O desmatamento na Amazônia que será divulgado em novembro deste ano, será muito maior que o de 2019. As projeções, com base nos dados dos últimos quatro anos, indicam que a taxa deverá ficar entre 12 mil km2 e 16 mil km2, configurando uma escalada de aumento de destruição da maior floresta tropical do planeta só comparável aos piores momentos de sua história.
Será a consolidação do fim do longo período de reduções na perda da cobertura florestal obtidas com a implantação Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, lançado em 2004.
Para chegar aos números acima foram analisados os dados computados pelo Deter, sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de monitoramento da floresta em tempo real. Eles mostram que no final de abril passado o desmatamento acumulado a partir de agosto de 2019, que comporá na taxa de 2020, chegou 5.666,10 km2. Esse número é 94,4% acima do registrado em abril 2019 e 83,7% acima da média dos últimos quatro anos para esse mês.
Se aplicarmos o percentual de correção da diferença a menor entre o identificado pelo Deter e o dado oficial calculado pelo Inpe por meio do Prodes (Programa de Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), cuja média é de 51,57% nos últimos quatro anos, é possível afirmar que o desmatamento ocorrido na região já é superior a 8.500 km2.
Essa taxa, excessivamente alta para esse período do ano, será fortemente pressionada por dois fatores. O primeiro é que o desmatamento mensal medido pelo Deter foi muito maior que o verificado em todos os meses do ano anterior e maior que a média para esses meses nos últimos quatro anos. Ou seja, está configurada uma tendência de alta que não se alterou mesmo durante ou após a intervenção das forças armadas, por meio da GLO (Garantia da Lei e da Ordem), ocorrida em 2019.
Nos meses de agosto, setembro e outubro daquele ano o desmatamento cresceu 224,4%, 94,62% e 5,63%, respectivamente, a despeito da presença dos mais de 7.000 soldados na região. Pior, com a saída deles o desmatamento continuou crescendo a taxas superiores a 100%, ou seja, dobrando a cada mês em relação ao mesmo mês do ano anterior até fevereiro de 2020, quando as chuvas se intensificaram.
O segundo fator, ainda mais preocupante, é que estamos entrando no período de estiagem na Amazônia, que vai até outubro, dependendo das variações climáticas de cada ano. Como ocorre desde que o Prodes foi implantado, em 1988, os próximos meses registrarão um aumento acelerado do desmatamento e das queimadas, facilitados pela redução das chuvas que atrapalham as operação no campo.
Para além do inaceitável desastre socioambiental e suas consequências para o agravamento das mudanças climáticas e os impactos na regularidade das chuvas essenciais para a economia e o abastecimento de milhões de pessoas, neste ano o aumento de fumaça das queimadas que vêm após o desmatamento provocará um dano adicional: prejudicará diretamente o atendimento às vítimas da Covid-19 que se multiplicam rapidamente pela região. Segundo pesquisa da Fiocruz, no auge das queimadas de 2019 as internação de crianças por problemas respiratórios na Amazônia dobrou, chegando a ocupar 12% dos leitos nos hospitais.
Em meio a essa tragédia em curso, nossos deputados federais se envolvem na discussão de um projeto de lei que pretende flexibilizar a regularização fundiária na Amazônia, criando, mesmo que negado por alguns ingênuos bem intencionados, uma corrida especulativa e uma nova onda de grilagem e violência na região.
A soma de irresponsabilidade, falta de planejamento e a opção por medidas midiáticas, como a nova GLO recém-decretada, nos levará para uma situação de descontrole jamais vista na Amazônia.
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