No Brasil, será importante ver quantas mortes poderiam ter sido evitadas com medidas precoces de isolamento
Um estudo publicado nos Estados Unidos nesta semana pela Universidade Columbia calcula o número de mortes que poderiam ter sido evitadas se as medidas de isolamento social tivessem sido decretadas uma semana antes do que foram no país. A tomada de decisões por governos em contexto de crise salva ou aumenta a perda de vidas. São, portanto, ações políticas da maior relevância. Os EUA, em toda a Segunda Guerra, perderam 200 mil vidas e, somente em três meses da pandemia do coronavírus, perderam 100 mil vidas. A decisão pela guerra implica, sobretudo, em perda de vidas. A decisão pelo não isolamento na crise da Covid-19, também. O estudo da Columbia diz que se o lockdown nos EUA tivesse ocorrido apenas uma semana antes, 36 mil mortes teriam sido evitadas.
No Brasil, lamentavelmente, passamos de 23.600 mortes. Projeções alertam que podemos vir a ser o primeiro país em número de mortes no mundo. Nossas desigualdades muito contribuem para isto, mas a falta de alinhamento entre as lideranças políticas com o presidente, que desestimula reiteradamente o isolamento social, é fator preponderante para o agravamento deste quadro. Pior do que nos EUA —que atrasaram, mas decidiram— a falta de decisão pelo isolamento no Brasil cobra com vidas.
A Argentina perdeu para a pandemia 450 vidas (10 mortes por milhão de habitantes) até o momento e tem 11 vezes menos mortes que o Brasil (112 mortes por milhão de habitantes). Decisões rápidas por isolamento social e alinhamento entre as diferentes esferas de governo reduziram perdas de vidas.
Portanto, para o bem e para o mal, há uma responsabilidade das lideranças políticas no maior ou menor número de mortes. Da mesma maneira que a democracia permite o reconhecimento de governos, deve também ser capaz de responsabilizar os dirigentes por erros graves de tomadas de decisão. Amadureceremos como sociedade e democracia à medida em que cobrarmos mais a responsabilidade de políticos em suas tomadas de decisão.
O enorme sofrimento que estamos vivenciando com a crise humanitária tem que contribuir para uma mudança de padrão na relação entre a sociedade e os políticos. Os líderes políticos são avaliados nas eleições e na checagem do apoio ao governo nas pesquisas de opinião. Mas, além disso, podem ser responsabilizados judicialmente pelo número de mortes que poderiam ser evitadas.
O aumento de mortes nos EUA, como mostra o estudo, poderá ensejar ações judiciais que responsabilizam o presidente da república. No Brasil, será importante compreendermos quantas mortes poderiam ter sido evitadas caso as medidas de isolamento social tivessem sido tomadas a tempo.
A lição que podemos aprender depois dessa trágica experiência que vivemos tem a ver com a importância da política, o papel do Estado, a melhoria da saúde, a necessidade de apoio aos mais vulneráveis e, também, com formas de responsabilizar líderes por tomadas de decisão erradas que custam vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário