Corpo mole de instituições com atos antidemocráticos está na raiz de nossa decadência
A decisão de um ministro do STF de obrigar Abraham Weintraub a prestar depoimento à Polícia Federal e levantar indícios de seis delitos que podem levar o ministro da Educação à prisão precisa ser levada às últimas consequências.
É fundamental também que se vá a fundo nas apurações da PF e de demais autoridades no inquérito das fake news, instrumento de políticos e empresários bolsonaristas para atacar o STF e outras instituições.
Os “vagabundos” do Supremo ameaçados de prisão por Weintraub têm no episódio a grande chance de deixar o corpo mole e recomeçar a impor limites às afrontas que, de tão banalizadas, vão se tornando o normal no Brasil.
Como prova o comportamento escatológico e incivilizado do presidente e de ministros na infame reunião ministerial de abril, a degradação da paisagem institucional brasileira não é mais um processo. Ela já aconteceu.
Pelo que se vê ali, nos transformamos em um país medíocre, mal educado e autoritário —ridículo aos aos olhos do mundo. Uma anacrônica e populosa República de Bananas, em todos os sentidos, em pleno século 21.
Vai ser muito difícil sair disso sem que as forças civilizadas que ainda compõem as instituições façam um incessante contra-ataque para confrontar essa gente grosseira que se expande sem limites.
Uma investigação seguida de punição contra Weintraub e os propagadores das fake news talvez encoraje até segmentos acovardados do Poder Legislativo a se manifestarem mais abertamente contra tudo o que vem colocando o Brasil em um caminho sem volta.
Foi o Congresso quem abriu a porta desse inferno após deixar barato a estarrecedora homenagem de Jair Bolsonaro ao coronel Brilhante Ustra, um militar torturador, quando o agora presidente o saudou como "o pavor de Dilma Rousseff” na votação do impeachment de 2016.
É por Bolsonaro não ter sido cortado pela raiz que o Congresso tem de ouvir o deputado Eduardo defender o AI-5, o vereador Carlos dizer que a democracia não transformará o país e termos de aguentar impropérios de ministros e do presidente que só denigrem o Brasil, minando inclusive seu futuro econômico.
É preciso sempre ter em mente que a linguagem transforma a realidade —e ela é irremediavelmente violenta e antidemocrática nesse governo.
Não dá para continuar considerando isso normal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário