domingo, 17 de maio de 2020

O QUE A FOLHA PENSA Texto não assinado que expressa a opinião da Folha Lanterna emergente, FSP

Má atuação do governo eleva o impacto econômico da pandemia sobre o Brasil

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Cédulas de dólar, que tem no Brasil maior alta do mundo - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Embora os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus atinjam todos os países, alguns se mostram mais afetados que outros. O Brasil, por suas fragilidades e escolhas erradas, aparece nas piores colocações entre os emergentes.
Neste 2020 cresceu a fuga de capital financeiro —saíram US$ 33,3 bilhões até 8 de maio. Desde o início da crise, houve disparada dos índices que medem o risco de crédito do governo. A alta do dólar ante o real no ano chega a 43%, a mais alta valorização no mundo.
Parte dessas perdas reflete fatores globais. De modo geral, a paralisia da atividade e a incerteza derrubaram os preços de commodities e provocaram uma fuga para a moeda norte-americana, como é usual em momentos de instabilidade.
Tais elementos se mostravam dominantes até meados de março. Desde então, contudo, os problemas domésticos parecem dirigir os preços dos ativos brasileiros. Foi sobretudo em abril e maio que o real perdeu valor de forma mais acentuada que outras moedas, e as taxas de juros de longo prazo no país dispararam.
Fica prejudicado, assim, qualquer benefício que se poderia obter com os cortes da taxa Selic, de 4,5% para 3% ao ano, decididos pelo Banco Central durante a turbulência.
O desconforto de investidores com o Brasil não se limita a mera especulação. Reflete insegurança em relação à condução da crise, comprometida pela conduta tresloucada do presidente Jair Bolsonaro e pela atuação hesitante do ministro Paulo Guedes, da Economia.
Ao minar o distanciamento social e confrontar governadores e outros Poderes, o chefe de Estado expôs o país ao risco de fracasso no combate à pandemia, o que pode levar a maior perda de vidas e uma recessão ainda mais profunda.
No meio tempo, proliferam no Executivo e no Congresso medidas e propostas desconexas, que elevam o custo do auxílio a famílias, empresas, estados e municípios, sem que se vislumbre uma estratégia coerente e articulada.
A dívida pública brasileira, que já era a mais alta entre os principais emergentes antes da pandemia, deverá superar a marca de 90% do Produto Interno Bruto. A combinação entre recessão e déficit recorde exigirá ajustes ainda mais profundos depois.
Não se trata apenas de controle de gastos públicos e recuperação da receita. Cumpre avançar na retomada do crescimento com reforma do Estado e incentivo à produtividade, sem o que o país não conseguirá promover o combate à pobreza e à desigualdade.
Tal agenda dependerá, obviamente, de ampla negociação e entendimento político. Sem lideranças e disposição para tanto, o pessimismo atual não será injustificado.

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