem que a sobrecarga de trabalho requer mais auxílio, sem prejuízo à disposição dele em permanecer no governo.

Mauro Ricardo irá assumir também a área de gastos públicos hoje sob a batuta da Secretaria de Governo, ocupada pelo vice-governador Rodrigo Garcia (DEM).

O futuro secretário de Planejamento de São Paulo, Mauro Ricardo, ainda na prefeitura de SP
O futuro secretário de Planejamento de São Paulo, Mauro Ricardo, ainda na prefeitura de SP - Willian Moreira - 30.mar.2020/Futura Press/Folhapress


Neste caso, a medida visa desafogar Garcia, que é uma espécie de feitor do governo estadual, concentrando o dia-a-dia da administração —ele que coordenou o plano de corte de gastos durante a pandemia.

Além de cuidar de ordenamento de gastos, o vice-governador também precisa cuidar da articulação política estadual.

A função deveria ser feita por Gilberto Kassab na Casa Civil, mas as denúncias de caixa dois que atingiram o presidente do PSD o colocaram numa licença sem prazo para volta antes mesmo de assumir o cargo.

Aliados de Garcia apontam que o vice está sobrecarregado. Nas tradicionais reuniões de secretariado que ocorriam às sextas, antes da pandemia, ele era o único autorizado da portar um tablet, no qual acompanhava a execução de programas de todas as secretarias com índices de desempenho.

Mauro Ricardo é um velho conhecido de governos do PSDB. Foi trazido para a vida pública por José Serra, quando o tucano foi ministro do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso.

Em 1996, assumiu a Superintendência da Zona Franca de Manaus e ganhou fama de técnico implacável ao promover uma faxina nas práticas obscuras do órgão —acabou fritado pelo então governador Amazonino Mendes (PFL), que condicionou sua saída para apoiar a emenda da reeleição de FHC.

Visto com um "faz-tudo", depois passou por outros órgãos federais, como a Fundação Nacional de Saúde. Em 2013, foi chamado por antigo aliado dos tucanos, ACM Neto (DEM-BA), para ser secretário da Fazenda de Salvador.

Dois anos depois, desembarcou em Curitiba e ficou até 2018 como secretário da Fazenda do governo do Paraná sob Beto Richa (PSDB), onde aplicou um ajuste fiscal que incluiu aumentos de impostos, criticado por adversários.

Em novembro daquele ano, já fora do Paraná, integrou-se à equipe de Bruno Covas (PSDB), com o compromisso de ficar um ano à frente da Secretaria de Governo.

Acabou ficando até 22 de abril passado, assumindo agora a nova Secretaria de Planejamento e Gestão, que em princípio apenas aproveitará as estruturas existentes das áreas que incorporará.

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